A atração relativa aos porcos – parte II de III

Por Bruno C. O. Carvalho

Talvez nem tudo na vida pareça obscuro demais. A bíblia, por exemplo, seria difícil disso ser uma mentira. E se for, com certeza, um escritor mais do que brilhante esteve por ali. Imaginem a história do Nazareno sendo toda inventada por uma pessoa só (que sejam várias). Imaginem um escritor inventando todas aquelas parábolas sobre a vida, que até hoje, são de fundamental importância para nós. Seria difícil imaginar alguém tão brilhante assim. E se essa pessoa realmente existiu, foi tão brilhante quanto o próprio Jesus Cristo. O que nos deixaria uma segunda dúvida: que o Enviado poderia ter vindo de outra forma. Resta-nos pensar que o Mundo gira fazendo questão de deixar enigmas, dúvidas, incertezas. É assim, será assim, e talvez deixe de ser perto do fim dos tempos. Do mundo, ou de nós mesmos?

Seria muito difícil Deus aparecer incorporado a um corpo qualquer. Tamanha a sua força e dimensão, faria mudanças sequer imaginadas por qualquer ser humano. Também é difícil para alguns demônios incorporarem. Tanto que há poucos relatos a respeito do assunto, pois demônios (não me refiro a espíritos maus) quando tomam tal iniciativa, não apreciam quebrar tudo o que se tem em volta tal qual fazem os demônios dos filmes. Eles não querem atenção, eles querem mudar o mundo a sua maneira.

O demônio que falava com o garoto não estava em nossa dimensão. A entidade sussurrava, calmamente e sem sair de seu lugar o que deveria dizer ao garoto através daquele corpo. Apenas o corpo de um pobre homem que passava por ali. Um corpo que andava e respirava, e em questão de horas, deixaria de existir. Para isso, era preciso bastante poder. Qualquer coisa além de tal processo, poderia causar sérios problemas ao mundo.

E após esse distinto encontro, tomaram destinos opostos. O garoto para casa, o demônio para o mundo. Para o garoto, achar uma pedra daquelas era como achar uma enorme quantia em dinheiro. Quando isso acontece, parte de nós procura saber quem poderia ser o verdadeiro dono. Já a outra parte imagina o que isso mudaria em nossas vidas. Infelizmente, é raro encontrarmos dinheiro, muito menos dinheiro que não nos dá a idéia de quem seja o dono. O que nos faria dormir tranqüilos e felizes com o lucro inesperado. Arrisco dizer que nesses casos sempre há uma pista, uma pista que nos leva a fazer a coisa certa. Por mais estranho que pareça, a pista do garoto seria obedecer ao demônio. Deixar a pedra onde ele a encontrou. Ele tinha outros planos. E um garoto só iria atrasá-los.

Mas os sonhos falam mais alto. E as possibilidades da riqueza e da bonança ainda mais. O que um andarilho poderia saber a respeito de objetos ou artefatos? – Essa era a sua pista, a pista para se fazer a coisa certa. Mas o garoto ignorava isso, nem se dando conta de que já era noite naquela fazenda até então, pacata e tranqüila, onde as noites são mais escuras que as da cidade devido à ausência dos postes elétricos.

Ele sabia que havia algo de errado, isso é de praxe a todos os seres humanos. Porém, nem ele nem ninguém, poderia imaginar que um porco o seguiria. E daquela fazenda, o maior e mais produtivo de todos eles. Porcos não seguem seres humanos assim, talvez, como cachorros de rua fariam. Aquele imenso suíno negro, que antes era visto somente dentro das baias, agora estava ali, mais imenso do que nunca, estranhamente com o olhar e atitudes não pertinentes a outros porcos. Mais do que o garoto, aquele suíno sabia muito bem o que queria: a pedra...

Continua na próxima semana...