
Olha só esse menino...
Alimentado com decepções diárias,
Chacoalhado com verdades retumbantes,
Fatigado de refeições indigestas,
Vitimado pela sequidão humana.
Sempre junto, mas nunca em companhia,
Desejava o medo para os momentos de gente grande,
Mas não havia adiamentos em seu ferir-se dia a dia.
Olha só esse doce menino...
E era estranho que apreciasse poesia,
Pois justo a mais bela e metamórfica,
Essa que nem nome tinha
E que da vida em si brotava,
Escapava-lhe ao sentir e ele nem percebia.
Olha só esse incógnito menino...
Queria não se tocar, não se sentir,
Não ouvir o que ouvia entre cada batida no peito,
Poder desapertar os nós de suas palavras,
Ser menos seguro de tantas inseguranças.
Procurava por uma brincadeira séria,
Ou por seriedades para se levar brincando.
Buscava ecos para os seus anseios,
Espelhos para os seus sorrisos.
Olha só esse menino caladão...
Haveria um ele além do amor que carregava,
Além das conversas que não tinha,
Além da literatura que era produto do seu silêncio?
Olha só esse menino de paletó...
Sabido de já não se saber mais,
Perdido em angustiante escuridão.
O que a vida dele fazia?
O que fizera ele de si mesmo?
Erguendo as pálpebras com pupilas mais gentis,
Vislumbrando então o oculto e o intransitivo.
Tinha mel nos lábios até para cantar a morte
E fora tantas vezes tratado como sujeito vil...
Não mais haveria de ser aquele um,
Embora jamais pudesse abandonar o menino.
4 comentários:
Felipee!
escrevendo cadaa vez melhor heein ?
isso tem que virar profissãoo!
pena que eu acho que não puxeii esse "dom" . isauhiauhsiuahsuia
Beeijo
Continuee assimm!
Como diria Renato Russo:
"Digam o que disserem,
o mal-do-século é a solidão:
cada um de nós imerso
em sua própria arrogância esperando por um pouco de atenção"
Nem mesmo as crianças escapam... Vivem num ambiente contaminado por esse mal e acabam crescendo doentes também... É lamentável...
Por outro lado, tão triste quadro foi retratado de maneira encantadora por você, Felipe... Delicado nas palavras, cuidadoso nas construções lingüísticas, mas absolutamente forte e profundo nos sentidos... Aliás, tal como acontece na vida real, em que as sutilezas costumam deixar cicatrizes eternas...
Concordo plenamente com a Laurinha: você se supera a cada sábado (em que escreve... rsrsrs).
Beijos!!!
Olha, Feilipão, enquanto fiz vc aceitar as "ironias românticas", vc me fez aceitar os poemas. Nunca fui muuuuuito fã deles, mas os seus são sempre sensacionais, com um Q a mais. Aliás, um Q e um X também. Pra mim, vc é o melhor de todos aqui para escrever poemas! Que me desculpem o resto, mas é sincero! O cara é demais, pessoal!
Veja por exemplo esse poema. Sempre tem algo o qual me identifico! E sempre tenho a impressão de que vc está falando de outros conhecidos nossos também, hahahahah!!!
Ficou magnífico, cara! Vc está sabendo usar as palavras (mesmo as mais difíceis, argh) para expor sentimentos tão inimagináveis... coisas que eu nem pensava! Vc é um autêntico OBSERVADOR da vida, cara (lembra disso?).
Gosto dessa parte:
"Procurava por uma brincadeira séria,
Ou por seriedades para se levar brincando."
E gosto de pensar que as vezes também faço isso!
Parabéns!
O mais incrível de ler seus textos, é que eles sempre tem uma singularidade. Singularidade esta que é singular a cada texto!
E eu já ia esperando morte e desgraça no novo poema do Felipe, quando me encontro com outra coisa e de outro gênero.
O mesmo que não é o mesmo!
Parabéns!
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