Instintos...

Por Bruno Carvalho

“E logo após um grande conflito, todo homem pensa: Algo de especial está reservado para mim.”

Joshua se assustou muito quando viu aquela estranha imagem bem em sua frente. Era de madrugada, e como de rotina, estava tendo um sono turbulento. Até que, sem querer, abriu os olhos. Não se assustou com a imagem, que aos poucos fora tomando o formato de um homem. Muito pelo contrário, aquela entidade lhe transmitia bastante segurança.
Ficaram se olhando por alguns minutos, até que a entidade lhe perguntou:

- Quer ver o seu futuro meu rapaz? E ele aceitou, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

E em questão de segundos, flutuaram por toda a cidade, até chegarem em uma bela praça, aliás, uma praça muito parecida com a que Joshua brincava na infância. Chovia muito, e Joshua percebia que aquilo não estava normal, pois havia luzes por todos os lugares. Em certo momento, pensou ter visto algo como um elefante voando...

- Concentre-se meu rapaz , nem tudo o que se vê, faz parte dessa realidade – disse o anjo, esboçando um sorriso, que fez com que Joshua se acalmasse imediatamente.

E então Joshua viu uma moça. Sua primeira impressão, é que ela não era bonita. Que tinha uma beleza escondida, talvez. Do tipo de garota que não tinha o charme, a essência, e a sensualidade que muitas garotas, mesmo não sendo muito bonitas tinham. Aquela sensualidade que estranhamente atraía muitos homens. Ela era branca, tinha olhos castanhos, e estava conversando com a mãe.

- Quem é essa moça que vejo agora? – perguntou Joshua.
- Sua futura esposa... – respondeu o anjo.

E antes mesmo de Joshua retrucar, o anjo lhe disse que ele não devia pensar apenas na imagem, na primeira impressão. Não casamos com as pessoas apenas pela aparência. E sim por uma ocasião, por um relacionamento inusitado e diferenciado, ou talvez por algo que chame a sua atenção de uma forma inverossímil. Agora, a garota era apenas uma imagem, uma imagem do futuro. E não um encontro real, com um misto de sentimentos e emoções que nenhum de nós consegue explicar.

- Já vivi isso por centenas de vezes meu caro. Conheço os seres humanos. Eles se entregam aos instintos. E é justamente essa a graça de viver...

E Joshua, mesmo vendo que aquela garota não era seu tipo, mesmo com a plena convicção de que não se casaria com ela, não conseguiu discordar.
E a partir daí, a viagem foi ficando muito mais difícil, pois a entidade, mostrava cada vez mais imagens impossíveis de se acreditar: Melhores amigos indo embora por conta de discussões bestas, novos amigos surgindo através de situações mais tolas ainda, atitudes impensáveis a respeito dele mesmo, de seus filhos, de sua esposa, de sua família, e até do emprego que jamais imaginara ter em sua vida.
A mente de Joshua estava tumultuada em demasia. Tanto que, só de pensar no que acabara de ver, chegou a acordar. E ainda naquele processo de sonolência, pôde ver a entidade o encarando e dizendo:

- A Natureza dá ao homem o presente de sempre achar que seu futuro lhe trará bons frutos. Que a força maior, que vocês chamam de Deus, reserva algo especial para vocês. Não confundam esse presente a ponto de deixar que as coisas aconteçam por si mesmas. Acredite! Elas realmente podem acontecer por si mesmas. E só você pode mudá-las!


Joshua esfregou os olhos se perguntando se aquilo fora real ou não. Mesmo assim, passou a se concentrar em sua rotina dali em diante. Não conseguiu deixar de se casar com a moça, e de fato fora feliz com ela. Fora isso, conseguiu evitar que todas aquelas imagens negativas futuras de seu sonho se concretizassem.
Mas infelizmente cometeu outras, que substituíram-nas no mesmo patamar. Chegou a se perguntar se a visita do anjo fora uma benção ou uma maldição. Joshua não fez nada pelo seu destino, pois simplesmente trabalhou para que o que viu de ruim não acontecesse.
De fato, o anjo estava certo: Esperamos demais da vida, do destino. A ponto de não se conformar de ter um futuro ruim, o que pode acontecer com todos nós. Talvez o problema esteja apenas na maneira de pensar. Que não devemos esperar, e sim, mudar nosso modo de fazer agora, para que no futuro tenhamos o destino que sonhamos...