terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Mikushi, o mendigo japonês...

Por Bruno C. O. Carvalho

Para você que está lendo esse texto e se perguntou: É mesmo... eu nunca vi um mendigo japonês! saiba o porquê!





- Olha ali cara! Não tô acreditando!
- O quê?
- Um mendigo japonês!
- Ahahahahahhah! Noummmmm! Pega o celular! Vamos filmar!
- Beleza, vamos lá!

...

- O que vocês querem?
- Você é mendigo?
- Não! Sou a Cleópatra disfarçada! É claro que sou mendigo!
- Ahahahahahhahha, e além do mais é engraçado!
- Me deixem em paz!
- Você é japonês?
- Eu sou é um filho de uma puta, isso sim!
- Ahahahahahhahahahh!
- Não é pra rir! Meu pai era japonês, e veio para o Brasil. Procurando algo novo, foi a um prostíbulo. Minha mãe engravidou, e daí para frente vocês já sabem. Resumindo, se vocês me chamarem de japonês filho da puta, tá tudo certo!
- Ahahahahahahhah! O cara é bom mesmo!
- Parem com isso! Respeitem minha cultura!
- Vamos colocar o vídeo no youtube, ahahahahahahahhahahh!

São Paulo, terra da oportunidade, e também, digamos, terra onde tudo pode acontecer. Tudo em grandes dimensões: Cinemas, teatros, edifícios, casas, lojas, número de ricos, pobres, e tudo mais. Em meio ao ar diferente que circulava por ali, estava Mikushi, o andarilho.
Este estranho homem decidira largar tudo para ser simplesmente um mendigo. Decidira trocar o conforto de sua casa pelo lar do mundo: As ruas, ou, na melhor das hipóteses, o acaso. Não, não compensava mais trabalhar para sobreviver. O conforto de chegar em casa após um dia de trabalho e assistir a televisão, ou se divertir no fim de semana não valia a pena.
Mikushi decidira virar mendigo. Pedia para as necessidades mais urgentes e pronto! Se tinha fome, pedia comida, se tinha sede água, e papo findo. Aliás, como qualquer outro mendigo. Segundo pesquisas, muitos que moram na rua, preferem a vida assim, sem rumo. E Mikushi era um deles. Em sua vida de “mendigagem”, podia esperar de tudo, menos... não conseguir ser mendigo. Com a sua habilidade para inventar histórias (assim como a história acima), e ainda ser japonês, Mikushi se diferenciava dos demais.
Enquanto os outros continuavam mendigando, Mikushi ganhava muito só por ser o único em sua, digamos, classe...

- Vou lhe dar dois reais! Que massa! Um mendigo japonês!
- Vá a puta que o pariu!
- Ahahahahahhahahah! Toma cinco!

Após muitos comentários e vídeos postados no youtube, Mikushi virou celebridade. Por mais que tentasse, não conseguia viver como um mendigo. Seus “colegas” de trabalho não gostavam dele, por ser diferente demais. Não o deixavam pedir dinheiro na área deles. E com razão, pois Mikushi realmente roubava a cena.
Além do mais, a imprensa se interessou pela história de Mikushi, que, nos tablóides*, passou a ser chamado de: Mikushi, o andarilho. A partir daí, era convidado por muitos para festas e eventos. Era exemplo para tudo o que acontecesse.
É, como dito antes, ele podia esperar de tudo na vida de “mendigagem”, menos... não ser um mendigo. Por falta de “incentivos”, Mikushi se integrou novamente à sociedade. Agora vive a dar palestras. Ele sabe que não vive como quer, mas fez o que pôde. Nesta vida cruel, é muito difícil fazer de tudo, até ser mendigo.
Em uma parte de sua palestra, Mikushi fala de suas experiências e também relata a história de Giselda, uma moça linda, com um corpo perfeito. Essa moça fez o que fez para virar mendiga, mas acabou virando outra coisa... Bom, mas isso já é outra história...
Por essa e outras, nenhum outro japonês se atreveu a tornar-se um mendigo, pois a história de Mikushi (que também foi lançada em mangá), demonstra, acima de tudo, que por mais que se tente não trabalhar, você acaba trabalhando. E que o maior mendigo não é o das ruas, e sim, o parasita, que quer viver da forma mais fácil. Aquele filho de papai, aquele sempre sustentado por outros. Aquele, que sequer tem coragem de sair e pedir dinheiro pelas ruas...


* Palavra legal! Sempre quis usá-la!

7 comentários:

Carlos Filho disse...

- Vou lhe dar dois reais! Que massa! Um mendigo japonês!
- Vá a puta que o pariu!
- Ahahahahahhahahah! Toma cinco!

"Colegas de trabalho" essas foram boas! hahahaha
Bom texto!

Ciro disse...

Hahahahahahah!!!! Quando eu li o título desse texto, já pensei: "lá vem merda!!".
Boa sacada, Brunão. A gente logo percebe que a viagem à capital lhe trouxe boa inspiração.

Além do trecho que o Carlim citou, também gostei da parte do "que por mais que se tente não trabalhar, você acaba trabalhando". E não é que é verdade? Hahahahahah!!! Muito bem dito, meu amigo. Muito bem dito.

Nota 10!

Felipe Carvalho disse...

Hahahahhahahahahaha

Mendigo japonês pra mim é totalmente inédito!! kkkkkk


Tás de parabéns, filhão!

Realmente aqui vc conseguiu inspiração! hahahahhahahahaha


abraçooooo

Anônimo disse...

Excelente! Mikushi é o cara! Mikushi seria aquilo que chamaríamos de "liderança motivacional" ( eita!), termo bastante utilizado por esse povo de auto-ajuda que dá palestras para empresários e aspirantes a empresários.

A estratégia dele é ótima:

"- Vou lhe dar dois reais! Que massa! Um mendigo japonês!
- Vá a puta que o pariu!
- Ahahahahahhahahah! Toma cinco!"

É um gênio! hehehehe!

abs! E parabéns pelo texto!

Sessyllya ayllysseS disse...

Tabloide*...
*Palavra legal! Sempre quis usá-la!

Auaiauahiahaiui!!! Essa foi a melhor!!!

Texto muito bem sacado!!!
Super parabéns!!!

KAREN KID disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
KAREN KID disse...

Muito interessante...Parabéns Bruno!