Apenas mais uma história de vampiros brasileiros – Parte FINAL

Mordido por Ciro M. Costa
Narrado por um... cachorro!?

É engraçado como você está fazendo seu xixi num momento, e no outro você chega à conclusão de que a vida não faz mesmo muito sentido. Vejam meu caso por exemplo: todas as segundas-feiras eu venho aqui, cheiro a roupa suja, dou umas latidinhas, bato uma urinada atrás de uma das máquinas de lavar, e depois vou embora pra vida. É. É assim que a coisa toda funciona. Essa é minha vida de cachorro.
Dos lugares que costumo visitar pra fazer meu xixizante, esse daqui é o mais interessante (não era minha intenção falar rimado, mas tudo bem). Toda vez que venho aqui, uma pessoa se transforma em vampiro e a fábrica inteira vira uma tremenda zona. É bem engraçado. Pelo menos pra mim.
No entanto, hoje a coisa foi um pouco diferente. Hoje, os vampiros não se alastraram pela fábrica. Muito pelo contrário. Quando um deles ia atacar um sujeito calminho, outros dois humanos chegaram e o mataram com uma estaca que parecia estar coberta de pasta de dente. Mas eles não ficaram satisfeitos não. Parece que a coisa toda não era pra ter sido assim. Quem sabe eles queriam interrogar o vampiro pra saber como ele se transformou? Bem, eu não sei. Sou só um cachorro e minhas preocupações são mínimas. Venho aqui, faço meu xixi esperto e vazo na braquiadex. Tem dessa não. É assim que funciona.
Eu sou um sobrevivente, meus amigos. Eu saio pelas ruas, caçando meu alimento do dia-a-dia. Na boa, eu sou um guerreiro canino nesse mundo cruel. As pessoas me xingam, me atiram coisas, me ‘tocam’ dos lugares... e eu estou aí, sobrevivendo e fazendo meu xixi inocente. E de que outra forma seria? Muitas vezes, os humanos não gostam que eu bata um mijadox no território deles... mas então, onde vou fazer isso? No mato, pra prejudicar a terra e matar as plantinhas? Na rua, e correr o risco de ser atropelado? Por acaso existe algum banheiro pra cachorros? Hã? Ou simplesmente vou deixar de urinar agora? Vou segurar até explodir? Seria muito pior! E olha que só estou falando do xixi, hein? Melhor nem começar a falar de outras coisas.
Na boa, acho que não tem nada de mais não. Isso é uma necessidade que eu tenho. Assim como você, sua família e seu tio que mora em Uberlândia (todo mundo que mora em Uberaba, tem um tio que mora em Uberlândia). Quem for homem aí e que nunca mijou em outro lugar que não fosse a privada, que atire a primeira pedra. Só não atire em mim, porque já estou todo calejado disso. Na boa mesmo.
Esse mundo é muito injusto, se querem saber. As pessoas ficam preocupadas com minha uréia, mas e todos aqueles peixes que estão mijando adoidado nos rios e no mar? Alguém foi lá espantar eles por causa disso? Hã? Não! Eles batem o xixinho deles lá e tá tudo certo. Na boa, isso não é legal não.
Bom, o movimento na lavanderia parou um pouco. Muitas pessoas saíram correndo daqui, e outras ainda estão sem acreditar. Deveriam estar agradecendo, pois das outras vezes as pessoas se transformaram em vampiros e só saíram daqui às seis da tarde. Hoje puderam sair um pouco mais cedo, né? Dá tempo de ir em casa almoçar e fazer aquele xixizinho sossegado. Ou então, vão chamar a polícia ou invadir os jornais locais, para contar como foi a manhã na lavanderia onde surgiu um vampiro. Acho que é assim que funciona.
Mas vai saber como essas coisas se originam, né? Vai saber de quem é a culpa!? Quem sabe da própria fábrica, de um cliente, de uma peça de roupa... quem sabe a culpa não é minha? Sim! Quem sabe o fato de eu bater meu xixicks esperto sempre naquele mesmo local, onde ficam aquelas duas meias, aquela cueca e aquele cachecol enrolados, sujos e fedidos, e que ninguém nunca encontrou... quem sabe isso não seja a causa de tudo? E essas coisas sempre acontecem justo nas segundas-feiras, o único dia da semana em que venho fazer xixi aqui. Será?
Bom, eu não sei. Só sei que é assim que funciona. Na boa.