Narrado pelo Sr. Manecão

Sabem, não esquento com muita coisa não. Pombas, por mim, a gente colocava logo uma bomba naquela fábrica de máquinas de lavar e mandava tudo pelos ares. Com ou sem gente lá dentro. Tava tudo danado mesmo, ué!? Tal de gente tem que ir pelos ares mesmo. Principalmente quando se transformam em vampiros, em plena segunda-feira.
Mas o Andrebito não pensava assim. Ele era um desses jovens moralistas e bonzinhos, que a vida toda me atrapalharam com minhas brincadeiras. Se não fosse por eles, eu teria me divertido bem mais durante a vida. Mais do que me diverti, claro. Mas o Andrebito deveria se olhar mais no espelho, afinal, ele mesmo afirmou matar uma pessoa todas as segundas-feiras. Tá certo que eram vampiros... mas antes disso eram pessoas, pombas!! Depois vou conversar com ele sobre isso. Claro, se sobrevivermos.
Tivemos um plano. Um plano simples. Como o primeiro vampiro que surgia era sempre um funcionário da lavanderia, então fiquei encarregado de ficar lá observando as coisas. Como também a empresa perdia um funcionário todas as segundas-feiras, não foi difícil de conseguir uma vaga lá para me contratarem. Só senti em deixar minha loja fechada naquela segunda-feira... mas também, ninguém comprava lá mesmo.
- O que tem nessa mochila? – perguntei à Andrebito, naquela segunda-feira de manhã, antes de irmos pra fábrica.
- Colgate. – respondeu ele, tranqüilamente.
- Hein???
- Colgate.
- Eu entendi, caboquim! Só não entendo pra quê diabos vai levar pastas de dente...
- O senhor ainda não sabe com o quê estamos lidando, não é mesmo? Pois saiba que os vampiros que vamos enfrentar não são aqueles vampiros de histórias as quais está acostumado a ouvir, vide que esses atacam durante o dia. Não se pode combatê-los com alhos ou crucifixos.
- Vai combatê-los então com pastas de dente?
- Exatamente. Eles odeiam.
Claro que fiquei confuso com aquilo tudo. Mais do que já estava. Mas Andrebito, apesar de tudo, parecia ser alguém que sabia o que estava fazendo. E outra: eu não estava nem aí. Queria era ver algo diferente nessa vida antes de morrer. E a coisa mais próxima de um vampiro que havia visto fora minha 4ª esposa. Aquela sim, era feia pra cacete e ainda sugou tudo o que eu tinha! Fiadaputa, viu?
Mas isso não vem ao caso agora. E nem depois.
Segunda-feira. 07:30 hs. Entramos no serviço. Fui para a lavanderia e Andrebito foi para o setor de produção (onde ele trabalhava). Ficamos combinados o seguinte: quando algo de anormal acontecesse, eu daria um toque no celular dele, e ele iria correndo para a lavanderia. Pra falar a verdade, nunca gostei dessa porcaria de celulares. Relutei bastante em ter que usar um, mas acabei cedendo. Juro que se nada disso der certo, na primeira oportunidade vou deixá-lo cair dentro de uma máquina de lavar. Tô nem aí não.
Não sei o que foi pior naquele dia: ter acordado cedo, ficar lidando com roupa suja e encardida, o jeito com que as pessoas me olhavam (eu estava mal vestido e fumava aquele cigarro de palha de hora em hora, não estou nem aí), ficar horas esperando para ver se algo de anormal acontecia... ou meu irmão ter aparecido por lá!
- Manecão, meu irmão!! Como você está?
Apesar de gêmeos, Manequito não se parecia em nada comigo. Antigamente até éramos parecidos na aparência... mas com o passar dos anos, fomos ficando diferentes. Muito diferentes. Manequito era médico, bem vestido, educado, saudável, havia se casado somente uma vez e estava sempre de bem com a vida. Quanto a mim, nem preciso dizer nada. E, por falar em ‘dizer’, fazia anos que eu não falava com Manequito. Mas ele nunca desistiu: sempre me cumprimentava e puxava assunto. Nunca respondi. Não estou nem aí.
- Então, Manecão, meu querido irmão! Não sabia que estava trabalhando aqui agora. – disse ele, colocando a mão no meu ombro. – Está gostando?
Não respondi.
- Ainda sem falar comigo, né?
Silêncio.
– Não tem problema não, viu? Você mora, ó, aqui ó! – disse ele, batendo no coração.
Ele estava começando a me irritar.
- Ó, irmão! Saiba que te amo do mesmo jeito, ta bom?
Dito isso, ele me deu um abraço. Eu odiava quando ele fazia aquilo. As pessoas da lavanderia começaram a olhar e tive vontade de lhe dar um soco.
- Ei, cara! Pare com isso! – eu disse.
- Hein? Manecão?? Você... você falou comigo???
- Vá pro inferno!
- Você falou comigo!!! Manecão, depois de todos esses anos...
De repente, ouviu-se um grito. As pessoas na lavanderia começaram a correr de um lado para o outro. Instintivamente (totalmente instintivamente, que isso fique bem claro) empurrei Manequito para um lugar que julguei seguro. Corri até o lugar de onde havia saído o grito.
E lá estava. Descobri algo pior do que ter encontrado Manequito.
Descobri, afinal, que vampiros existiam. Pombas!!
5 comentários:
Vamos ver o que vem por ai!
(curt's coment's)
hauhahuauhaua
colgate? to nem aí!
irmão pra quê, né sô?
Quero só ver se vc vai conseguir concluir essa história em apenas mais duas partes... Sei não... Parece que aí tem assunto pra muito mais... (Tomara!!!)
Muito boa ciro!
gostei pra carai!
Ahahahahhhaah! Deveras engraçada essa história! O jeito do narrador tá massa demais!
Nota 10, muito boa mesmo!!
Mal posso esperar para o final da história!!
Abraços!
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