quinta-feira, 30 de novembro de 2006

O Tatu vai a pé... E você?

Por Fernandha Zechinatto


Manhã de domingo, céu meio nublado e nuvens alardeando um tempo ameno propício a longas caminhadas. Tenho estreitado minha relação com a Mãe Terra desde que meu pai aposentou e decidiu realizar um sonho de infância: ter uma pequena fazenda. Desse sonho muitos outros vêm se realizando e tudo com as bênçãos da natureza.
Por uma intervenção dos mistérios que insistimos em chamar de coincidência, formou-se um grupo para um passeio ecológico na reserva de cerrado que meu pai faz questão de manter intacta, esse passeio tem o nome de “O Tatu Vai a Pé”. Que passeio delicioso! Até virei motivo de piadas, já que em quase dez anos de constantes visitas aos meus pais, eu nunca havia realizado aquele trajeto maravilhoso por entre a mata, passando por um mirante natural e chegando a um riacho. Cheguei a ouvir:
- Seja bem vinda! Fique a vontade e faça de conta que o espaço é todo seu!!!
E foi nesse momento que realmente comecei o meu passeio, mas foi por um caminho cheio de indagações e reflexões. A caminhada durou cerca de três horas e meia, mas a minha viagem ainda não acabou. E nem sei quando vai terminar.
Pensem comigo! Aquele lugar está ali, só esperando a minha visita e, mesmo passados oito anos, precisei que outras pessoas chegassem ali para me apresentar.
Transportei esse raciocínio para o indivíduo e concluí que existem lugares maravilhosos dentro de cada um, mata fechada, com direito a mirante e riacho, bem perto da casa-sede, e que dificilmente ousamos conhecer, até que chega alguém ou muitos e nos apresentam a nós mesmos. Confuso, não? Mas real.
Fugir de si mesmo evita encontros com aquele lado monstruoso que deixamos bem escondido, no entanto nos priva também de momentos em lugares paradisíacos. O lugar pode ser íngreme, cheio de descidas escorregadias, mata fechada e insetos, mas cheguei ao final em estado de êxtase, pronta para mais uma viagem pelo outro lado da mata. Calma, calma, calma, o caminho é feito com um passo de cada vez!!!
O prêmio ao final foi descobrir que, a caminhada além de me proporcionar um momento de retorno a mim, uma exaltação de talentos e habilidades que deixamos escondidos, ainda me mostrou estranhos não tão desconhecidos assim. Amigos de amigos, mãe de colega dos filhos, e até um escritor do blog Boneco Verde, o Felipe!!!
É por isso que concordo com Freud: “O acaso não existe!” Esse passeio já estava programado há muito tempo pelo meu digníssimo inconsciente. Ainda bem que os mecanismos de defesa estavam curtindo a folga de domingo, assim o Ego pode conversar melhor com o Id, sem a interferência de um Superego repressor. Traduzindo: pude fazer uma caminhada externa com belas paisagens, além da interna sem muitos julgamentos.

3 comentários:

Bruno Carvalho disse...

Caminhar é muito bom Fernandha! Eu adoro! Posso até lhe dizer que as minhas idéias (que não são grande coisa) vêem a partir das caminhadas.
Valeu!

Felipe Carvalho disse...

Nossa, Fernandha! Que ótima reflexão vc fez sobre o nosso passeio!
Realmente, apesar de toda a mata que trilhamos, o verdadeiro "desbravamento" acaba sendo o da gente com a gente mesmo! E isso não há dinheiro que pague!
Foi muito ter te encontrado lá! Tomara que esse passeio se repita mais vezes!
Parabéns!

Sessyllya ayllysseS disse...

Muito legal, Fernandha! O q me atrai em seus textos são essas relações metafóricas inusitadas q vc estabelece entre assuntos aparentemente distantes.

Parabéns!!! E bjinhos!!!