sexta-feira, 2 de março de 2007

O último texto de Paul Marques

Apenas repassado por Ciro M. Costa

Sabe, não tenho medo nenhum de ter tomado essa decisão. Quando chegar ao final desse texto, você vai se perguntar se estou falando mesmo a verdade. Não tem problema. Ninguém precisa acreditar em mim. Aliás, depois de tudo, é um pouco tarde para as pessoas acreditarem em qualquer coisa que eu diga. Elas vão continuar com a vida delas. E você, depois que ler isso, também vai continuar com a sua. O mesmo não se pode dizer de mim. Mas, como eu disse, não tem o menor problema. Já estou velho demais para me preocupar.
Durante toda a minha vida, fui escritor. Desde que era pequeno, pegava papéis enrolados em pães e fazia algumas histórias. Bem infantis, se você as ler hoje. Mas para mim, não eram. Para mim, eram apenas o começo. Depois disso, vieram os trabalhos escolares e Redação era o meu forte. Não devo me gabar disso, mas era realmente bom naquilo. E não porque fosse diferente ou mais esforçado que os outros. Não que fosse um “nerd”, um “caxião” (mesmo porque sempre fui péssimo em Matemática e Física)... mas eu gostava de escrever. E isso era o bastante.
Foi o bastante para eu continuar me aperfeiçoando, escrevendo contos mais adultos, crônicas de diversos estilos... tudo o que eu pudesse escrever. Claro, que uma boa leitura era bastante importante nesse processo. Tive ajuda de Machado de Assis, Paulo Coelho, Érico Veríssimo, Stephen King, Sir Arthur Conan Doyle, dentre tantos outros que estou velho demais pra me lembrar. E foi também o bastante para eu me tornar um dos escritores mais vendidos desse país. Diversos de meus livros foram campeões de venda: A Escada do Príncipe Negro, O Meteoro, A Viagem de Clarilda, A Maldição de Kendorsville, O Pesadelo de Joyshi, etc, etc e etc.
Não me perguntem porque esses livros fizeram tanto sucesso. Eu jamais saberia responder. O que sei, é que sempre vi a criação de tantos personagens e histórias como algo extremamente necessário. Acredito que o escritor precise colocar tudo o que lhe vêm à cabeça em um pedaço de papel (ou no computador, se você preferir). É como as pessoas que conversam demais. Elas necessitam colocar tudo o que sabem pra fora. No entanto, o escritor precisa colocar pra fora e mais. Pra mim, o escritor sempre foi um conjunto de personalidades querendo se libertar. Uma hora ele é um assassino, outra ele é um fantasma, outra é um samurai, outra ele é uma prostituta... e isso tudo precisa ser liberto o quanto antes, ou o escritor pode se tornar um deles. Da pior maneira.
É por isso que eu sempre transcrevi tudo o que sentia. Qualquer história que desejasse ser escrita, eu escrevi. Qualquer personagem que clamou dentro de mim para ser criado, eu criei. Qualquer coisa que você pensar! Até sonhos foram transcritos! Sei que parece exagero, mas eu o fiz. Foi preciso.
Mas sabe, tudo tem um limite. Nada é infinito. Como já repeti antes, estou velho demais e já escrevi tudo o que tinha para ser escrito. Meu agente não quis saber. Ele nunca quer. Nos últimos dias, eu até tentei. Li alguns livros, assisti a alguns programas de TV... mas não adiantou. A fonte de inspirações é limitada.
- Já tenho muitos livros escritos. – eu disse. – Posso viver meus últimos dias com a venda deles.
- Não! – ele disse. - Seus leitores querem mais! Todos esperam um trabalho seu a mais de um ano! Bons escritores nunca param, Paul!
Mas ele tinha muito que aprender sobre ser escritor.
Os dias se passaram. A pressão sobre mim aumentou. Pensei em fugir de tudo e de todos por um tempo, mas sabia que no final ia acabar voltando e tudo voltaria a ser como era. E então pensei: “mas tudo sempre volta a ser como era!”. E percebi que estava cansado. Se já tinha escrito sobre tudo possível e meus leitores queriam mais, bem, eu podia matar dois coelhos com uma só cajadada. E pra isso, só havia uma maneira...
Sentei-me de frente o computador e comecei a escrever “O Último Texto de Paul Marques”. Era a última coisa possível a se fazer. Aliás, era a única que restava a se fazer: transcrever eu mesmo para um texto.
“E que texto é esse?”, você me pergunta. Bem, o texto é este que você está lendo. É minha última obra. Meu último suspiro. De mim, nada mais pode se libertar, a não ser eu mesmo.
E é por isso que quero lhe dizer uma coisa: quando terminar de ler essa linha, saiba que deixei de existir nesse mundo no exato momento em que coloquei o ponto final.

