Mestra Dayka Niki

Por Ciro M. Costa

18 meses atrás. Logo após ser humilhado e expulso de seu vilarejo por seu inimigo Makyro Kamro, Matso Hatso caminhou sem destino, até que resolveu ir à procura da mestra Dayka.
- Se quer se vingar de Makyro, a única pessoa que conheço que pode lhe ajudar é Dayka Niki. Siga por essa estrada por 3 dias, e a encontrará. – lhe dissera um caminhante.
O guerreiro assim o fez e, 3 dias depois, encontrou uma bela moça, que possuía longos cabelos verdes, um belíssimo diamante na testa e meditava no meio da estrada. Por um momento, Matso percebeu que a floresta ao redor ficou em completo silêncio.
Ele se aproximou dela e perguntou:
- Você é a mestra Dayka?
- Quem quer saber? – perguntou ela, amavelmente.
- Eu, Matso Hatso.
Sem se mexer, nem abrir os olhos, a moça disse:
- Matso Hatso, o homem sem sentimentos. O homem que não sorri, não chora e não se zanga. Sim, guerreiro sem lágrimas, eu sou Dayka Niki.
- Como sabe tanto sobre mim?
- Se eu não soubesse, guerreiro, você não estaria à minha procura.
- Entendo. Bem, eu ouvi falar muito de você e seus ensinamentos. Gostaria que me treinasse na arte da luta com espadas.
Matso Hatso olhou profundamente Dayka, curioso para que ela abrisse seus olhos e ele visse seu belo rosto totalmente. Ela era bonita já de olhos fechados, mas, como a curiosidade normal dos homens, Matso precisava ver seus olhos.
Mas ela permanecia imóvel, como uma estátua.
- Que eu saiba – ela disse – você já é um bom espadachim.
- Sim, mas preciso me aperfeiçoar mais! Com o que sei, não consegui derrotar meus inimigos! E sei que você é a única que pode me ajudar.
- Vingança... espadas... acha que isso é o certo a se fazer, guerreiro?
- Não vejo outra forma.
- Não vê porque não quer. Qualquer um que diz que “não vê outra forma” é um cego por opção. Sempre há outra forma.
- Tudo bem. Se soa melhor, é isso que eu quero fazer! Está melhor assim?
- Bem melhor, guerreiro. Bem melhor...
Matso Hatso já estava começando a ficar impaciente:
- E então? Vai me ajudar ou não?
- Hum. Impaciência. Todos que me procuram estão sempre carregados dela. Por que será?
- Deve ser porque você provoca isso nas pessoas.
- Acha que o estou provocando? Pode ser. Mesmo assim, ainda não sinto um pingo de raiva em sua voz.
- Como você mesma disse, eu não possuo esse sentimento, juntamente com a alegria e a tristeza. Se não vai me ajudar, simplesmente irei embora.
- Não posso ajudar você como é, Matso Hatso. Para lhe ajudar, preciso que você tenha sentimentos. Do jeito que está, você está cego e inconseqüente. Você parece não ter espírito. Um guerreiro forte e inconseqüente solto por aí poderia ser um desastre, tanto pra ele quanto para os outros.
- Então...
- Para que eu lhe ajude, preciso que você me traga 3 lágrimas: uma de alegria, uma de tristeza e uma de raiva.
Assim que Dayka disse isso, um castor apareceu e deixou 3 pequenos frascos de vidro no chão, ao lado de Matso Hatso.
- Lágrimas de quem? – ele perguntou.
- Suas lágrimas, guerreiro. E não tente me enganar.
- Mas isso é ridículo!
- Só assim eu poderei lhe ajudar.
- Mas não há outra forma?
Dayka Niki nada respondeu, assim como não respondeu à nenhuma das outras perguntas que Matso Hatso fez em seguida. Era como se ele estivesse falando com uma pedra.
O guerreiro então sacou sua espada e apontou para Dayka, a fim de testá-la. Fez menção de cortar sua cabeça, mas a mulher continuou imóvel. Por um instante, Matso sentiu uma força estranha, confortadora, algo que não deixaria que ele a machucasse, mesmo que quisesse. Aquela mulher tinha uma grande força, mesmo sem se mexer. Ele já ouvira falar que Dayka era protegida por muitos espíritos, mas daí a sentir isso...
- Está bem! Eu trarei as lágrimas! Mas isso pode demorar, moça!
Dito isso, Matso Hatso embainhou sua espada, pegou os frascos de vidro e entrou novamente na floresta.