Faltavam 181 dias para o meu aniversário que, sabe-se lá por que, caía justamente no dia do Réveillon: 31 de dezembro! Tinha um bom tempo para deixar tudo preparado. Mesmo sendo um cara organizado, se não houver planejamento e um bom prazo, quase nada dá certo nessa vida! Muitas pessoas funcionam na base do “Se vira nos 30”, fazem tudo de véspera e tal. Até sou bom nisso, já me safei de muitas graças a improvisos e um certo cinismo. Aliás, umas doses de persuasão e criatividade fariam muita gente boa ir longe... Já vi tantos esforçados e “inteligentes” levando vidas medíocres porque lhes falta esse “manejo” a mais... No entanto, nem isso me salvou de uma vida nula e inerte! Preferiria mil vezes ser o coitadinho, fraquíssimo e esforçado, porém que consegue suportar o dia-a-dia numa boa. Por isso, pelo menos uma vez na vida, eu quis fazer a coisa de um modo diferente, seguindo a cartilha dos certinhos “psicadões”!
Naqueles dias, o Henrique havia me chamado de vaidoso e egocêntrico! E eu retruquei dizendo que apenas me esforçava para gostar de mim mesmo! E fui mais além: perguntei-lhe se achava normal um cara demonstrar má vontade até mesmo para andar. “Hein, Henrique, responde: o que se pode esperar de um sujeito desses?! Ou você acha que ninguém percebe isso? Antes um “egoísta” a um cara desdenhoso e brochante como você!” Desde esse dia, não nos falamos mais... Foi foda superar tal fato, ainda mais pra mim, que sempre pude contar minhas amizades nos dedos de uma só mão... E apesar de tudo, eu gostava bastante dele, o cara tinha um coração muito nobre!
Bom, mas os dias foram se atropelando e aos poucos eu me animava por conseguir realizar as tarefinhas a que me propusera! Estava firme na minha dieta, só abria exceção para o meu rum companheiro! Consegui anular meu orgulho e pedir desculpas a Henrique e também a meu irmão Miguel, com quem eu não trocara qualquer palavra por pelo menos 2 anos. Foi um abraço mais mecânico do que sincero, mas eu sabia que aquele primeiro passo faria com que voltássemos a gostar um do outro.
Embora já houvesse passado 8 meses do prazo que o Dr. Márcio me dera, eu resolvi terminar aquela tradução maçante e fui até o seu apartamento entregá-la. Claro que não cobrei nada! Ganhei na minha consciência! E falando em ganhos, durante esse período pré-aniversário, priorizei o pagamento de minhas dívidas materiais também! Acertei com o meu gerente aqueles 1832 reais do banco e pude finalmente limpar meu nome! Paguei ao Eduardo aquela última cervejada que ficara em "a ver" e também devolvi à Manuela os 120 reais emprestados junto com o livro do Goethe.
Havia conseguido perder 9 quilos e nunca estivera em melhor forma! Ah, como é boa a sensação de estar em dia com tudo! Mas nem esse alento fazia com que me sentisse uma pessoa feliz ou digna de qualquer admiração!
No último sábado, véspera do meu aniversário, fui até a loja do Elias dizer tudo o que eu pensava com relação à forma como ele tratava os seus clientes e principalmente os seus funcionários. Foi algo meio gratuito de minha parte, mas eu me senti extasiado ao fazê-lo! “O senhor é um grandessíssimo FILHO DA PUTA, sabia? O tipo de cara que brocha com a amante e quer descontar nos clientes! Um infeliz que não se importa em abrir a janela do carro e despejar um saco de lixo na rua! É um tipo de humanóide que não tem auto-estima nenhuma e tenta se elevar rebaixando os demais! Ou você acha que eu não o vi humilhar aquele coitado daquele garçom, hein?...” “...E EU GRITO O QUANTO EU QUISER! E não tenho medo de processos! A lei nesse país é feita e executada por escroques, sacanas e recalcados como você! Portanto ela também não funciona!” E saí dali em meio ao riso contido dos funcionários daquele homem e à expressão de “estou pelado na multidão” do ignóbil...
