(Por Fernandha Zechinatto)
Adiantada para o texto de quinta-feira para não chegar cedo para o de sexta.
Tudo o que Juliete queria o poeta já havia escrito:
- Plantar um filho, escrever uma árvore e ter um livro!
Suas idéias estavam confusas. Os anos de sofrimento estavam facilitando a confusão mental que só o estresse e os surtos psicóticos podem aflorar.
Na verdade, livros eram muitos, milhares deles. Tantos que nem havia um local apropriado para acomodá-los de forma digna, Juliete pensava nisso a cada vez que ia à sua biblioteca particular. Todos eles foram doações, já que custavam muito para quem tinha menos que um salário para se manter durante trinta dias. Em fevereiro até conseguia fazer sobrar algo, mas nos meses de trinta e um dias, cada dia a mais era um martírio.
A pequena Juliete nascera de um romance, bom nem sei se pode-se chamar aquilo de romance. Dia sim e outro também ela esta no pronto-socorro ou no ambulatório do SUS para cuidar de feridas e hematomas da noite anterior. Seu Jesse era o amante perfeito, caliente e insaciável. Juliete era uma jovem com seus vinte e poucos anos, mas com aparência de trinta e tantos. Com nove anos estava na rua, deixou a escola, o pai alcoólatra, um caso incestuoso com o irmão mais velho e a culpa pela morte de sua mãe durante o seu nascimento. Não queria nada que lembrasse o passado, mas se entregava cegamente a um amor bandido que só a fazia crer que realmente ela era culpada por tudo de ruim que a vida lhe proporcionava e que, por isso, deveria pagar sem nada falar.
Josefa era a vizinha que sempre aparecia “do nada”, e com esse nada acabava por salvá-la da surra da noite. Seu Jesse já estava intrigado com a tal Josefa, mas também era meninota, crente, com cara de puritana que assanhava os desejos impróprios de um impróprio. Como sempre trazia um prato apetitoso, na verdade dois, o de se comer com a boca e o que se comia com os olhos, Seu Jesse nunca impedia a sua entrada em sua casa, era a única que podia visitar e desfrutar da amizade do casal.
Olhares iam e vinham. Josefa não podia deixar de perceber aquele homem forte, com a barba mal feita, apenas de bermudão e chinelo o cobria. A vizinhança o cobiçava. Josefa não podia deixar de também notar aquela presença que mais parecia um Tsunami em mar calmo. Avassalador, destruidor, imprevisível. Por isso mesmo ficou a estudá-lo meses a fio. Notou que toda terça era seu passeio religioso – aquele que dizia ir à igreja orar a Deus, mas que na verdade ia para o Inferninho de Zeus.
Josefa o seguia dia após dia, e logo que descobria o seu paradeiro ia até sua casa fazer companhia para a amiga traída, Juliete.
Naquela noite, após meses a fio de perseguição resolveu que deveria ser honesta com a amiga. Jesse chegou e percebeu que as amigas dormiam juntas e pensou:
- Ainda bem que Josefa ficou até mais tarde, assim Juliete nem percebeu que eu passei muito tempo fora.
Cansado da noitada ficou pelo sofá da sala. Quando acordou, levantou-se de sobressalto. Juliete e Josefa não estavam mais naquela cama que há poucas horas o próprio Jesse havia visto. Nada, nem uma peça de roupa. A vizinhança comentava com sarcasmo e ironia. Juliete e Josefa já chegavam a outro país.
Após um longo beijo, demorado, carinhoso, daqueles que Juliete nunca experimentou com Seu Jesse, ouve-se uma gargalhada, um suspiro de alívio e aquele ar maroto nos olhares de Josefa e Juliete.
Foi aí que se soube que Josefa era na verdade José, um caso antigo de Juliete, que se passou por sua melhor amiga para passar noites e noites em sua companhia sem levantar suspeita. Jesse era a foto do Jornal da Cidade, a manchete:
Jesse pensou que sua mulher não desse!
Juliete e Josefa (José) aparecem logo abaixo com um sorriso de satisfação por terem feito de bobo o galã da escola que sempre se achou o máximo e casou com o patinho feio da escola (Juliete) só para receber uma fortuna de um amigo que duvidara que ele tivesse coragem de se casar com a mais feia da turma dos tempos de primário (ensino fundamental hoje).
O patinho feio virou cisne, virou também a procuradora de Jesse, passou todos os bens do galã para o seu nome e de seu amante – José, o rejeitado. Assim se consuma a vingança mais fria da história após vinte e cinco anos. Um casal começava um namoro juvenil, colegas espertos debocham, ironizam e humilham; após duas identidades falsas e anos de espera o casal se une e tira o que mais importava a esses mesquinhos – o ter, o possuir. Nesse momento ninguém possui mais que esse casal. Além dos bens materiais, a honra, o orgulho e uma vida de ilusões.
Nunca duvide: os que sofrem muito são perigosos, pois têm a certeza de que podem suportar sempre um pouco mais para alcançarem o seu objetivo, mesmo que seja a vingança.
Tudo o que Juliete queria o poeta já havia escrito:
- Plantar um filho, escrever uma árvore e ter um livro!
Suas idéias estavam confusas. Os anos de sofrimento estavam facilitando a confusão mental que só o estresse e os surtos psicóticos podem aflorar.
