O Estranho Caso do Pai daquele Empregado...

Da empresa de Ciro M. Costa

Na Corporação Jabarimpe, o Sr. Gerente estava quase sempre metido em sua sala, resolvendo os assuntos mais importantes. Reuniões, papeladas, telefonemas decisivos... todo o clichê de escritório e grande empresas era encontrado na Jabarimpe.
Certo dia, Gerente saiu de sua sala por uns instantes, no intuito de entregar um papel para sua secretária. No entanto, viu um das centenas de empregados da empresa, conversando com ela:
- Meu pai acabou de falecer, Srta Secretária. Será que posso tirar folga hoje e amanhã?
- Isso é um absurdo, Sr. Empregado!! Onde já se viu...
O Sr. Gerente interviu:
- Ei, ei! Srta Secretária! Não fale assim com ele! O pai dele faleceu, é claro que pode tirar os dois dias de folga!
- Mas, Sr. Gerente...
- Nada de ‘mas’! Pode ir, Sr. Empregado!
- Obrigado, Sr. Gerente!
- Que isso, oras...
E lá se foi o Empregado satisfeito, enquanto a Secretária fazia semblante de insatisfação.
Passado alguns dias, por mero acaso, o Sr. Gerente escutou do lado de fora, a mesma conversa entre o Sr. Empregado e a Srta Secretária. Dessa vez, a Secretária liberou o empregado ela mesma.
Estranhando aquilo, Gerente saiu de sua sala:
- Srta Secretária, que história é essa?
- Ué... – disse ela. – O senhor o liberou daquela vez, então resolvi liberá-lo hoje também.
- Como assim??? Ele usou a desculpa da morte do pai de novo?
- Xiiii, o senhor que não sabe. Ele já usou essa desculpa umas quatro vezes!
- Filho da mãe! Deixa ele comigo!
- Eu tentei avisar... já liguei nos locais onde ele trabalhou, e eles alegam que ele sempre usa essa mesma deixa para conseguir dias de folga.
“Como isso é possível?”, pensou Gerente, “Se ao menos usasse desculpas novas! Mas a morte de uma só pessoa tantas vezes??”.
Nos próximos dias, Gerente ficou mais atento. Tinha certeza de que o Empregado usaria aquilo de novo.
E usou mesmo...
- Srta Secretária, gostaria de folgar hoje e amanhã porque meu pai...
Mal terminou sua frase, e o Gerente saiu de sua sala:
- Ahá!! Usando essa desculpa novamente, hã??
- Hein?
- Acha que tem algum idiota por aqui, Empregado? Então seu pai morre toda semana?
- Não senhor. De 3 em 3 dias.
- Ah, certo, ent... O QUÊ??? Que palhaçada é essa??
- É sério. Venha comigo ao velório dele de hoje e lhe mostrarei.
Super curioso com aquela história, o Sr. Gerente foi conferir.
Chegando lá, Gerente se deparou com várias pessoas tristes (como já é clichê em velórios) e alguns parentes mais chegados chorando ao lado de um morto defunto e sem vida. Gerente se aproximou do corpo e confirmou que o mesmo estava realmente falecido.
- Não é possível... – ele disse. – Você só pode estar de brincadeira, Empregado! Acha que sou algum idiota otário ou trouxa imbecil?
- Claro que não, Sr. Gerente. Está aí, meu pobre pai, mortinho da silva. Chuif!
- Oras, o que é isso? Isso só pode ser palhaçada!
- Se o senhor acha isso, então por que não volta aqui em 3 dias?
- Pra quê???
- Vai ver que meu pai estará morto novamente!
- Ah não...
O Gerente, ainda muito confuso, acompanhou o restante do velório do falecido, e ainda ficou para o enterro. Mas passados 3 dias, lá estava ele na capela de novo. E lá estava o morto falecido outra vez.
- Como isso é possível?? Vocês só podem estar de brincadeira!? Por acaso estão desenterrando este corpo e enterrando todos os dias??
- Sr. Gerente – disse o Empregado, calmamente. – Deixe-me explicar. O senhor deixa?
- Deixo sim, ué!?
- O caso, é que meu pai sofre de uma doença chamada Mal de Lázaro.
- Que diabo é isso?
- É uma doença onde a pessoa morre a cada 3 dias, e no quarto ela ressuscita. Ainda não encontramos a cura disso, então temos sempre que fazer esses velórios e enterros. Felizmente, a Funerária tem nos dado um bom desconto por isso.
- Nunca ouvi falar de tal doença...
- Pois é. É algo bem raro, ao que me parece. Por um lado é bom, porque a família só se reúne mesmo quando tem um funeral. Então, estamos aqui, sempre reunidos e homenageando meu pai. Quando ele ressuscita, gosta de saber como foi seu enterro e quem veio vê-lo. Teve uma vez que uma ex dele veio aqui e...
- Ta, ta. Já entendi tudo. Seu caso é bem estranho, Empregado. É muita loucura pra minha cabeça. A partir de hoje, você está liberado para todos os enterros de seu pai, está bem?
- Muito obrigado, Sr. Gerente! Sabia que tinha bom coração.
Confuso, Gerente voltou para a empresa. Pesquisou sobre o “Mal de Lázaro” e encontrou alguma coisa no Google. Existia mesmo.
Empregado continuou com suas folgas e enterros de seu pai por muitos e muitos anos...
Até que um dia, ele mesmo faleceu.
Fora um dia muito triste para o Sr. Gerente, a Srta Secretária e as centenas de empregados da Corporação Jabarimpe. Depois do enterro do Empregado, várias homenagens foram feitas.
Mas a vida tem que seguir em frente.
E o Sr. Empregado apareceu na empresa, vivo, 3 dias depois.
- É hereditário? – perguntou o Sr. Gerente.
- É sim senhor.
- Certo...




E NÃO PERCAM, DIA 12 DE NOVEMBRO, COMEÇA A SAGA QUE NINGUÉM ESTAVA ESPERANDO:

MENINA DAS ÁRVORES