Bem, era chegado o dia e minha festa estava marcada para as 17h00. O céu ainda estaria claro e as pessoas poderiam, caso quisessem ou conseguissem, abandonar aquele ambiente e rumar para as comemorações de Ano Novo junto aos seus.
Havia gravado quase 6 horas de músicas em 5 CDs de áudio que seriam executados durante o "show". Eram músicas que sempre me fizeram querer mais da vida, que sempre me impulsionaram, me puseram pra baixo ou marcaram épocas importantes nesses 20 anos de existência terrena. De Beatles a Carpenters, de Belchior a Cássia Eller, de Bach a Simon and Garfunkel, de Elvis Presley a Tears For Fears, de Chico Buarque a Thalía... Enfim, estava tudo lá! Hits que tinham a minha cara, que mexiam comigo! E meus amigos e familiares, embora detestassem muitos deles, associá-los-iam à minha pessoa com toda a certeza!
O que mais me orgulho nessa história toda (se é que há algo digno de apreço), foi o fato de ter feito tudo sem qualquer ajuda ou mesmo conhecimento de outrem.
Acho que 20 é um número “legal”, cabalístico até. Portanto, esse não poderia ser qualquer evento! Havia providenciado, com bastante antecedência e meticulosidade, uma meia dúzia de pôsteres de algumas de minhas melhores fotos! E também preparara um arquivo de PowerPoint com slides de fotos com amigos e parentes, mensagens de agradecimentos, confissões íntimas e até mesmo algumas piadinhas pessoais. Os pôsteres já estavam espalhados pela varanda e o telão e o retroprojetor devidamente posicionados. Aquilo estava à minha altura, coisa fina mesmo, para ser lembrada por muitos anos.
Na mesa principal da varanda, ao lado do bolo de nozes, havia 16 cartas, cada uma com o nome de um dos meus convidados (que incluíam meus pais, irmãos e alguns amigos).
Faltavam 28 minutos para o momento da festa! Acabara de tomar o meu mais demorado banho e vestido o meu mais lindo paletó! Barba feita, cabelos penteados e muito perfume! Ninguém havia chegado ainda. Dirigi-me até o meu quarto e me sentei frente à janela. Senti um vento delicioso massagear meu rosto... Aquele momento não tinha preço! E sem qualquer sentimento de dúvida ou de culpa abri a gavetinha, peguei o vidrinho que vinha guardando por 2 meses e entornei todas aquelas pedrinhas brancas num só gole. Um copo de rum me ajudou a deglutir aquilo tudo.
Enquanto digeria aquela solução, ouvi tocar a campainha! Devia ser o rapaz das flores trazendo minhas orquídeas! Queria garantir que não comprassem cravos! Detesto esses modismos...
Feliz Aniversário e FELIZ ANO NOVO a todos!
E quem viver verá...
Alguns parágrafos simplesmente se recusam a "aceitar" a fonte! Arghhhh!E desculpem pelo tamanhão da crônica. Achei que se encurtasse perderia muita coisa...Feliz Ano Novo, galera!
Simplesmente fenomenal!! Maravilha de narrativa!! Você disse que o conto ficou grande, mas eu nem percebi, fato que concretiza sua excelência!Também achei muito interessante o fato de você entender o que o leitor pensa. O fato da gente querer deixar tudo certo, tudo limpo, mesmo quando não temos um comportamento para tal!!Seu texto traz um pouco de você, mas também grandes elementos para o mundo!Sem mais belongas, o melhor texto que você já escreveu!!Excelente cara!!!
Filho da Luzzzzzz!!!!Felipão, como já disse o Bruno em outro comentaria a uma cronica "Fechou o ano com chave de diamante". Parabens Felipe!Feliz ano novo!
Felipeeee!!!!Ameii d+ seu textoo...Mtoo bomm, principalmente o final!Bjoo praa vc![!] Feliz Ano Novo [!]
