sexta-feira, 13 de julho de 2007

Crônicas da cripta - “Uma estranha volta no quarteirão”

Psicografado por Ciro M. Costa



Capa do álbum "Them" do King Diamond


Olá, leitores vivos. Sou eu de novo, Clarilda. Sou aquele espírito que está preso na internet e que não tem mais nada pra fazer, a não ser contar histórias um tanto sinistras...
Todos os dias, Jeferssina Bólifers fazia uma caminhada em volta do quarteirão. Não era uma distância muito grande, mas era o tipo de coisa que fazia bem a ela. Jeferssina tinha muito bom gosto em vestir sua roupa, seus tênis brancos e sair pelo quarteirão andando e cumprimentando seus vizinhos queridos. Era uma dessas coisas simples que fazem vocês, pessoas vivas, ficarem felizes facilmente. E ela não falhava um dia! Era sempre a mesma coisa! A mesma caminhada, o mesmo caminho e as mesmas pessoas sorridentes. Tinha até uma casa com um cachorro, que sempre latia com alegria quando a via.
Bem, Jeferssina Bólifers fez tanto aquilo, que um dia se cansou. Mas ao mesmo tempo em que se cansou, não queria parar com aquele hábito. Então, ela disse pra si mesma:
- Que diabos! Todos os dias faço esse mesmo caminho em volta do quarteirão. Mas amanhã vou fazer algo diferente. Vou dar a mesma volta, só que ao contrário. Ao invés de dar a volta pelo lado direito, vou dar a volta pelo lado esquerdo. – e foi o que ela fez.
Saiu de sua casa naquela tarde seguinte, com a mesma roupa de sempre. Estava feliz de saber que poderia continuar com aquele hábito, sem enjoar, pois agora veria as coisas de um ângulo diferente. E devo dizer a vocês, leitores, que as coisas realmente ficaram sob um ângulo muito diferente...
Pra começar, as mesmas pessoas que cumprimentavam Jeferssina, nem olharam na sua cara. Jeferssina achou estranho e as gritou, mas elas olharam como se nunca a tivessem visto. “Que diabos...?”, ela pensou. Passou em frente à casa onde havia o cachorro, e este latiu. No entanto, ele não estava latindo como de costume. Desta vez, ele parecia querer comer Jeferssina viva!
- Que diabos...? – ela disse.
E não foi só isso. Ao passar pela casa de uma velha amiga que morava sozinha, Jeferssina viu várias crianças brincando de pique-e-pega na garagem.
- Que diabos...? – ela disse novamente. – Minha amiga não tem filhos e nunca gostou de crianças!? Por que deixaria esses moleques brincarem aí?
Depois da estranha volta dada no quarteirão, Jeferssina chegou à sua casa. “Que diabos”, ela pensou, “Melhor ir descansar depois dessa estranha volta! Acho que estou precisando mesmo é caçar serviço pra mim!”. Um pensamento interessante de Jeferssina, e ao mesmo um tanto tardio, uma vez que já percebemos desde o início do texto que ela precisava mesmo era de um emprego ao invés de ficar dando voltas no quarteirão. Como existe gente à toa no mundo, não é mesmo?
Mas vamos voltar à história, pois as coisas estranhas ainda não haviam terminado. Ao tentar entrar em casa, Jeferssina percebeu que a chave da porta não estava sequer girando na fechadura.
- Que diabos...?
Jeferssina então ouviu um barulho vindo da cozinha. Ela achou estranho, pois morava sozinha.
- Que diabos...? Quem está aí dentro???
Então o barulho na cozinha parou. Alguém veio até a porta e a abriu.
- Pois não? – perguntou-lhe um homem grande e negro.
- Mas que diabos?? Um ladrão!!! – gritou Jeferssina, furiosa.
- Ei!! Eu não sou ladrão!!!
- Ah não? E o que está fazendo na minha casa, seu cretino??
- Como assim? Sua casa? Essa é minha casa!
- Não, seu negro bandido!!! Saia daí!!! Vamos!! Socorro!!! Ladrão!! Ladrão!!!
- Você é maluca!! – disse o homem, e fechou a porta.
Jeferssina saiu correndo, procurando por ajuda. Pensou em chamar a polícia, mas não tinha cartão telefônico pra ligar do orelhão e nem possuía aparelho celular. Então ela bateu à casa de uma vizinha.
Bom, é preciso dizer que de nada isso adiantou. Isso, porque os vizinhos de Jeferssina já não eram mais os mesmos. Algumas casas possuíam novos moradores e algumas pessoas simplesmente não a conheciam.
- Mas que diabos...? O que está havendo aqui? Como as coisas podem ter mudado em tão pouco tempo? Como é que...
Foi então que ela percebeu. Era a volta no quarteirão. Assim que resolveu dar uma volta contrária no quarteirão, Jeferssina, de alguma forma, mudou a sua vida.
- Mas que diabos! Vou agorinha mesmo desfazer isso! Vou voltar pelo mesmo caminho de onde eu vim!
Essa era mesmo uma solução bem óbvia. Jeferssina Bólifers só tinha que voltar pelo lado direito, e tudo poderia estar consertado. Não se sabe como as coisas podiam ter ficado daquele jeito (como muitos mistérios na vida não podem ser desvendados), mas sabia que, de alguma forma, tudo poderia voltar ao normal. Então, ela começou a andar de volta.
No entanto (já perceberam que esse “no entanto” costuma foder com alguns personagens?), ao chegar no meio do caminho, Jeferssina foi abordada por policiais. E foi presa, condenada a vários anos de prisão, acusada de preconceito racial. Sim, pois ela havia sido preconceituosa com o negro, chamando-o de “negro bandido” e ele havia chamado a polícia. E é preciso dizer que ele estava certo, pois preconceito racial é algo que merece uma punição muito severa!
Bem, depois de mais de 20 anos presa, Jeferssina foi finalmente libertada. E a primeira coisa que queria fazer, era dar a tal volta no quarteirão. Desta vez, ela conseguiu.
No entanto (olha ele aí de novo!), como havia ficado vários anos desaparecida do “seu mundo”, Jeferssina havia sido dada como morta, e sua casa agora estava vendida. Agora, ela não possuía mais nada. Nem casa, nem amigos, pois estes já haviam se esquecido dela. Revoltada, Jeferssina saiu quebrando tudo e batendo em todos que via pela frente, crente de que havia participado de alguma pegadinha, e foi presa novamente.
Por hoje é só, leitores malditos. Caminho errado? Cenário modificado? Um trote de amigos? Ou mais uma história idiota? Jamais saberão. Só saberão que sou Clarilda, e de outra coisa também: sair da rotina, às vezes pode ser perigoso...

