Meus heróis não morreram de overdose

Trazido por Ciro M. Costa
Baseado nos escritos de Struvadan Di Danforguel

- ‘Bathroom’ significa ‘Banheiro do Batman’.
Foi com essa frase que eu percebi que finalmente recebera o grande sinal. Demorou, mas percebi.
3 dias antes. Eu havia sonhado que uma amiga havia se transformado em galinha, e que somente eu poderia destransformá-la. “Exorcizador de galinhas”, eles me chamavam. Eu a destransformei, e recebi um belo beijo de recompensa. Nada mal. Mas ela era casada.
2 dias antes. Acordei de manhã, 2 minutos antes do que costumava acordar. E com a música-tema dos Changeman martelando na minha cabeça.
1 dia antes. Estávamos assistindo o programa SuperNanny na TV, quando meu sobrinho adolescente me disse:
- Ei, tio! Essa Nanny deve ser boa de cama, hein?
E, naquele dia, eu ouvi a frase que você leu no começo. Definitivamente, havia chegado a hora.
Liguei para Geórgesson, e ele concordou comigo. Iríamos nos encontrar no local de sempre, à tardezinha. Fui até meu quarto e comecei a desmontar todas aquelas fitas de VHS que havia comprado por anos. Finalmente, elas teriam utilidade. Peguei também meus velhos discos de vinil, e fiz o que tinha de ser feito.
Encontrei-me com Geórgesson mais tarde. Assim que me viu naqueles trajes, ele perguntou:
- Então, Boston, qual será seu nome?
- Serei o Senhor Musical. E você?
- Serei o Cachaça Jack .
Fazia sentido. Geórgesson estava vestido com uma blusa jeans aberta, com uma camiseta branca por baixo. Segurava uma garrafa de vidro quebrada em uma mão (provavelmente seria uma de suas armas), e na outra uma garrafa cheia de pinga.
Quanto a mim, estava com vários cartuchos, cheios daquelas fitas magnéticas de VHS, e alguns lança-vinis que eu mesmo havia inventado. Pra esconder a identidade, apenas uma máscara preta, tipo Zorro (pra mim, um dos mais originais heróis da história).
- Então, faremos nossa primeira ronda hoje.
- É isso aí. – eu disse.
Geógesson ‘virou’ metade da garrafa de pinga, e fomos para a ronda. Fora uma noite tranqüila aquela. Mas as outras que vieram depois, compensaram tudo.

No começo, éramos apenas dois. O Cachaça Jack e eu. Depois vieram outros. Vigilante Público (uma espécie de ‘Batman do pobres’), Jance (um dos raros com poderes sobrenaturais), O Homem da Chuva (que usava uma capa de chuva e todo o seu arsenal ficava dentro do guarda-chuvas), Jandira Cell (única heroína da época, atirava celulares usados nos outros. Não durou muito tempo), Mister Paper (um cara que tentava rasgar os inimigos com papel. Morreu incendiado na primeira missão), Baricentro, Príamo, Guilhermino... éramos uma equipe e tanto.
Estávamos simplesmente cheios de toda essa violência que vocês vêem por aí. Não matávamos os bandidos, mas lhes dávamos uma bela de uma lição. Eles ficavam traumatizados. Muitos se redimiram. Outros estão presos até hoje. A polícia nos perseguiu por muito tempo, mas nunca nos pegaram. Os cidadãos sabiam que estávamos do lado deles, e sempre nos encobriram ou ajudaram. Era uma troca de favores.
Muitos bandidos também tentaram descobrir nossas identidades secretas, mas também, sem sucesso. O único que havia conseguido isso na época, fora Prexton (o Homem-Teclado), um dos nossos piores inimigos, que usava sucata de computadores para nos atingir. E falava também uma gíria insuportável de internet! Mas, graças a um contato com Jandira Cell, ele sofrera uma espécie de choque e se esqueceu de tudo. Pelo menos, é o que pensamos até hoje.
Mas, a equipe acabou em poucos anos. Hoje, cada um trabalha por conta própria, menos eu e Geórgesson, pois ainda somos a Equipe Útil. Ainda somos os mesmos, exceto por nossos trajes e armas, que mudaram com o tempo. Substituí os vinis por CDs, pois já estavam quase no fim. Mas ainda tenho muita fita magnética. Já parou para pensar em quantos metros de fita magnética tem em apenas uma fita de VHS? Pois é.
Geórgesson, como o Cachaça Jack, continua quase invencível com sua super-embriaguez. Tá certo que seus reflexos nunca são tão bons, mas, em compensação, ele não sente dores quando é atingido pelos inimigos. E seu bafo de pinga é de paralisar qualquer um.
Bem, agora preciso ir. Recebemos um chamado anônimo (através de nosso 0800) e precisamos ir atrás do Homem-História, um vilão que se acha muito esperto, mas que só ataca museus e bibliotecas, utilizando-se de conhecimentos de História. Ridículo. Onde esse mundo vai parar? Se bem que é divertido. E você, se possuir um material em casa que sirva de combate ao crime, e não tenha nada a perder nessa vida, entre em contato conosco.