10 comentários:

Anônimo disse...

Ei, esse texto não foi engraçado.

Felipe Carvalho disse...

Carácoles!!! Que texto mais louco, Ciro! Aliás, o texto em si não tem nada de louco! A "loucura" está em saber que foi VOCÊ quem o escreveu! E como o fez BEM!!!

Para quem estava acostumado com fábulas e diálogos "inusitadíssimos", esse texto veio como um tapa na cara!

Sim, Ciro também é sério! E versátil, acima de qualquer coisa!

Gostei muito desse "outro lado" de Ciro! Quero mais textos assim, reflexivos, dramáticos e... piegas, pq não, hein? hehehehe

Estou surpreso, garoto!! Meus sinceros Parabéns!!!

P.S.: Queria ter sido o primeiro a comentar, mas o chato do Miguel não me deixou!! Magoei!

Anônimo disse...

Tá serinho agora, bem?

Sessyllya ayllysseS disse...

Uau!!! Fiquei sem fôlego... Eu já sabia que o Grande e MELHOR Ciro era versátil, mas a profundidade desse texto me surpreendeu!!! Pelo jeito, sua fonte de "inspiração" ainda está bem cheia, né?!
Bjão!!!

Carlos Filho disse...

Ao contrario do "amigo" Paul, sua fonte inspiradora(tanto pra vc, quanto pra nós, reles mortais) não secará jamais, meu caro!
Esse seu texto deu uma nova experiência, com maestria você mostrou que Ciro, veio pra arrebentar tudo, de qualquer forma. Escreve de e manda de tudo. É Poema, crônica, Comentário jornalístico, Charges...etc, etc. Parabéns cara, de coração! Gostei pacas desse texto, e ainda fico me perguntando, será que era Paul ou Ciro? Pois tenho medo, vai que sua fonte tá secando já!? hehehehe
Ou então, vai que vc morreu depois do ponto final! (anulado) hahaha

Abraço, cara!

Ps: QUE VENHA MAIS FERIADOS NA SEXTA! hahahahahahahaha

Flavio Carvalho disse...

A maldição de Kendorsville!?

hahahahah,

O pesadelo de Josh!?

muito massa cara,

deveras legal,

adorei,

Anônimo disse...

roda, roda, roda...

Anônimo disse...

muito bom!

eu preciso te criticar mais, tem dado resultado.

vc tem se aprimorado a cada dia e progressivamente.

e de pensar que vc faz pouco quanto te digo que vc tem que mandar essas coisas para um editor

Anônimo disse...

todo mundo tem seu dia de Jim Carey em "o show de truman"

nunca uma pessoa só sabe fazer graça e palhaçadas, as vezes pode ser sério

Bruno Carvalho disse...

Como eu já sabia!!
O tipo de escritor que pode escrever de tudo, sem problema! Humor, drama, suspense.. enfim! Nada do que você escreveu aí me supreendeu cara!
De agora em diante, você só me surpreende se escrever algo bem ruim!!! E até agora, nada...
Excelente Cirão!! É uma pena que o livro dos ratinhos japoneses (Rantarú) não esteja na lista dos mais vendidos de Paul ahahahahahah! Ihhhhh, o cara aloprou! Ahahahahah!

Grande abraço!