quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Nada mais que tudo isso...

Vê-lo-ia chegar de súbito e seria por ele tocada com mãos de cera e cinzas. Não. Ele não chegaria senão nela mesma e não adentraria senão sua alma, e as mãos seriam ideais dormentes que só tocam sonhos. Estremecia. Estremecia de um amor doído e úmido que não podia caber em seu pequeníssimo mundo.
O livro permanecia aberto, e as letras frias continham o calor de mil humanidades. Mas seus olhos mal podiam decifrá-las, era na parede branca que ficavam retidos. Na parede e no amor despido e cru que guardava e cobria para que não o soubessem.
Seu amor era riso e era canto, mas também distância e contradição. E ela o queria em si e para si somente, com inteireza de alma e espírito. Queria-o jovem profeta que lhe desvendasse os sonhos e se fizesse um deles. Ah, como queria! Queria sê-lo e tê-lo e tornar-se sonho dele e seu.
Mas o livro... As páginas que se deviam passar e inertes ainda eram. Os olhos deviam conter o livro, o mundo dos outros e não o seu, porque o canto ainda tardava e o riso se ouvia ao longe e não se podia tocar senão com mãos de cera e cinzas.
O livro.
Mas ainda, e mais ainda, sentia o mesmo amor. E ainda mais o poderia amar se mais amor em si coubesse. Amor som.

7 comentários:

Ciro disse...

"O livro permanecia aberto, e as letras frias continham o calor de mil humanidades". Adorei essa parte! Essas coisas mexem com a gente.

Excelente, Srta Rosana apaixonada! Como sempre, cheia de jogos de palavras! Muito bom!

Bruno Carvalho disse...

Rosaninha, Rosaninha... como são ricos os seus textos! Mais uma vez, parabéns!

Anônimo disse...

Eta num sei se meu vucabulario pobre e vagabundo num acompanho ou entendeu completamente o texto, mas ficou lindo! Deu vontade de chora mesmo sem sabe porq!
Muito bacana de se lê, meu sonho é torna meus filhos inteligentes e capazes de escreve um texto tão bonitu assim.

Flavio Carvalho disse...

Caramba,
belo texto, deslizante,
sereno, profundo.

Felipe Carvalho disse...

Enquanto alguns banalizam o amor, vociferando-o como um mero "bom-dia", você o sublima e dignifica numa abordagem ao mesmo tempo leve e densa e também deliciosa de se ler!
Salve Rosana!

Fernandha Zechinatto disse...

Rosana adoro esse jogo de palavras, esse dizer sem nada falar!!! Parabéns!!! TExto belíssimo.

Sessyllya ayllysseS disse...

Vi uma espera insuportável do personagem, uma paciência ansiosa e aflitiva por algo (ou alguém) que não chega rápido o suficiente... E a relação com o livro parece essencial pra que sobreviva... Como sempre, muito bom!!! Parabéns!!!