sábado, 16 de junho de 2007

Divagando

por Felipe Carvalho

“Fale da natureza! Não é em qualquer lugar que se vêem gramados tão aliciantes, árvores tão vicejantes e um céu que parece ter sido pulverizado com as estrelas, formando um manto todo... Sim, mas isso soaria muito óbvio e demasiadamente romântico, não acha? Qualquer um pode perceber o universo sem que para isso eu precise... Talvez, mas ‘perceber’ vai um pouco além de meramente ‘enxergar’...

Vamos discutir então sobre o ideário capitalista que está por trás do Dia dos Namorados, dos Pais, das Mães, das crianças consumistas e robotizadas... E isso seria algo inédito, garotão? Você parece gostar de um clichezinho, hã? É melhor endireitar essa proa ou esse barquinho afundará na mesmice de um filme adolescente!

Certo! Alçando novos vôos, comandante! Vou fingir que senti entusiasmo nessa frase, ok? Pôxa, eu tô tentando... Tentando? Holy motherfucker in hell! Que coisa mais brasileira esse “tentando”! FAÇA! Opa, não precisa blasfemar também... Então vai querer falar de convicções religiosas agora? Justo você? Esse será o seu “enfoque” todo particular? Desista, é polêmica desnecessária!

Na verdade, o pulo do gato está em falar de si, soltar os engates da consciência humana e... Resumindo: uma aula de auto-referência! Chatíssimo! Eta, mas você está dificinho, hein filho! Falemos, pois, daquilo que move a locomotiva da testosterona (cuma?): Mulheres! E ficar numa descrição machadiana e platônica por intermináveis linhas? E o que é que tem? Ontem mesmo tinha aquela moça exótica dos Correios, lembra? Pele morena, cabelos castanhos e ondulados, olhos incrivelmente esverdeados, sorriso cativante, pernas torneadas, colo convidativo, boca desenhada, cintura de pilão, voz aveludada... O que foi aquilo, cara? Foi mais uma prova da sua timidez de rapaz provinciano; portanto, escolha outro tema antes que eu perca a Brahma! Tudo bem, mas aquilo não podia passar batido (apenas para fim de registro).

Talvez uma resenha sobre o último livro que li, quem sabe sobre o último filme visto... Aham! Daí você entrega para a tia Audrey do ginásio corrigir! Isso aqui não é oitava série não, cidadão! Vejo que estou perdido... Jura? Quantas novidades para uma quinta-feira! Com uma percepção dessas só mesmo trabalhando na descoberta de vacinas revolucionárias! Poderia até descobrir a cura do autismo criativo, hein?

Essa noite sonhei com uma planta que chorava. Era uma aula de biologia e a professora mostrava um vídeo sobre a planta que vertia lágrimas quando era maltratada pelos humanos e... NÃO, você não é o Ciro, mocinho! Quem sabe, caso esse sonho surreal se torne rotina você até possa rascunhar alguma coisa, mas não hoje! Acho que estou perdendo o meu tempo aqui! Melhor ir ao banheiro e... Filhão! Olha o politicamente correto! Que se dane esse senhor! O negócio é engatar uma bronha! Opa! Erro de digitação! A palavra era ‘fronha’! O 'b' e o 'f' ficam pertinho no teclado! Engatar uma fronha = dormir! Vai me dizer que nunca leu isso? As pessoas não param de repetir esse adágio nas ruas! E é isso mesmo que farei! Posso até sonhar com a moça dos correios ou com um tema bem impactante para o meu texto no blog, quiçá com a planta melodramática... Não sei... Depois que acordar eu penso em qualquer coisa...”

4 comentários:

Sessyllya ayllysseS disse...

Uau!!! Quê isso que aconteceu por aqui???

Bem mais do que fluxo de pensamento, o que acabei de ler foi um furacão!

Diálogo interior e projetivo... Quanta cobrança e pressão internas...

Super original! Maravilhoso! Parabéns!!!
Bjos!!!

Ciro disse...

Original MEEESMO, viu Cissa? E muito legal também! "O negócio é engatar uma bronha", hahahahahhahahahahha!!!! Massa demais!
Felipão, ontem vc me disse q tinha postado algo diferente por aqui. Pois não vi nada de diferente, aliás, esse texto é TOTALMENTE sua cara! Todo o contexto dele faz parte de vc, de suas piadas rotineiras do dia-a-dia (que são impagáveis). A diferença, é que no mundo real vc nunca as termina, e, aqui, vc foi até o fim! Hehehehhe!! E ficou excelente na escrita!

E não é preciso ser "Ciro" para ter sonhos surreais e transcrevê-los. Todos têm esses sonhos e deveriam passar para o papel (ou para a tela?) mais vezes. Aliás, vc deveria mesmo escrever sobre essa tal planta que chora. Eis algo original, hã?

Grande abraço! Como sempre, vale a pena ler Felipe (mesmo que com atraso)

Vassago disse...

Mais surreal impossível, amigo...
Surpreendente... Brilhante!
Show!
COngratulations!
Abrç!

Bruno Carvalho disse...

Ahahahahahahh! Deveras criativo! Que texto rápido, brilhante, inteligente, criativo!
Me diverti à beça, em todos os sentidos! "Tia Audrey!" Ahahahahahahh! Com certeza esse seu texto está no meu "Top 5 dos textos do Felipe".

Minhas sinceras congratulações!!!

Grande abraço!