Dr. Napier e o cargo de chefia...

Por Bruno Carvalho

Relato de um enfermeiro a respeito do genial trabalho de Dr. Napier...

Na sala de espera:

- Dizem que tomar leite pode ser prejudicial, pois a quantidade de química que ali reside é muita!
- Pois é...
- Depende também do tipo sanguíneo, dizem que quem tem o sangue A+ não deve tomar leite.
- Tomar leite quando se está gripado é ruim porque acumula catarro...
- Uma coisa é certa... Tomar no cu é certeza que a gente sempre toma!
- O que é isso Dr.?

E era assim que Dr. Napier conquistava seus pacientes: Com uma resposta franca e ríspida. Como nosso ambulatório atendia centenas de pacientes, fazíamos horas-extras constantemente. Mas com a chegada de Dr. Napier tudo isso mudou.

- Agora vamos ter hora de almoço e no máximo seis horas da tarde, encerra-se o expediente...
- Dr. Mas e os que chegarem depois...
- Isso é um posto de saúde e não uma instituição de caridade. Se quiserem ficar, que fiquem, porem, eu não participarei disso...

Enquanto o antigo médico chefe atendia um paciente a cada meia hora, Dr Napier atendia um paciente a cada cinco minutos. Chegamos até a pensar em denunciar o Dr. Napier para o conselho de medicina, mas os elogios ao ambulatório e ao atendimento eram tão constantes, que desistimos logo em seguida...

- Próximo! – Objetividade, é isso que eu prezo – disse o Dr. Olhando e piscando para mim.

Por mais que o atendimento estivesse bom, ainda criticávamos o jeito rude do Dr. Que sempre estava com a Barba por fazer e uma sinceridade fora do comum. Às vezes, ouvíamos de seu consultório algo do tipo:

- Ah! Então a bonitona quer emagrecer sem fazer exercício! Só na base do remédio! Só morrendo então querida! Só morrendo! Milagre minha filha, é só na igreja!
- Vergoinha de mostrar o pintinho com doencinha venérea bem? Mostra aí vai? Desenrola!!!

No dia da primeira reunião geral, algo nos fez mudar de idéia, pois começamos a perceber que todo o tratamento do Dr. Napier era simplesmente genial. Ele estava fantasiado de ursinho carinhoso. Após o espanto de todos ele disse:

- Quem sou eu?
- Um louco, presumo eu..- disse uma enfermeira.
- Não! Eu sou um ursinho carinhoso. E de agora em diante, não posso fazer mal a ninguém. Minhas palavras serão frescas e doces, entendido?
- Entendido – dissemos, para não contrariá-lo.

- Não quero ouvir mais que o Chefe quis me embaraçar na frento dos outros ou algo do gênero! Fim da reunião, voltem ao trabalho!

Diferente de todos que já haviam passado por ali, Dr. Napier era deveras objetivo e louco para se fazer entender. A loucura e a genialidade andam de mãos dadas, principalmente quando se trata de Dr. Napier...

- Eu acho que sou gay Dr., o que você acha disso?
- Complicado...
- Por que?
- Por que para ser gay tem que ser macho pra caralho...
- Como assim?
- Deve-se ter a coragem para assumir perante a família, a coragem para andar de mãos dadas com o outro por aí, ter a coragem de enfrentar a timidez para paquerar o o outro homem, creio eu que deve se mais difícil... Você é tímido?
- Não...
- Que bom... Já pensou em ser gay e ainda pro cima tímido? Deve ser muito complicado...
- Mas eu vou assumir e vou enfrentar as conseqüências!
- Pois saiba que tudo em sua vida irá mudar: Seus amigos não serão mais os mesmos, você literalmente vai ficar para titio, e de quebra seus sobrinhos vão te zoar pelas costas. Aliás, nada a ver, por que a maioria dos gays tem língua presa?
- Sei lá Dr.?
- É um mistério não é mesmo? Isso sem falar na hora do sexo, que, acredito eu, deve ser bem mais, digamos, estranho...
- Tenho que ir agora Dr. Mas vou pensar no que você falou....

E o paciente sai do consultório, mais macho do que nunca...

Hoje Dr. Napier trabalha na área de pesquisas sociológicas. É respeitado por todos e um exemplo raro de genialidade. Com certeza, o melhor chefe que tivemos. Sentimos saudades, principalmente agora que voltamos a fazer horas-extras...