terça-feira, 18 de agosto de 2009

A atraente Senhorita do caminho para o trabalho...

Por Bruno C. O. Carvalho



Sempre achei que andar é saudável. Andar... simplesmente andar. Andar pela manhã aumenta seu senso de observação. Você passa a observar o mundo de uma maneira mais calma. Hoje em dia, isso está cada vez mais raro.
As pessoas não caminham mais para o trabalho. Procuram meios de transporte, e a partir daí, passam a não observar o mundo ao seu redor.
Caminhar é saudável, pois o mundo gira mais devagar... Sempre me preocupei com isso, não em benefício de minha forma física, e sim para o benefício de minha alma. E por estes e outros caminhos que encontrei a atraente senhorita do caminho para o trabalho. É assim que gosto de chamá-la. Para mim não há melhor nome para alguém que me supre em um mundo diferente...

Não, nenhum outro a viu... somente eu.
Ela me incentivava a ir a pé.
E eu ia, somente para vê-la.

Eu não comentava com ninguém, pois ninguém seguia o mesmo caminho que eu para o trabalho.
Mas ela não era simplesmente uma senhorita, muito menos atraente. Quero dizer que ela era atraente somente para mim, e não para os outros. Quando só você acha uma pessoa bonita, quando todos os outros discordam, esta pessoa se torna ainda mais bela.
E eu sempre a olhava. Procurava o fundo de seus olhos, mas não era correspondido. Foi assim durante muito tempo, até que um dia ela olhou para mim...
Seu rosto era diferente... e a partir daí, tudo ficou diferente...


Eu estava sentado em um confortável sofá. Tudo era branco, e de imediato percebi que algumas pessoas olhavam para mim:

- Como você a viu? – Perguntou um deles.
- Vocês não são exatamente ex-namorados ciumentos, certo?
- Talvez sim, talvez não...
- Com certeza não...
- Como sabe o que somos? Fale a respeito disso...
- Eu não sei quem vocês são, apenas sinto... sinto que não são daqui...

Eles saíram de perto de mim. Foram para outra sala. Eu não estava amarrado. Tanto que se quisesse, poderia sair. Mas algo me dizia que não adiantava fugir. No entanto, permaneci sentado. Após alguns instantes, eles voltaram, e ela estava junto...

- Fica ainda mais bela sem olhar para baixo... – disse eu.

E eles conversavam, como se eu não estivesse ali:

- Como pode! Ele é apenas um deles!
- Isso, de fato nunca aconteceu... creio que teremos que eliminá-lo.

Eu intervi:

- Não podem mais seus bastardos! Não podem mais perceber a beleza de simplesmente achar algo bonito! Então vocês são superiores? Tem o poder de eliminar alguém se isso atrapalhar seus planos?

- Amigo... você é único... pois soube, de alguma forma, entrar em nosso mundo. Essa moça que você vê, sequer está em sua dimensão. Mesmo que estivesse, a sintonia entre vocês não caracterizaria nada...

- Como um cão e um ser humano... sim, pois ficaria estranho um cão se relacionar amorosamente com um ser humano.

- Mesmo ironicamente, entendeu nossa mensagem.

Eles saíram novamente. Dessa vez demoraram mais. Voltaram mais sérios, e fizeram apenas uma pergunta:

- Se nós te matássemos agora, qual seria sua reação?

Eles eram três, quatro com ela. Eu respondi:

- Eu entenderia.


Andar pelo mundo: é o que mais gosto de fazer. Alguns observam o mundo através do trabalho, da família, de jogos, enfim... eu gosto de pensar a respeito do mundo andando. Quer cheguemos a alguma reflexão ou não, estamos sempre seguindo em frente.
Depois que eles me libertaram, decidi continuar minha vida normalmente. Não queria espalhar para o mundo a verdade. Ninguém acreditaria.
Decidi observar ainda mais.
Ainda não sei quem eram eles. O que posso dizer é que eram seres superiores. Provavelmente já sabiam que eu não era ameaça ao plano deles. Pelo que pude sentir, era um plano bom, para o bem de todos nós.
Não, não me sinto mais poderoso. Sequer me sinto um deles. Acredito que eles me consideram... principalmente por responder que entenderia perder minha vida.
Isso aconteceu há muito tempo, e desde então nunca mais vi a atraente Senhorita do caminho para o trabalho. Cheguei a pensar que tinham ido embora.

Mas hoje pela manhã eu também não pude vê-la, mas pude senti-la. Ela estava sorrindo... disso eu tive certeza.
Seguirei em frente. Vocês sabem a direção, interpretem como quiserem, Pois agora tenho a certeza, e quando se tem a certeza de algo que quer, devemos ir adiante... estrague o plano deles ou não...

4 comentários:

Ciro disse...

Xonadim, bem? Hahahahahhaha!!!

Bonito texto, hein? Bonito, mas triste também.
Isso é diferente de tudo o que eu já li na vida! Que diabo foi isso? Um sonho maluco?

Muito bom! Imprevisível!

Pietro disse...

Muito bom esse texto, Brunin, faz a gente perceber a importância de parar, pensar e ter um tempinho só pra mente e pra alma.

Tá de parabéns!

Sessyllya ayllysseS disse...

Concordo com os dois comentários acima e digo mais: esse texto é, sem dúvida, o tipo de texto que eu mais adoro!!! Cheio de mistério, poesia, profundo e envolvente de um jeito que nos "obriga" a refletir, que fica na nossa cabeça um tempão... ADOREEEEIII!!!
Parabéns!!!

Comentarista disse...

Nossa...com certeza o sonho foi sua fonte de inspiração ou então o fato de simplesmente andar e admirar as coisas o levou a imaginar algo fora da realidade mas simultaneamente real! Pode parecer uma mistura de fatos malucos, entretando tem certo sentido que só pude compreender no final! muito bom...