Roça dos diabos!!!

Invocado por Ciro M. Costa

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O Seu Zé Batoco adorava aquilo. Todas as tardes, quando terminava o serviço na roça, ele se sentava naquela velha cadeira na varanda e acendia seu cigarro de palha. Se deixassem, ele ficaria ali a vida toda, observando os animais fazerem suas animalices.
Porém, uma bela tarde, Zé Batoco viu se aproximar da varanda, algo que era muito mais do que um animal...
- Boa tarde! – esse 'boa tarde' quem disse foi o visitante, que tinha a pele vermelho-escura, uma cauda e dois chifres na cabeça.
- Tarde, sô! – e este é o Seu Zé, totalmente sem entender nada.
O visitante se aproximou um pouco mais e encarou Zé Batoco, como quem diz “não vai me convidar pra sentar?”.
- Senta aí, sô!
- Obrigado! O senhor que é o Zé Batoco, não é?
- Sô sim! E o sinhô? Qual sua graça?
- Será que não consegue adivinhar?
Zé Batoco deu novamente uma olhada em seu visitante. Pele estranha, cauda, chifres... só podia ser...
- Por acaso o sinhô tá de rolo com minhas vaca?
- Não!? Por que???
- Sei lá! Com esses chifre e essa cauda! De certo alguém fez coisa numa vaca minha e saiu ocê! Êêêê... essa mulecada!!!
- Não, não sou nada disso! Eu sou o capeta!
- Aah, ta! Ocê deve di sê primo do cumpade Dirceu.
- Quem??
- O Dirceu vive na zona lá na beira da estrada. Ocê é o CAPETA, e ele vive 'CAS' PUTA! Hahahahah! Intendeu? Boa, hein?
- Isso era pra rir, amigo?
- Uai, era sim! A gente aqui da roça é meio ‘zé graça’, sô. Mas ocê deve di sê da cidade. Lá tem essas festa à fantasia bacana. Cê tá fantasiado de minotauro, né?
- Minotauro não, companheiro! Já te falei! Eu sou o demo!
- ‘Demo’ é verbo, né?
- Como é???
- É, uai! Onti mesmo nóis ‘demo’ jeito nos rato aqui em casa. Hahahah! Discurpa aí de novo!
O diabo simplesmente não entendia como aquele homem ainda podia fazer piadas idiotas em sua presença. Ele era O DIABO! Tinha que ser temido!
- O senhor perdeu a noção do perigo?
- Uai, pur quê? O sinhô é pirigoso, é?
- Oras, mas é claro que sim! Eu sou o demônio, o capeta, o cramunhão, o anti-Cristo, o Lúcifer...
- Cê num é fiscal do Imposto de Renda tamém não, né?
- NÃO, SEU CRETINO!!! Eu não sou desse mundo!!!
- I o que cê tá fazendo na minha roça?
- Eu já cansei de influenciar as pessoas da cidade! Elas já estão fáceis demais! Já perdeu a graça! Agora estou por aí, tentando influenciar o pessoal da roça! Mas... mas vocês são bonzinhos demais! Ou são idiotas!
- Aaaah, tá! Ce veio infruenciá nóis! Ocê é o indicado do cumpade Zécarlos, né?
- Não, seu idiota! Eu...
- Cê pode começá as infruência hoje, ó! Toma essa enxadaVai infruenciando esses mato aí pra mim, que depois tem mais sirviço! Êêêê, Zécarlos! Isso é brincalhãããão...!
- Espere aí!!
Mas Seu Zé não quis mais escutar. Entrou na casa e deixou o diabo na varanda. Este, totalmente sem ação (e puto da vida), jogou a enxada no chão e virou fumaça. SCAPUFT! Desapareceu pra sempre.
Seu Zé, que observava da janela, pensou: “É assim que se lida com coisa ruim. É só dá sirviço pra eles, que eles sôme de vez!”.

Vozes:
Narrador: Bruno Carvalho
Demônio: Carlos Carvalho
Zé Batoco: Ciro M. Costa