Ursinho Kirsby: Uma criatura de valor

Alegrado por Ciro M. Costa

Kirsby era um urso azul muito feliz, alegre (até demais) e descontraído, que estava sempre com um sorriso estampado no rosto. Certo dia, avisou seus irmãos (o urso rosa Torpsky e o urso verde Jensky) que iria sair pelo mundo para levar alegria às pessoas.
- Pretendo mudar o mundo! – Ele disse.
Seus irmãos, como bem o conheciam, jamais duvidaram de suas palavras. E despediram-se com um grande e forte abraço.

Sempre cantarolando uma bela canção, Kirsby contagiava a todos pelo caminho em que passava. Era só os animais verem Kirsby, para já acompanharem sua música e começar a dançar. Parecia até um belo clipe de Walt Disney. Muito bonito mesmo. Quem via tal cena, tinha uma vontade de viver “a mais”.
Após um dia inteiro andando por uma bela estrada, Kirsby encontrou uma casa. Na verdade, não era somente uma casa. Era também um alambique.
À porta do alambique, estava sentado um velho idoso senhor de idade que pitava um cigarro de palha. Assim que viu Kirsby, ele deixou seu cigarro cair ao chão.
- Que diabos...? – Ele disse, assustado.
Kirsby, com um belo sorriso, aproximou-se do velho, jogou sua mochila no chão com cuidado, e disse:
- Olá bom amigo! Qual é o seu nome?
“Mas que merda é essa?”, pensou o velho. “Um urso azul falante? Eu nem tomei pinga hoje!? Será que é por causa do cheiro?”.
- Desculpe, mas o senhor é mudo? – Perguntou Kirsby.
- Não... não... bom... meu nome é Jáckerson.
- Prazer, Sr. Jáckerson. Meu nome é Kirsby. Será que pode me arrumar um pouco de água?
- Hum... água?? – Jáckerson ainda estava pasmo.
- Sim, água. O senhor sabe o que é água? Parece meio confuso.
- Eu... é claro que sei o que é água! Só não estou acostumado a ver uma coisa dessas todos os dias.
- O senhor não vê água todos os dias? Isso não é nada bom! Sabia que precisamos tomar pelo menos 2 litros de água diariamente?
- Não, não é isso! Bah, deixa pra lá! Isso já está esquisito demais!
- Então está bem. Se quiser, pode me dar dessa água que está nesse pote aí.
- Hahahahahha!! – Riu Jáckerson. – Seu urso fresco! Isso não é água! É pinga!
- Pinga? A mulher do pingo? Hahahahahahhahahahaha!!!
- Hein???
- Hihihi... desculpe, Sr. Jáckerson. É que gosto de levar alegria aos lugares onde vou, por isso faço essas piadas de momento. O senhor gostou?
- Bem... hã... é... “legalzinha”...
- Que bom. Escute, será que posso experimentar um pouco dessa tal pinga?
“Que ótimo! Um urso azul aparece no meu alambique, faz piadas sem-graças e me pede um copo de pinga. Será que estou no meio de algum desenho animado?”.
- Tudo bem. – E Jáckerson serviu a Kirsby um copo de pinga.
Kirsby ergueu o copo e começou a fazer um discurso:
- Veja como é a vida, caro Sr. Jáckerson. Eis aqui um copo de água. Água ardente. Aguardente. Hahahahahhahaha!!! Desculpe, foi só mais uma piada de momento. Como eu ia dizendo, eis aqui a pinga, um dos instrumentos de felicidade mais baratos que existe. Em qualquer bar de esquina você pode encontrá-la por apenas cinqüenta centavos. Muitos dependem dessa “felicidade” pra continuar vivendo, ou pelo menos pensam que precisam. Isso prova, caro Jáckerson, que a felicidade pode sim, ser muito barata, mas que as pessoas sempre procuram no lugar errado. Eu, Kirsby, quero levar felicidade de graça a todos os povos!! E tenho dito! – Dito isso, Kirsby virou o copo de uma vez.
“Minha nossa! A sociedade protetora dos animais não vai gostar disso. Se é que esse urso azul é mesmo um animal!”, pensou Jáckerson novamente.
- Bom, não é nenhuma água, mas já serviu! – Disse Kirsby que, mesmo tendo virado aquele copo de pinga, sequer teve seus olhos lacrimejados. – Quanto lhe devo, bom amigo?
- Er... hum... não deve nada! É por conta da casa!
- Que ótimo! Então, diga à casa, seja lá quem for, que agradeço ela ter pago minha conta. Okey?
- Hein?
- Bom, agora tenho que ir. Fique com os Deuses da Alegria! Um grande abraço! – E Kirsby sumiu no horizonte.
Jáckerson ficou ali ainda algumas horas, sentado, refletindo sobre aquilo tudo. Depois, saiu contando para as pessoas o que ocorrera. As pessoas, é claro, não acreditaram naquela história e chamaram Jáckerson de pirado. Mas Jáckerson insistiu tanto, que as pessoas tiveram que parar de comprar pingas de seu alambique. Achavam que tal bebida estava causando alucinações.
Devido aos prejuízos, Jáckerson vendeu o alambique e foi para cidade trabalhar como vendedor de lâmpadas. Hoje, Jáckerson ajuda a iluminar centenas de lares por aí.
Quanto à Kirsby, este tomou rumo ignorado como sempre. Para onde ele foi? Eu não sei, mas fiquem espertos. A qualquer hora, ele pode aparecer aí, na sua casa ou no seu local de trabalho. Ele vai mudar sua vida, e você nem perceberá como.