quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Lição de uma Dálmata!

Acompanhei o parto e o pós-parto de uma cadela Dálmata, além da toda a gestação. Foram 62 dias de transformação, primeiro foi no corpo que percebi, depois no comportamento. Acreditem, até os caninos adotam uma postura diferente quando procriam. Sei que muitos humanos não parecem nada racionais ou inteligentes, mesmo quando passam por uma profunda transformação como a gestação de um rebento, mas percebo que essa alteração ocorre na grande maioria dos animais, tanto os racionais como os irracionais.
Foi uma ninhada grande, nasceram dez filhotes, o problema é que a mãe tinha apenas sete peitos disponíveis, com o revezamento, ela quase não estava livre para se alimentar... Vi um animal definhar e um filhotinho morrer. É a vida! Como num passe de mágica a situação foi se acalmando e passados os primeiros 45 dias chegou a desmama para a venda dos filhotes. Que lindos estavam: gordinhos, espertos, alegres e brincalhões. Dos nove restou um, aquele que as crianças da casa, e os adultos também, mais se apegaram. Daí vem a parte interessante da estória. Esse cãozinho que ficara com a mãe só para si não quis saber de desmamar. Todos os dias ficava atrás da mãe, e ela não podia sentar um pouco para descansar que lá vinha ele já com os dentinhos afiados morder-lhe o peito a fim de sugar o que ainda havia de leite. Posso afirmar, que é o mais parrudo dos irmãos, ainda tenho contato com alguns e esse sortudo que pode desfrutar muito bem da companhia da mãe sabe fazê-lo muito bem.
O que vem me chamando a atenção é que essa mãe já está mostrando seu lado “nervoso”, não reluta em deixar claro para o pequeno filhote, sempre que ele vem com os seus dentinhos afiados, que já chega de leite materno com uma cara de quem já não agüenta mais a função. Sorte dela que pode reclamar sem ter uma multidão em volta para recriminá-la!!!
Nós mulheres, quando assumimos o lado materno acabamos por vezes enterrando ou mesmo deixando oculto outros lados que temos, tão interessante e importante quanto esse, mas é que a sociedade e a própria mãe acaba cobrando que se tenha uma postura maternal, muitas vezes, além do que se pode suportar ou oferecer. Antigamente, penso, era mais fácil ser mãe e mulher. Tudo estava muito bem definido, “cada macaco no seu galho”. Hoje, a mulher acumulou muitas atividades e responsabilidades. Além de dar conta da casa, filhos, marido, ser boa amante, tem também que ser a melhor profissional. E os homens? Ah, os homens!!! Não houve revolução melhor que essa. Os direitos iguais mas os deveres diferentes, MUITO diferentes. Muitos estão se tornando um bando de folgados, e ainda reclamam se a comida queima, se o filho não está pronto e se é ele quem deverá levar os pimpolhos na escola. Já tem mas é muito raro ver só pai em reunião de escola, esperando no balé ou no judô, participando de reuniões de pais. E ai daquela infeliz que roda a baiana, que já vem o velho clichê: “Não quiseram a igualdade??? Agora agüentem!”
Continuo afirmando: a educação é a única salvação que a humanidade tem. Enquanto não tivermos uma postura que favoreça as diferenças, que as respeite, mas que principalmente facilite a convivência, sem que ninguém seja lesado, onde o lema seja o de ganha-ganha, não poderemos ter escolhas sem que se gere culpa, medo ou revolta. Isso é responsabilidade de todo educador, mesmo que não seja professor, mas que atue como formador de opinião.
Aquela Dálmata que acabou de ser mãe já sabe chamar a atenção para isso, e cobrar o seu espaço sem inflar multidões, sem gerar revolta, sem lesar ninguém. Quando seremos capazes disso?

3 comentários:

Bruno Carvalho disse...

Ahahahahah, tem toda razão Fernandha! Nós, homens, estamos muito folgados mesmo. Ainda mais quando ficamos doentes, aguentamos bem menos o tranco que vocês.
Ótimo texto! Parabéns!
Grande abraço!

Rosana Agreli Melo disse...

Se aprendêssemos a deixar de lado as convenções sociais e deixássemos falar por vezes nosso coração (como fez a cachorrinha dálmata) seríamos bem mais felizes, apesar dos olhares de reprovação que enfrentaríamos. Bela crônica, Fernandha! Bjo.

Flavio Carvalho disse...

observar a natureza,
e aprender com ela...