sábado, 20 de janeiro de 2007

Chato, porém necessário (ou não!)

por Felipe Carvalho (após meio comprimido de Lexotan)

O mundo hoje demonstra uma crescente abertura para a verbalização das mais variadas emoções do ser humano:

- A aproximação entre pais e filhos é um recorrente tema de programas vespertinos da TV;

- As pessoas debatem seus problemas conjugais até mesmo com estranhos na rua;

- Os grupos de auto-ajuda e terapia coletiva multiplicam-se diariamente, tratando desde dependências químicas aos mais excêntricos traumas e neuroses.

- Assistimos à epidemia que emerge entre os jovens batizada de “EMO” (Emotional Hard Core: aquele punk-rock adolescente, extremamente melódico e que costuma preencher a grade de clipes da MTV e os aparelhos de IPOD da “molecadinha”). São músicas que exploram os conflitos e angústias de uma geração pouquíssimo articulada e quase que incapaz de falar por si própria.

“Fale dos seus problemas ou eles lhe serão somatizados e farão com que desenvolva um câncer assustador ou então sérios transtornos depressivos e de personalidade” – é mais ou menos esse o discurso que se lê na Veja ou se escuta no Sem Censura de Leda Nagle.

No entanto, do que constantemente nos esquecemos é que o ser humano é, muitas vezes, extremamente egoísta e mal intencionado! As pessoas não querem te ajudar, querem, outrossim, sentir-se elevadas ao ouvir as agruras de sua narrativa! Gostar de conversar? Conheço zilhões de pessoas que amam! E gente preocupada em escutar? Ah, isso sim é raríssimo! Muitos apenas “ouvem” aquilo que dizemos, porém contando os segundos para a vez DELES de falar. Na verdade, não nos escutam de fato, apenas ouvem nossas vozes ecoando em seus cérebros enquanto pensam no que vão dizer em seguida. Assim como muitos apenas nos enxergam (já que não são cegos), mas não nos vêem! Ou então até nos “entendem” sem, entretanto, nos compreender!

Até mesmo num núcleo familiar é dificílimo fazer-se ouvido. O duelo de egos e vaidades, os recalques múltiplos e principalmente o pouco respeito fazem com que tentativas de boas discussões culminem em brigas infecundas ou “conversas com a parede”!

Taí... Não sei o que é pior: falar com as paredes ou falar com belas cachoeiras desconhecidas e potencialmente perversas! Sim, a inerente carência que acomete o Homo sapiens leva esse infeliz humanóide a despejar suas tormentas ou mesmo glórias em “lugares” cujo “eco” ou “distorção sonora” podem ser devastadores, ou melhor, “ensurdecedores”!

Quando alguém se apaixona e decide dar o primero passo, declarando-se para a amada e abrindo-lhe o coração, este sujeito está – quer ele queira, quer não – vendendo a sua alma a essa pessoa, assim como o Fausto de Goethe ao pactuar com Mefisto (o diabo)! Uma vez tendo desnudado seus sentimentos e hormônios à sua futura “algoz”, ela poderá fazer daquilo o que bem entender! A moça pensa (numa perspectiva exagerada para efeito ilustrativo): “Eu sou a tal, posso fazer o que quiser com a alma desse pobre diabo! Pensando bem, acho que sou MUITO para ele! Não me importo em bancar a covarde! Agora que meu “passe” foi valorizado, quero mais é contar para todas as minhas amigas como esse bobão é romântico e patético...” Sem machismos aqui, moçadinha, sabemos muito bem que o contrário também acontece (mas eu nunca vi!).

Pois bem, mas o que fica disso tudo? Então três perguntinhas a la Dr. Napier (hahahaha) para nos esclarecer:

- Ser um cara sincero, transparente e eloqüente é importante? R: Sim, embora difícil para muitos!

- Saber ouvir, respeitar e se interessar pela vida de seus familiares e amigos é importante? R: Sim, embora uma tarefa quase impossível para a grande maioria.

- E quanto a conhecer bem as pessoas e saber escolher bem as suas companhias e em quem depositar a sua confiança? R: Pois eis a chave do sucesso nas interações humanas, meu chapa!

- O bonzinho só se fode? R: Peraê, fii, eram só três perguntas! Tire suas próprias conclusões!

