Entrevista e 1º Dia de trabalho
Começo o dia espantado por ver um dos funcionários gritando:
Começo o dia espantado por ver um dos funcionários gritando:
- Ganhei na Mega-sena! Ganhei!
Como era novato, decidi apenas observar a situação. O rapaz estava eufórico, mas quem não ficaria ao saber que havia ganhado mais de trinta milhões de reais!
Um fato que me chamou a atenção, foi o de ele continuar trabalhando. Não resisti, e perguntei:
Um fato que me chamou a atenção, foi o de ele continuar trabalhando. Não resisti, e perguntei:
- Cara! Você acabou de ganhar na Mega-Sena e continua trabalhando!
- Não, não... não posso deixar o Sr. Jarbas na mão. Vou esperar até que ele arrume outro para me substituir... Sabe, o Sr. Jarbas é um ótimo patrão! Ele é amigo da gente! Eu até emociono quando falo nele e...
- Ah, tá... – Disse eu, me distanciando, pois tinha nojo de pessoas que gostavam de patrões. Ainda mais daquele jeito.
- Seja bem-vindo Sr. Roberto – disse a secretária. - Queira entrar naquela sala para conhecer o dono da empresa: O Sr. Jarbas...
Aceitei o convite, e entrei na sala. De início, não estranhei, pois muitas pessoas aparentam ser boas na primeira impressão. Até mesmo os patrões:
- Como vai Roberto? – Disse ele apertando minhas mãos.
- Vou bem – respondi.
- Chega de enrolação! Quanto quer ganhar?
Nunca sei responder essas perguntas! Se respondo a verdade, tipo “Vinte mil reais”, tenho medo de perder a oportunidade, ou me confrontar com a situação de ter que contra argumentar se eu tenho mérito para isso ou não. Se minto, bem... se minto estou mentindo, e vou continuar sendo o mesmo merda que sempre fui.
- Essas perguntas são um lixo mesmo, né? – Disse ele. Fala logo, aí!
“Foda-se” (pensei) – Quero ganhar “Vinte mil reais”, Senhor.
E ele, sem ao menos esboçar sinal de espanto, retrucou: - Ok!
2° dia de trabalho
Estava eu trabalhando, ainda pensando no dia anterior. Na certa, ele estava brincando. Não seria possível ganhar Vinte mil reais. De qualquer forma, o primeiro dia já havia terminado, e a possibilidade daquilo ser uma pegadinha estava nula.
- Ó o vale do dia! – Disse um funcionário.
- O quê? – Perguntei.
- É que aqui a gente recebe por dia!
Terminei o dia não acreditando que tinha quase “mil reais”, em dinheiro, no bolso.
3º Dia
Nem vi o dia passar. Trabalhei pouco, e ainda, de hora em hora tinha que parar por meia hora. Era a rotina imposta pelo Sr. Jarbas. Quando acabou o horário de trabalho. Uma senhora muito mal-humorada disse para mim:
- Hoje tem que fazer hora-extra!
Na hora pensei: “Cara! Como eu odeio isso! Odeio ouvir notícias de última hora desse jeito! Já havia me programado!”
Nesse meio tempo, aparece o Sr. Jarbas. Estranhei por ela falar com ele no mesmo tom que falou pra mim. Ela também falou que ele tinha que fazer hora extra, porém sua resposta foi um sonoro “Vai tomar no cu!”.
Ele olhou para mim, deu uma piscadinha e disse: - Manda também! Larga de ser bobo! – e foi-se embora.
Olhei para a senhora e disse: - O Sr. Jarbas mandou eu te mandar tomar no cu! – E fui embora. Claro, com mais mil no bolso.
4° dia
Perguntei para um colega se não havia exagerado pelo dia anterior. Ele deu uma gargalhada e disse:
- Esquenta não, sô! O Sr. Jarbas contratou a Dona Dulce só pra gente gritar com ela! Ela sempre vai te perguntar isso no fim do dia, pode ficar tranquilo!
