sábado, 19 de março de 2011

SEMPRE HOJE SEMPRE

Alguém disse um dia: “se tivesses estado ao meu lado, estas páginas jamais teriam sido escritas, porque SER me teria ocupado bastante...”
E eu digo: se não tivesses me telefonado, estas linhas jamais haveriam sido escritas, pois a busca infeliz pelo Grá me teria ocupado bastante. Também estaria muito ocupado em me esconder d’Ela, a Sombra-que-caminha. Mas estou SENDO.

Esse teu olhar, como disse Tom Jobim, quando encontra o meu, fala de umas coisas que eu nem posso acreditar...

Hoje o dia amanheceu mais lindo ainda do que os outros, porque ontem te vi, e pude sentir a presença do seu corpo próximo ao meu, pude ouvir o som da sua voz aos meus ouvidos. Pude sentir a sutileza de um início de algo que poderá ser muito lindo. Assim é o nascer dos amores. Tão lindos, tão brancos, tão puros. Doce é pensar em você o tempo todo, e mesmo à distância sentir sua presença e o toque de teu coração.

Hoje é dia de lembranças do que vivemos ontem. E lembrar-se é viver pela primeira vez o que já foi vivido um dia pela primeira vez. Que maravilha que choveu ontem e também hoje. Que haja chuva sempre!!!

No dia de hoje...

Quando conhecemos alguém, como é bom viver cada um dos momentos! Confesso que a única vez em que havia me ocorrido isso foi há muitos anos, quase dez anos atrás. Mas desta vez está sendo bárbaro, porque estou, pela primeira vez na minha vida, sendo correspondido. A euforia, o entusiasmo e a alegria são coisas muito grandes que acontecem a todo momento. É a emoção de quando o telefone toca, a palpitação de quando o celular dá sinal de mensagem recebida...

Mas também há o medo. Medo de quê? Medo talvez de perdê-lo, medo de eu não conseguir corresponder ao que ele procura em mim, medo de o decepcionar, porque por mais que nos esforcemos para atender aos desejos do ser amado, há o fato de sermos seres humanos ainda falíveis. Então quando o telefone demora a tocar, vem a ansiedade e o receio de ele não querer mais saber de mim. Mas isso faz parte, porque o nascimento do amor é um processo que deve ser construído.
A ponte que existe entre o agora e o futuro do agora é construída aos poucos.
A vida é linda...
E ele, mais ainda, em todos os sentidos!

Ontem ele também me abraçou. Que sensação maravilhosa essa de o sentir junto de mim! É uma sensação que não tem tempo, não tem espaço nem conceito, pois está circunscrita na própria natureza íntima nossa, vinda do mais profundo instante. É como se estivéssemos a um passo de enxergar a face iluminada do Grá.

E como foi bom dormir ainda com a lembrança daquele abraço maravilhoso e sincero, abraço de carinho... Esta é a maneira que temos de nos livrar d'Ela, a Sombra-que-caminha. Feliz mais este dia feliz.

Não sei que sensação é esta de agora, mas sei que é uma sensação estranha. Não tão estranha, porque parece que eu já senti isso em algum momento...


Está muito parecido com uma sensação de quando Ela se aproxima de nós. Sim, Ela, a Sombra-que-caminha. Espero que não seja ela, porque se for...

Cantares do Sem Nome e de Partidas - Hilda Hilst

IV
E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasses a vida.

É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
ou Catarina, ser menina ou malsã.

Penitente e doloso
Pode ser o sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.



V

O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).

O Nunca Mais é de planície e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.

Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.

2 comentários:

Sessyllya ayllysseS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Giovanni disse...

Pois é, Cecília, Hilda é sempre Hilda...