Muito bom texto, Felipe! Muito bom MESMO!!! Adorei de verdade! Mas estou na dúvida: então não é um texto seu? É do Arthur D´angelo? Se não é seu, tem muitas coincidências com fatos do nosso cotidiano!Abraço! E Feliz 2007
Gostei, Felipe!Mas por que "Feliz Aniversário"? Não entendi?! Aliás, já estamos no Ano Novo? Não entendi muita coisa...
Caraca, Felipe, que máximo!!! Balula, como dizem vocês (quer dizer, não sei o que isso significa, mas imagino que seja um elogio, rsrsrs...)Gostei demais!!! O cara faz a gente pensar que ele realmente "se ama" e tals, mas no final ele se dá um presente um tanto quanto controverso, né?! Ou não (rsrsrs).Concordo com o Ciro que o texto tem algo de você, mas é aquela história: Felipe é Felipe, autor é autor, narrador é narrador, personagem é personagem e etc é etc. Não devemos confundir essas coisas (rsrsrs).Mas, sério mesmo, adorei!!!
Valeu, galera! De verdade! Bruno, Carlim, Laurinha, Ciro, "Miguel" e Cecília: muito obrigado!São poucos os comentários, mas que se tornam MUITO pela sua qualidade e sinceridade! Fico realmente feliz! Saibam que vocês são uma inspiração pra mim !(clichesíssimo!)
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8 comentários:
Alguns parágrafos simplesmente se recusam a "aceitar" a fonte! Arghhhh!
E desculpem pelo tamanhão da crônica. Achei que se encurtasse perderia muita coisa...
Feliz Ano Novo, galera!
Simplesmente fenomenal!! Maravilha de narrativa!! Você disse que o conto ficou grande, mas eu nem percebi, fato que concretiza sua excelência!
Também achei muito interessante o fato de você entender o que o leitor pensa. O fato da gente querer deixar tudo certo, tudo limpo, mesmo quando não temos um comportamento para tal!!
Seu texto traz um pouco de você, mas também grandes elementos para o mundo!
Sem mais belongas, o melhor texto que você já escreveu!!
Excelente cara!!!
Filho da Luzzzzzz!!!!
Felipão, como já disse o Bruno em outro comentaria a uma cronica "Fechou o ano com chave de diamante".
Parabens Felipe!
Feliz ano novo!
Felipeeee!!!!
Ameii d+ seu textoo...
Mtoo bomm, principalmente o final!
Bjoo praa vc!
[!] Feliz Ano Novo [!]
Muito bom texto, Felipe! Muito bom MESMO!!! Adorei de verdade!
Mas estou na dúvida: então não é um texto seu? É do Arthur D´angelo?
Se não é seu, tem muitas coincidências com fatos do nosso cotidiano!
Abraço! E Feliz 2007
Gostei, Felipe!
Mas por que "Feliz Aniversário"? Não entendi?! Aliás, já estamos no Ano Novo?
Não entendi muita coisa...
Caraca, Felipe, que máximo!!! Balula, como dizem vocês (quer dizer, não sei o que isso significa, mas imagino que seja um elogio, rsrsrs...)
Gostei demais!!! O cara faz a gente pensar que ele realmente "se ama" e tals, mas no final ele se dá um presente um tanto quanto controverso, né?! Ou não (rsrsrs).
Concordo com o Ciro que o texto tem algo de você, mas é aquela história: Felipe é Felipe, autor é autor, narrador é narrador, personagem é personagem e etc é etc. Não devemos confundir essas coisas (rsrsrs).
Mas, sério mesmo, adorei!!!
Valeu, galera! De verdade!
Bruno, Carlim, Laurinha, Ciro, "Miguel" e Cecília: muito obrigado!
São poucos os comentários, mas que se tornam MUITO pela sua qualidade e sinceridade! Fico realmente feliz!
Saibam que vocês são uma inspiração pra mim !(clichesíssimo!)
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