Lembro-me, neste dia, que houve um sorteio, o sorteio da quinta. Todos ganharam R$ 2000,00. Novamente perguntei ao colega: - Mas... todos ganharam... isto está certo mesmo?
- É sempre assim, ahahahahahahah! Aqui todos ganham!
5° Dia
Quem? Quem não ficaria espantado em trabalhar em uma empresa daquelas? Ainda mais eu, que sempre trabalhei em empresas que estavam falindo. Em empresas onde o patrão era odiado por todos. Onde eu ganhava pouco. Onde enfrentava pressões por todos os lados. Onde faziam de tudo para ferrar, ferrar e ferrar ainda mais o trabalhador!
Eu estava muito perdido. Mesmo com os amigos falando que aquilo era normal, que todos os novatos estranhavam pela empresa ser boa demais, eu não conseguia me adequar.
Trabalhei mais um dia. E mais um dia não me estressei. Pelo menos no campo de trabalho.
Mas minha mente “borbulhava” de tanto pensar a respeito daquilo! Era para eu ficar feliz por ter conseguido o emprego dos sonhos. Mas eu não estava.
Mandei Dona Dulce ir à "puta que a pariu" e fui embora. Eu tinha passagens para Bariloche, com tudo pago, para passar o fim de semana com a família. Era o “prêmio novato”. Mais uma idéia do Sr. Jarbas.
Segunda – Feira (6° dia de trabalho)
Meu telefone toca às cinco da manhã. Era o Sr. Jarbas avisando que eu não precisava ir trabalhar. Seu argumento era que quem trabalha na segunda é otário. Era o jeito do patrão avisar que a gente nunca trabalhava às segundas.
...
E assim os dias se passaram. A cada dia, uma nova surpresa, uma nova premiação. Um mundo novo se abrira para mim. Um mundo onde não havia mais cheque especial. Onde dinheiro não faltava. Onde tudo o que eu precisava (ou o que não precisava) estava à minha disposição!
Mas, não... eu não me conformava. Não me conformava de meu mundo ter caído! Eu teria que assumir que meu patrão realmente era gente boa! Não era possível que ele não tinha nenhum podre!
Tanto que passei a pesquisar sobre ele, sobre a empresa, e pasmem: Não achei nada! Ele e a empresa realmente eram honestos! Será que Graciliano Ramos estava errado quando disse que “Todo patrão é um filho da puta”? E eu sempre adorei esse modo de pensar, afinal de contas, nunca fui um bom empregado, e essa era sempre uma excelente válvula de escape para me sobressair.
Naquele momento eu estava convicto, convicto por ter encontrado o Sr. Jarbas, talvez o único patrão gente boa do mundo. Com lágrimas nos olhos, entrei em sua sala. Ele, sempre muito solícito, perguntou se eu estava passando por algum problema.
- Na verdade não, Sr Jarbas. Muito pelo contrário. Vim aqui para te agradecer!
Dei-lhe um abraço bastante sincero. As lágrimas continuavam a rolar sobre minha face.
Ele olhou para mim, como um pai olha para um filho. E disse: Não agradeça a mim, agradeça a você mesmo! Vocês, meus queridos é que fazem essa empresa prosperar!
Lembro-me, neste dia, que houve um sorteio, o sorteio da quinta. Todos ganharam R$ 2000,00. Novamente perguntei ao colega: - Mas... todos ganharam... isto está certo mesmo?
- É sempre assim, ahahahahahahah! Aqui todos ganham!
5° Dia
Quem? Quem não ficaria espantado em trabalhar em uma empresa daquelas? Ainda mais eu, que sempre trabalhei em empresas que estavam falindo. Em empresas onde o patrão era odiado por todos. Onde eu ganhava pouco. Onde enfrentava pressões por todos os lados. Onde faziam de tudo para ferrar, ferrar e ferrar ainda mais o trabalhador!