Na verdade, livros eram muitos, milhares deles. Tantos que nem havia um local apropriado para acomodá-los de forma digna, Juliete pensava nisso a cada vez que ia à sua biblioteca particular. Todos eles foram doações, já que custavam muito para quem tinha menos que um salário para se manter durante trinta dias. Em fevereiro até conseguia fazer sobrar algo, mas nos meses de trinta e um dias, cada dia a mais era um martírio.
A pequena Juliete nascera de um romance, bom nem sei se pode-se chamar aquilo de romance. Dia sim e outro também ela esta no pronto-socorro ou no ambulatório do SUS para cuidar de feridas e hematomas da noite anterior. Seu Jesse era o amante perfeito, caliente e insaciável. Juliete era uma jovem com seus vinte e poucos anos, mas com aparência de trinta e tantos. Com nove anos estava na rua, deixou a escola, o pai alcoólatra, um caso incestuoso com o irmão mais velho e a culpa pela morte de sua mãe durante o seu nascimento. Não queria nada que lembrasse o passado, mas se entregava cegamente a um amor bandido que só a fazia crer que realmente ela era culpada por tudo de ruim que a vida lhe proporcionava e que, por isso, deveria pagar sem nada falar.
Josefa era a vizinha que sempre aparecia “do nada”, e com esse nada acabava por salvá-la da surra da noite. Seu Jesse já estava intrigado com a tal Josefa, mas também era meninota, crente, com cara de puritana que assanhava os desejos impróprios de um impróprio. Como sempre trazia um prato apetitoso, na verdade dois, o de se comer com a boca e o que se comia com os olhos, Seu Jesse nunca impedia a sua entrada em sua casa, era a única que podia visitar e desfrutar da amizade do casal.
Olhares iam e vinham. Josefa não podia deixar de perceber aquele homem forte, com a barba mal feita, apenas de bermudão e chinelo o cobria. A vizinhança o cobiçava. Josefa não podia deixar de também notar aquela presença que mais parecia um Tsunami em mar calmo. Avassalador, destruidor, imprevisível. Por isso mesmo ficou a estudá-lo meses a fio. Notou que toda terça era seu passeio religioso – aquele que dizia ir à igreja orar a Deus, mas que na verdade ia para o Inferninho de Zeus.
Josefa o seguia dia após dia, e logo que descobria o seu paradeiro ia até sua casa fazer companhia para a amiga traída, Juliete.
Naquela noite, após meses a fio de perseguição resolveu que deveria ser honesta com a amiga. Jesse chegou e percebeu que as amigas dormiam juntas e pensou:
- Ainda bem que Josefa ficou até mais tarde, assim Juliete nem percebeu que eu passei muito tempo fora.
Cansado da noitada ficou pelo sofá da sala. Quando acordou, levantou-se de sobressalto. Juliete e Josefa não estavam mais naquela cama que há poucas horas o próprio Jesse havia visto. Nada, nem uma peça de roupa. A vizinhança comentava com sarcasmo e ironia. Juliete e Josefa já chegavam a outro país.
Após um longo beijo, demorado, carinhoso, daqueles que Juliete nunca experimentou com Seu Jesse, ouve-se uma gargalhada, um suspiro de alívio e aquele ar maroto nos olhares de Josefa e Juliete.
Foi aí que se soube que Josefa era na verdade José, um caso antigo de Juliete, que se passou por sua melhor amiga para passar noites e noites em sua companhia sem levantar suspeita. Jesse era a foto do Jornal da Cidade, a manchete:
Jesse pensou que sua mulher não desse!
Juliete e Josefa (José) aparecem logo abaixo com um sorriso de satisfação por terem feito de bobo o galã da escola que sempre se achou o máximo e casou com o patinho feio da escola (Juliete) só para receber uma fortuna de um amigo que duvidara que ele tivesse coragem de se casar com a mais feia da turma dos tempos de primário (ensino fundamental hoje).
O patinho feio virou cisne, virou também a procuradora de Jesse, passou todos os bens do galã para o seu nome e de seu amante – José, o rejeitado. Assim se consuma a vingança mais fria da história após vinte e cinco anos. Um casal começava um namoro juvenil, colegas espertos debocham, ironizam e humilham; após duas identidades falsas e anos de espera o casal se une e tira o que mais importava a esses mesquinhos – o ter, o possuir. Nesse momento ninguém possui mais que esse casal. Além dos bens materiais, a honra, o orgulho e uma vida de ilusões.
Nunca duvide: os que sofrem muito são perigosos, pois têm a certeza de que podem suportar sempre um pouco mais para alcançarem o seu objetivo, mesmo que seja a vingança.
3 comentários:
Boa Fernandha!!
Final surpreendente!!!
Grande abraço!!
Muito bom, Fernandha!!!
Você construiu o passado da Juliete de forma que pensássemos que ela era uma coitada, a grande vítima de Jesse, mas depois vimos que não foi tão difícil pra ela vencer esse representante da "raça" dos homens fortes e violentos: bastou um bom plano e paciência.
Além do final inesperado, gostei da conclusão: "Nunca duvide: os que sofrem muito são perigosos, pois têm a certeza de que podem suportar sempre um pouco mais para alcançarem o seu objetivo". Concordo plenamente e acrescento: sofrer na vida não é desculpa pra ser vítima.
Parabéns!!! Bjos!!!
Ôrra...
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