sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Belas Histórias da Vida: "A Balada de Paulo"

Amado por Ciro M. Costa

Está na hora de contar a vocês, mais uma dessas belas histórias da vida. E digo mais: contarei com imensa alegria! Sim, porque a vida é cheia de belas histórias, e estas devem ser repassadas com muita, muita alegria! Porque o que é belo, é sempre alegre! E tenho dito!
Houve, certa feita, um rapaz chamado Paulo. Paulo sim, pois este era seu nome e assim todos o chamavam. Quando alguém se aproximava e dizia “Paulo!”, ele sabia que era com ele. Ah, se sabia!
Paulo era um rapaz que adorava ser amado. Claro, todos queremos ser amados, mas Paulo queria ser amado por todo o mundo, sem limites. Sempre se comportou de maneira com que todos o amassem muito. Se sua mãe precisava de algo, Paulo fazia tudo com muito bom gosto, para ser amado por ela. Se seu pai lhe dava uma bronca, Paulo ouvia tudo com um sorriso, e seu pai o amava ainda mais. Se ia até a padaria, Paulo entrava sorrindo e cumprimentando a todos, para sair de lá amado pelos funcionários. Se estava em uma festa de aniversário, Paulo desejava felicidades a todos os convidados (mesmo que somente uma pessoa estivesse fazendo aniversário), para ser mais amado e fazer disso uma grande festa.
Porque ser amado era a coisa mais importante do mundo para ele. Paulo gostava de ser amado até por suas ex-namoradas. De vez em quando, ligava para elas:
- Oi. Aqui é o Paulo. Você ainda me ama?
- Claro que sim, meu anjo! E você? Ainda me ama?
- Sim.
- Então, volta pra mim!
- Não.
- Mas por quê, se nos amamos?
- Porque você me ama bem mais quando está sem mim. Então, é melhor que continue assim, pois serei bem mais amado. – e Paulo desligava o telefone.
Um dia, ao andar pela cidade sorrindo para todas as pessoas, Paulo viu um cemitério. “Hum, será que posso colher amor aí dentro também?”. Então, ele entrou.
O cemitério, como todos bem conhecem, era um lugar muito calmo. Não havia ninguém por lá. Paulo ficou olhando todos aqueles túmulos com aquelas flores e fotos embaçadas de pessoas já morridas. Olhou para os lados, procurando por alguém, mas não encontrou. Então, ele se ajoelhou perante um túmulo, e perguntou:
- Você me ama?
Não houve resposta. Ainda não satisfeito, Paulo foi até outro túmulo e fez a mesma pergunta, também sem respostas. Assim, foi até cada túmulo daquele cemitério... e ninguém lhe respondeu nada. Paulo entrou em desespero. Estava ali um lugar onde as pessoas não o amavam! O que fazer?
Então, a uma velocidade que só pessoas humanas podem correr, Paulo saiu dali em disparada. Precisava fazer algo urgentemente.
Chegou em casa, acessou a internet, e começou a mandar recados de amor para todas as pessoas do orkut. Eu disse todas. Depois disso (que durou vários dias), Paulo pegou a lista telefônica e saiu ligando para as pessoas, felicitando mensagens de amor. Algumas pessoas não gostaram daquilo, pensando se tratar de algum trote. Mas não parou por aí: Paulo pegou listas telefônicas de todas as cidades do mundo e ligou para todos. Vocês podem até não acreditar nisso, mas ele o fez. E aquilo durou muitos e muitos anos... Paulo até tinha arrumado um emprego (onde era amado por todos) só para poder pagar a conta telefônica (por algum motivo, a Cia Telefônica começou a amá-lo mais também). Mas não pensem que Paulo somente usava o telefone para ser amado! Não, não e não! Ele havia se dedicado à várias causas, festas beneficentes, doações ao exército da salvação, visitas à hospitais e cadeias, aparições na TV e no rádio, etc, etc e eticétera
Assim foi, até que Paulo ficou velho. E ele percebeu que já era amado por mais de 90% do planeta, incluindo animais, insetos, moluscos e vitórias-régias. Então, ele disse:
- Já sou amado por muitos. Não posso chegar aos 100%, pois seres vivos viventes nascem a cada dia. É um trabalho interminável, mas acho que fiz o bastante. Agora, preciso ser amado por aqueles a quem julguei impossível ser amado.
Então, Paulo escreveu um belo poema sobre sua vida (para continuar sendo amado por todos, depois que morresse) intitulado “A Balada de Paulo”... e se entregou à morte. Teve um ataque do coração e morreu.
Agora, Paulo está morto. E é amado por todos os mortos daquele cemitério...

3 comentários:

Giovanni disse...

Ciro, lindo texto. Penso que estamos diante de, talvez, uma releitura do Narciso. Mas desta fez, em vez do espelho das águas, as próprias pessoas são o espelho de Paulo. Parabéns pelo texto!

Pietro disse...

Já havia lido este texto anteriormente, não sei se no falecido Faleciro ou aqui no Boneco verde mesmo... Mas mesmo assim é ótimo de ser relido

Sessyllya ayllysseS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.