
De repente, escaparam-me os discursos prontos e ensaiados e todas aquelas frases feitas que eu tanto gostava de repetir. Num lampejo de consciência, vi-me desnudado de desculpas e argumentos a oferecer. Basicamente, aquilo tudo começou a soar ridículo. “Verdades” e pretextos que com tanta renitência e obtusidade eu incorporara, eram dizimados por uma implacável racionalidade que tomava conta de mim.
Mas o que eu iria dizer? Não estava preparado para tamanho surto de lucidez. Acostumara-me a ter que puxar assunto com pessoas desinteressantes para não passar por mal educado nas rodinhas. Por mais que aquilo me violentasse por dentro, minha imagem de bom-moço precisava ser mantida a todo custo. Fingia não me importar quando abusavam da minha pretensa boa vontade. E a cada aceno positivo que fingia, me vinha um soco no estômago correspondente.
Anula-te e verás, já devia dizer algum sábio. É engraçado quando abrimos nossos e-mails e naquelas animações “powerpoinTOSCAS” ao som de “My Way”, somos constantemente encorajados a sempre sorrir e nos mostrar gentis e solícitos com os demais. Isso é lindo quando feito por convicção e não por anulação. Por que nunca nos dizem coisas do tipo: “Desvincula-te do ‘outro’!”, “Realiza-te primeiro, cara!”?
Soaria o mais canastrão dentre os atores da novela das sete se dissesse que gostaria de ser popular. Fui ensinado que deveria sê-lo para ser aceito. Aí, o tio Wilde me contou que ”para ser popular, é imprescindível ser medíocre”. Oh, loco! E não é que ele tinha razão? Vivemos mergulhados nas expectativas que criamos em cima das expectativas que são criadas sobre nós. Que maluquice isso! Seria uma forma de sobrevida? Quase sempre essas expectativas nem mesmo existem, são neuroses exclusivamente nossas, mas que vamos alimentando, alimentando, numa incessante masturbação mental.
O que poderiam pensar caso eu dissesse que escolhi o Lula? E se contasse que não tenho religião? E se confessasse que bebo pinga? E se assumisse que ainda rio do seriado Chaves? Putz, tô me queimando muito nessa brincadeira! Que nada! O que os telespectadores pensam não é problema nosso! Ganhamos nossos cachês e protagonizamos nossas vidas, oras! Aqui não há vagas para “coadjuvantes”!
Caramba! Já passou das onze!!! Hoje é sábado, meu! E se eu me atrasar para postar no blog? O que vão pensar?
6 comentários:
Aceitação, aparências, condicionamentos, auto-anulação, auto-afirmação... São palavras (e conceitos) quase indissociáveis... É complicado conviver com isso sem ter umas crises de vez em quando (ou de vez em sempre). Mas a gente supera (ou não)... rsrsrs...
Bjos, Felipe, tô com saudade...
Rapaz! E não é que tinha um talento escondido nesse modelo de escrita! Você falou tudo!! Simplesmente me fez viajar no texto inteiro!! Muito bom (Pelo amor de Deus, não confunda o elogio como uma mera puxação de saco! Até porque seria a prova que eu não teria entendido o texto, quando na verdade etendi.)
Valeu Felipão!
Oh loko, meu! Olha a fera ae, surpreendendo a cada dia, agora, mais do que nunca...
Hahahhahahaha!!! Falando sério, ficou bom mesmo, Felipão! Pensei que vc ia postar outro poema hoje, mas veio algo bem melhor!
Sabe que concordo com tudo o que disse aí (principalmente com as animações de powepointoscas)! E eu tb ainda rio do Chaves, ué!? Pq não?
Grande abraço!
Taí,
essa coisa de interpretar a cada
dia, e o pior é que as vezes queremos ser mais exigentes na nossa interpretação,
desvincular-se do outro, taí uma coisa difícil,
belo texto, bela filosofia,
abraços meu caro
Explorando e interpretando!
Poptchuraaaaaa!!!!
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