Eu estava muito perdido. Mesmo com os amigos falando que aquilo era normal, que todos os novatos estranhavam pela empresa ser boa demais, eu não conseguia me adequar.
Trabalhei mais um dia. E mais um dia não me estressei. Pelo menos no campo de trabalho.
Mas minha mente “borbulhava” de tanto pensar a respeito daquilo! Era para eu ficar feliz por ter conseguido o emprego dos sonhos. Mas eu não estava.
Mandei Dona Dulce ir à "puta que a pariu" e fui embora. Eu tinha passagens para Bariloche, com tudo pago, para passar o fim de semana com a família. Era o “prêmio novato”. Mais uma idéia do Sr. Jarbas.
Segunda – Feira (6° dia de trabalho)
Meu telefone toca às cinco da manhã. Era o Sr. Jarbas avisando que eu não precisava ir trabalhar. Seu argumento era que quem trabalha na segunda é otário. Era o jeito do patrão avisar que a gente nunca trabalhava às segundas.
...
E assim os dias se passaram. A cada dia, uma nova surpresa, uma nova premiação. Um mundo novo se abrira para mim. Um mundo onde não havia mais cheque especial. Onde dinheiro não faltava. Onde tudo o que eu precisava (ou o que não precisava) estava à minha disposição!
Mas, não... eu não me conformava. Não me conformava de meu mundo ter caído! Eu teria que assumir que meu patrão realmente era gente boa! Não era possível que ele não tinha nenhum podre!
Tanto que passei a pesquisar sobre ele, sobre a empresa, e pasmem: Não achei nada! Ele e a empresa realmente eram honestos! Será que Graciliano Ramos estava errado quando disse que “Todo patrão é um filho da puta”? E eu sempre adorei esse modo de pensar, afinal de contas, nunca fui um bom empregado, e essa era sempre uma excelente válvula de escape para me sobressair.
Naquele momento eu estava convicto, convicto por ter encontrado o Sr. Jarbas, talvez o único patrão gente boa do mundo. Com lágrimas nos olhos, entrei em sua sala. Ele, sempre muito solícito, perguntou se eu estava passando por algum problema.
- Na verdade não, Sr Jarbas. Muito pelo contrário. Vim aqui para te agradecer!
Dei-lhe um abraço bastante sincero. As lágrimas continuavam a rolar sobre minha face.
Ele olhou para mim, como um pai olha para um filho. E disse: Não agradeça a mim, agradeça a você mesmo! Vocês, meus queridos é que fazem essa empresa prosperar!
FIM
Ass. Roberto Marques Maciel, paciente do Sanatório de João Molevade.
4 comentários:
Brunão, que água você andou tomando? Parece que esse período de 'férias' fez MUITO BEM pra você!
Hahahahahahahahahah!!! Excelente texto! Excelentíssimo! É o tipo de história que nem precisa ter um final caprichado, pois ela em si já é perfeita! Hilária!
Te juro que ri em TODOS os dias de trabalho do Roberto! 'Ó o vale aí', hahahahahahahah!!! Que patrão é esse que contrata uma muié só pra ser xingada? Hahahahahahahha!!!! Além de outras pérolas como "Prêmio novato", "quem trabalha na segunda-feira é otário"... gênio, filhão! Gênio!
O Sr. Jarbas é meu mais novo ídolo! Hahahahahahahha!!!
Vou pensar duas vezes antes de postar minha crônica na sexta de novo, hahahahahahah!!!
Parabéns (de novo)!
Hahahahahaha... Bom demais, textão massa esse ai!
AHUhauauhuhaUHAUHAUHAUAHAHU
Mais uma lenda urbana!
Uauiahiuahiahihai!!!
Fantástica e fodástica!!!
Só doido mesmo pra escrever uma história dessas...
Muuuuuuuuuuuuuito bom!!!
Concordo com o Ciro!!!
Parabéns!!!
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