7 comentários:

Anônimo disse...

Ciro, ADOREI!!!!!!!!
Sabe que pra mim, esse foi um dos melhores textos seu que eu já li, parabéns!
Karinne Gondim

Carlos Filho disse...

Num curti muito essa Clarilda de hoje, não!
Sei lá, meio repetitiva, meio blasé...hahahahahahahaahahaha
(má és uma bichoooona!)

Anônimo disse...

boaaa.....
parabens ai cirooo
bem pensada....
falow...

Sessyllya ayllysseS disse...

Uahuahauhauhauhah!!!!!

Ah, nem... Eu aqui tentando me convencer a mim mesma de que a minha própria pessoa precisa sair da rotina e você me vem com uma dessas... Desse jeito vou ter que me manter como senpre estive - ou seja, somente tentando me convencer... Que pena, não?!

Pobre Jeffersina, teve aquilo que costumamos chamar de "idéia de girico"... A intenção foi boa, mas às vezes isso não basta...

Muito boa, Cirão!!! Surpreendente, como sempre!!!

Bjos!!!

Pietro disse...

Muito bom Ciro, simplesmente surpreendente

Mas que diabos, é lógigo que o cachorro era outro, só que bem parecido com o anterior, que as pessoas estavam estressadas demais para falar com ela, que duas vizinhas dela haviam se mudado e que o homem negro era simplesmente um morador do bairro e ela entrou na casa errada.

Não é tão aterrorizante.

Felipe Carvalho disse...

Hahahahahahahahaha

Confesso que estava com saudades dessas crônicas da cripta!! São sempre EXCELENTES! Esse texto foi demais! Não pude deixar de pensar na minha avó Margô à medida que ia lendo (as caminhadas, os cachorros, as pessoas de sempre...); pensei até que fosse uma homenagem! hehehe Independente disso, o texto ficou muito "real" e bem humorado!

"Eu aqui tentando me convencer a mim mesma de que a minha própria pessoa precisa sair da rotina e você me vem com uma dessas..." [2 votos] hahahahahahahaha

PARABÉNS, CAMPEÃO!!

Anônimo disse...

Esse povo tá muito é dos falsos!
Cirão, ouça minha voz, aqui ó...Ciro, não, NÃO CARAAAA!
Já era!