Surto II

por Felipe Carvalho

Não havia alimento nenhum que matasse aquela fome. Não era de comida, era de vida! E precisava ser já! Antes que os medos antigos começassem a avizinhar-lhe, antes que a coragem recém-inventada tomasse forma de bicho. Era urgente ir direto ao essencial, ao miolo da coisa toda! Que ele deixasse de lado a impessoalidade e as metáforas, que falasse na primeira pessoa e por um instante esquecesse da prolixidade e dos rodeios, que soltasse os freios e refreasse o bom-senso, que calasse a preguiça impregnada de cinismo, que fosse livre, cru e a seco! E só nesse agora e por toda uma vida, ele tão somente o faria!

(...)

Vamos vaiar o presidente e a delegação estadunidense diante das Américas! Sem dúvidas que seria um alimento e tanto para o nosso compartimento de covardia, inveja e preguiça. Vamos nos envergonhar diante do mundo e no dia seguinte continuar fingindo que está tudo ótimo, já que de manifestações legítimas e heróicas deixamos de ser capazes há algumas décadas (por exemplo: nas urnas)... Ah, quanto ainda temos a aprender com nossos vizinhos paneleiros, tão próximos e quase sempre tão achincalhados pelo nosso recalque crônico. Não, não se trata de uma discussão político-partidária – tanto faria se fosse o Lula ou a Hebe Camargo – mas de uma questão humana, de auto-estima, bom-senso e vergonha na cara. Mas eu acho que é mais fácil emitir vaias do conforto da arquibancada e no dia seguinte tocar a vidinha como de costume, uma vez que não demonstramos nos sentir de fato participativos no (des)governo do representante maior da nossa “democracia”. Sem dúvidas, faz muito mais sentido acreditar que vaias alienadas e esporádicas farão a diferença. E quanto aos Estados Unidos, bem, eles não estão nem aí para isso tudo! Além do mais, estão carecas de saber que amanhã mesmo já estaremos comprando ingressos para a nova atração cinematográfica de Hollywood, baixando suas músicas e incorporando suas tendências diversas, mesmo que continuemos fingindo odiá-los (e a grande maioria sem sequer saber por quê). Aliás, quem conquistou mais medalhas no Pan, nós ou eles?

(...)

E por ela ser bonita, mas não ter consciência disso, ostentar uma baixa estima e ser tão “simplesinha”, ele perdeu o interesse! É, aquele perfil só poderia trazer sofrimento! E aí uns vêm e dizem que o mundo está cheio de gente arrogante e presunçosa e que é até bom que se encontrem pessoas inseguras, mal resolvidas e esquizóides. E ele até concordaria com a primeira parte do enunciado, mas daí a desejar para si essas pessoas, achar graça nelas e sentir vontades... Não! Aquilo era atraso de vida! Já bastava um na relação com traumas e neuras! Por que a moça não poderia ser bela, autoconfiante e gente boa? Por que a tendência para se extremar tudo sempre? Pôxa, se ela for bem-resolvida, a chance de dar tudo certo é muito maior! Paremos com esse romantismo trovadoresco e essa visão de sexo “frágil”. E daí se ela ganhar mais ou tomar as rédeas da casa? E daí se ela preferir ficar literalmente por cima?

(...)

Poucos artistas têm tantas baladas de sucesso como Elton John. Dia desses, em uma entrevista, Elton comentou que sempre acha que fará a canção perfeita, aquele hino 100% redondo e fenomenal, mas que esse momento nunca vem! E não vem mesmo, embora o autor de Nikita possa se aposentar quando bem quiser sem quaisquer preocupações quanto ao seu legado ou a um possível “esquecimento”. O fato é que nunca estamos saciados mesmo! E se nem o Elton John está satisfeito, eu é que não vou ficar quebrando a cabeça! Hahahahahahahahahaha

E já que é para ser polêmico (quem falou isso?), eu também acho que...