Um velho inimigo...

Por Ciro M. Costa

Atenção: essa história se passa antes da luta entre Matso Hatso e Samyra.

Nunca foi fácil reencontrar um inimigo, e Matso Hatso bem sabia disso. Ele tinha dúvidas, se era mais difícil reencontrar um inimigo que o derrotou, ou reencontrar um inimigo que foi derrotado por ele. No caso, daquela vez, era a segunda opção.
O velho Kyromu estava isolado naquela caverna havia muito tempo. Para ser mais exato, desde o dia em que Matso Hatso o derrotara na frente dos moradores do vilarejo, roubando seu cargo para si. Fora um dia histórico aquele. Finalmente, alguém derrotara o terrível Kyromu, o líder mais cruel que aquele vilarejo já tivera.
- Vou esperá-lo aqui fora. Não é preciso adverti-lo sobre Kyromu, pois você o conhece melhor do que eu. – lhe dissera Damyel Kaimen.
- Obrigado, meu amigo! Não irei demorar muito. Eu acho... – disse Matso Hatso, e entrou na caverna.
A aparência escura e o aroma frio daquele lugar não impressionaram o guerreiro. Para uma pessoa como Kyromu, nada poderia ser mais apropriado. E pensou no que realmente estaria fazendo ali. De repente, não parecia boa idéia procurar Kyromu. Será que ele estava pensando em conseguir lágrimas dessa maneira? E qual seria? De tristeza? De alegria? De raiva? Matso Hatso não sabia.
De repente, uma voz, vinda de algum lugar, disse:
- Você é muito previsível, Matso Hatso.
- Kyromu? Como sabe que...
- Senti o seu cheiro. Não preciso enxergar para saber que está aqui. O que quer?
- Eu... não sei ao certo.
- Mas você sabe que está arriscando seu pescoço?
- Sim, sei. Mas isso eu já faço há meses.
- Veio me tirar daqui?
- Não, isso eu não posso. Isso é uma coisa que você mesmo deve fazer.
- Bem, pois saiba que não pretendo sair daqui tão cedo. Ainda tenho muito que enfrentar de mim mesmo.
- Não seria melhor enfrentar lá fora?
- Hahahahahaha!!! Ah, se fosse fácil! Ah, se eu conseguisse enfrentar a mim mesmo, ao mesmo tempo em que enfrentasse as pessoas a quem fiz mal.
- Por que não tenta?
Houve um silêncio, e Matso Hatso se pôs em posição de desembainhar sua espada. Não era nada inteligente facilitar com alguém perigoso como Kyromu, ainda mais quando não se podia vê-lo.
- Estou falando sério, guerreiro. O que diabos quer aqui??? – desta vez, Kyromu parecia zangado.
- Já disse que não sei.
- Ninguém arrisca a própria vida desse jeito. Você deve ter ficado maluco com o passar dos anos. O que há? Não conseguiu ser um bom líder também? O fardo foi pesado demais pra você? Hein???
Agora, Matso Hatso se sentiu ofendido. Lembrou-se do dia em que Makyro Kamro lhe tomara o poder e o expulsara do vilarejo. Aquilo deveria ser algum tipo de maldição...
- Talvez você tenha razão. – disse Matso. – Mas pelo menos estou tentando ter o meu lugar de volta e recomeçar tudo de novo. Não estou escondido em nenhuma caverna como um covarde!
- VOCÊ NÃO SABE DE NADA, GUERREIRO!!!! – o grito de Kyromu pôde ser ouvido por Damyel, do lado de fora da caverna.
Matso Hatso sentiu um calafrio. Kyromu continuou:
- Acha que por isso é melhor do que eu? Você acha que sabe alguma coisa desse mundo, Matso Hatso? Pois eu vou lhe dizer uma coisa: você não sabe nem da metade! Acha que eu gostaria de estar aqui? Acha que eu não gostaria de estar lá fora, como era antigamente? Acha que não estou com medo???
- Se tivesse sido uma pessoa melhor... um líder melhor, talvez nada disso tivesse acontecido.
- Poupe-me, rapaz! Você sabe muito bem que líderes nunca são compreendidos! Seja ele bom ou mau, sempre será cobrado! Sempre será criticado! Sempre terá seu poder tomado! Não foi o que aconteceu com você, ‘bondoso’ Matso Hatso?
- Creio que você foi mau além da conta.
- Não, isso não importa! As coisas não são como você quer, jamais! Seja você bom ou mau, a vida te cobra um dia, guerreiro! Se você faz o mal, ela te cobra! Se você não faz o bem, ela te cobra, se você...
- Se você fica enclausurado em uma caverna escura se escondendo do mundo, a vida vai dar um jeito de te cobrar também! – completou Matso Hatso.
- Pode ser. Mas não vai ser você que vai me cobrar isso. Se não sabe o que veio realmente fazer aqui, é melhor ir embora! Ou acabo com você!
- Acho que acabo de descobrir o que vim fazer aqui. E estou mesmo de saída. Mas não se esqueça de que a vida virá lhe cobrar, de maneira bem pior.
- Fora daqui!!!
- Tudo bem. O senhor saberá onde me encontrar se resolver sair daqui... papai.