Saiba conversar, saiba escutar, mas procure saber também se vale a pena falar com a Ruth ou a Raquel ou escutar o Caim ou o Abel! Olha que até rimou, hein! hehehe

Bem, essa escrita toda me deu uma vontade de conversar! E eu escolhi VOCÊ para esse colóquio! Então me fale: está a fim de um bom diálogo ou irá fingir que me escuta apenas ansiando pela SUA vez de abrir a bocarra? De repente, seu processo de catarse ao mexer a língua seja tão intenso e revigorante que nem preocupará em me ouvir comentar dos SEUS dilemas! Mexer a língua já te basta, não é mesmo? Aliás, seria ela um segundo clitóris humano, tamanho o prazer de alguns em falar, falar e falar? Fica aí mais uma para o Dr. Napier nos responder futuramente!

Enfim, eu “ainda” estou disposto a lhe escutar, certo? Acho que não posso desistir tão facilmente!

Alguém aí me ouviu?

10 comentários:

Bruno Carvalho disse...

Felipe,

Cara! Sem brincadeira nenhuma! Fiquei impressionado com a maneira que vem escrevendo. Você escreve se utilizando de uma originalidade impressionante. Só pra ilustrar: É como Zé Ramalho, você ouve e já sabe que é ele que está cantando!
Além de demonstrar um conhecimento crítico de primeira.
Muitos conseguem tudo isso, mas não são tão filhos da puta (no bom uso da expressão, é claro) como você para ainda escrever um excelente texto como esse!

"Não sei o que é pior: falar com as paredes ou falar com belas cachoeiras desconhecidas e potencialmente perversas!"

Muito bom cara!

Ps. Fiquei lisongeado também por ter citado o Dr. Napier eheheh!

Valeu cara!

Anônimo disse...

Ameiii Felipe! Mto bom mesmo, cada vez melhor!

Beeijao*

Carlos Filho disse...

Felipão, seus textos me atrai do começo ao fim, me faz trair do dito ao cogito, pois com eles sempre me flagro pensando em meus erros. Verdadeiro divã!!
Diga o seu problema, mas seja breve, pois estou até o "talo" com os meus e preciso liberá-los na seqüência....hehehehehe

Parabéns cara, não 10!

PS. Ainda necessito do velho e bom “Pai dos burros” ao meu lado, para responder minhas duvidas em algumas palavras existentes em seu texto!

Sessyllya ayllysseS disse...

De fato, este texto nos leva a uma discussão "no mínimo" profunda sobre as relações humanas: falar é diferente de conversar, escutar é diferente de ouvir, olhar é diferente de enxergar, pensar é diferente de refletir (rimou também). Mas nem todo mundo entende isso, embora nós todos disfarcemos, fingindo que estamos ouvindo e sendo ouvidos...
É isso aí!!! Como sempre, seu texto me levou a uma "auto-anáise" bastante produtiva (rsrsrsrs).
Parabéns... Bjim...

Ciro disse...

Dr. Felipe! Hehehehehe!!

Cara, esses seus textos estão com uma narrativa tão gostosa de se ler, que quando dou por mim, ele já acabou. Muito bom mesmo. Vc sabe muito bem que odeio textos de auto-ajuda, mas estes estão deveramente compensadores de se ler!
Sempre penso em usar nossos "assuntos de mesa de bar" para escrever textos assim, mas nem é preciso, pois vc e o Bruno o estão fazendo majestosamente. Estou gostando muito.
"Bonzinho só se fode?". Eu mesmo respondo a essa pergunta: SIM. Hahahahhahahahah!!

Congratulações!

Ciro disse...

Ps.: Eu quis dizer "magistralmente", ao invés de "majestosamente".

Ah, sei lá! Hahhahahahahah!!!

Anônimo disse...

Não entendi... "catarse" é catar a si mesmo?

Gata Guu disse...

Menino Felipe,

Nao pegue tao pesado com os Emos...


Nao confunda "ser bom" com "ser bobo" a diferenca esta numa pequena palavra: "nao"
Aprender a falar nao!

Pelo visto vc esta amando alguem, ne? Alguem que te ouviu? Se nao ouviu, aumente o volume ...

Um beijao,

Adilma

Flavio Carvalho disse...

Felipão,

é verdade, como a língua coça quando estamos em conjunto, e os ouvidos ficam inertes, ou será o nosso entendimento,

bôa,

Anônimo disse...

cara com certeza isso tudo acontece demais comigo nao aguento mais vou virar jedi hehehe mas por isso que eles sao felizes eles nao podem amar e nem odiar seria muito bom se eu fosse assim neutro e nao se dar ao luxo de tais sentimentos,amor e odio isso me arrebenta todo dia felipao e os bonzinhos so tocha e a familia so conversando com a parede mesmo mas valeu cara ta realmente demais os seus textos e infelizmente ainda nao vou virar jedi vou esperar mais um pouco para ver no que da valeu.