Ouça a música "Lake of Tears":
De acordo com o ancião do vilarejo, aquele era o lugar. Claro, só podia ser. Um imenso lago cristalino atrás de imensas árvores e uma ilha bem no centro, onde uma bela dama derramava suas infinitas lágrimas. Não podia existir outro lugar assim. Sim, Matso Hatso havia encontrado o Lago de Lágrimas. Se tudo corresse conforme o planejado, a primeira parte de sua jornada estaria completa em breve.
O guerreiro embainhou sua espada e entrou no lago. Não se importou nenhum pouco de se molhar, afinal, era necessário para chegar até a dama na pequena ilha. Esta, ao perceber sua presença, talvez por timidez ou coincidência, parou de derramar suas lágrimas por um instante. Ficou a olhar Matso Hatso se aproximar.
E quando ele finalmente chegou à ilha, ela perguntou:
- É a primeira vez que recebo a visita de um guerreiro. Qual teu nome?
Matso ajoelhou-se e colocou sua espada no chão.
- Bela dama do lago, meu nome é Matso Hatso. – ele disse. – Me disseram que você pode me ajudar.
- Diga que tipo de ajuda quer e saberei se posso ou devo lhe ajudar.
- Necessito de lágrimas de tristeza.
- Bom, para isso não era preciso vir até aqui. Este lago está cheio de minhas lágrimas, e são todas de tristeza.
- E por que choras tanto?
- Choro por todas as maldades, crueldades, injustiças e finais infelizes que assolam o nosso mundo a todo o momento, guerreiro. Pode levar quanto quiser.
- Não é de suas lágrimas que necessito, bela dama.
- E que lágrimas precisa?
- Das minhas próprias.
- Eu não entendo...
- Vim de um lugar muito distante. Um lugar onde eu era rei, mas tal poder me foi tomado à força. Para voltar ao meu lugar e recuperar o que é meu, preciso voltar mais forte e mais sábio, a fim de derrotar meus inimigos. Para isso, me foi pedido por uma mestra que eu levasse 3 espécies de lágrimas: de tristeza, alegria e raiva. Todas derramadas por mim.
- Compreendo.
- Preciso de sua ajuda. Você é a pessoa mais triste de que falam. Talvez me faça chorar de tristeza. Assim, a primeira parte de minha tarefa estará concluída.
- Me diga, guerreiro... você nunca sente tristeza?
- Desconheço esse sentimento.
- O que você sente quando está em um funeral?
- Me sinto vivo apenas.
- E o que sente em casamentos?
- Me sinto livre.
- E quando vê um ser deficiente?
- Me sinto perfeito.
- E quando vê alguém cuja parte do corpo foi amputada?
- Me sinto completo.
- E quando vê alguém gravemente doente?
- Me sinto saudável.
- E quando vê uma injustiça sendo cometida por terceiros?
- Sinto que eu sou justo.
- Céus! Me diga, guerreiro, já viu alguém ser morto injustamente?
- Inúmeras vezes.
- E não sentiu tristeza?
- Não senti nada. Apenas matei quem matou injustamente.
A dama encarou Matso por alguns segundos, depois ficou de costas para ele.
- Eu não posso ajudá-lo. – ela disse. - Se te pediram para cumprir tal missão, é porque lhe é difícil derramar qualquer uma dessas lágrimas. É um desafio e tanto para você. Vi em seu olhar que não é do tipo que chora facilmente, seja por emoção, raiva ou tristeza. Sinto muito, mas eu não posso lhe oferecer sentimentos. Isso só depende de sua pessoa, e creio que ainda tem uma longa jornada pela frente.
- Se é assim, então não tenho mais o que fazer aqui.
Matso Hatso não demonstrou sinal de decepção ou qualquer outro sentimento. Apenas pegou sua espada, entrou no lago e foi embora.
A dama voltou a derramar suas lágrimas no lago. Desta vez, ela chorava por existirem pessoas como Matso Hatso.
.
.
.
* originalmente postada em 09/03/2007
6 comentários:
Bom, foi aqui que a saga de Matso Hatso começou. Na verdade, não é o primeiro capítulo, mas foi graças a "Lago de Lágrimas" que tive a idéia de transformar a coisa toda em uma saga.
Confesso que a música foi quem me inspirou essa história. Embora não saiba a letra dela, a idéia de um "Lake of Tears" (Lago de Lágrimas) me parecia bem interessante, e me remetia ao Japão antigo. E isso me levou aos mangás (desenhos japoneses) e coisas de samurais. Não sei explicar direito. Só sei que era para ser somente essa história, mas depois pensei: "Ei, isso daria uma bela saga. E se eu fizesse uma história mangá em forma de texto?".
E, quem sabe, mais pra frente, um livro?
cara seria uma otima ideia,realmente seria legal essa super saga tornar-se um livro e ta ai esse grande personagem na sua suposta e bem escrita primeira saga coisa boa cirao investe ai no japao antigo que disso vc entende muito bem japones hehehehe
ate mais abraço
ola ciro,
Não sabia desse seu lado poeta, vc tbm não conta.
Mas muito bom, msm, adorei seu texto.
bjs
muito bom ciro, confesso que essa saga é uma das suas melhores e uma das melhores que eu já li, e também confesso que eu não havia lido este texto ainda, está de parabéns.
Fantástico Cirão! Como o pessoal aí de cima já disse, uma de suas melhores! remonta também a cultura de seu povo!
Confesso que ao reler, não tinha percebido a poesia existente em algumas partes:
"- O que você sente quando está em um funeral?
- Me sinto vivo apenas.
- E o que sente em casamentos?
- Me sinto livre.
- E quando vê um ser deficiente?
- Me sinto perfeito."
E por aí vai...
Parabéns por ter postado esse texto, muito bom mesmo!
Abraços!
querido, o texto tá longuinho para o meu agora corridinho, então, deixo apenas meu beijo e vontade de ventos bons nesse começo de ano para vc
MM.
Postar um comentário