Edna volta a atacar

Varrido por Ciro M. Costa

Dia 2 de janeiro de 2.007. Em um dia como esse, fico pensando no que é pior:
* Ter que limpar as sujeiras das festas de fim de ano;
* Aceitar que tais festas acabaram e que é hora de voltar ao trabalho;
* Ligar a TV e ver que já estão anunciando o Big Brother e desfiles de carnaval;
* Constatar que já comecei o ano sem dinheiro;
* Ser acordado às 7 da manhã por uma vassoura chamada Edna...

- ACORDA PRA VIDA, INFELIZ!!! HAHAHAHAHHAHAHA!!!
Aquela voz era inconfundível. Era mesmo a Edna.
- Edna, por que não me deixa em paz? – Perguntei, sonolento.
- Está maluco? Você tem tanta paz que se eu deixar mais, você descansa em paz de vez! Vamos! Levante-se! Você disse que limparia o quintal hoje e sairia à procura de um emprego!
- Em primeiro lugar, Edna, eu disse que nós limparíamos o quintal.
- “Nós”? Não conheço ninguém com esse nome! Eu disse que daria apenas uma varridinha!
- Que seja! Em segundo, eu já tenho um emprego!
- Claro que tem! Você é professor de datilografia, em pleno século XXI!
- E o que tem de mais?
- “De mais” não tem nada! Aliás, tem é de menos! Menos mercado de trabalho, menos gente querendo aprender datilografia, menos máquinas... pensando bem, não existe mais é NADA pra esse mercado!
- Não! Eu vou insistir até o fim! Não vou deixar a tecnologia me desanimar!
- Não é a toa que sua mulher te largou. Com tanto pensamento cretino, não há mulher que agüente um homem! Sorte sua que comecei a falar!
- Eu não chamaria isso de sorte. Pra mim, você ainda é uma maldição que ela lançou sobre mim!

- Hahahhahahahaha!!! Como eu disse, você tem muitos pensamentos cretinos!
Levantei-me (com muito custo) e fui até o banheiro. Estava escovando meus dentes tranqüilamente, quando ela apareceu de novo:
- PÁRA DE ENROLAR, INFELIZ!!! HAHAHAHAHHAHAHAHAHA!!!
Levei um baita susto.
- Maldição, Edna!! Já disse pra me deixar em paz!!!
- Hahahhahahahaha!!! Eu adooooro fazer isso!
Fora assim a manhã toda. Sempre que eu bobeava, Edna gritava no meu ouvido e começava a rir. Eu não sabia se a xingava, ou se a matava. Se bem que nunca vi ninguém matar uma vassoura antes. Deve ser porque nunca existiu uma tão chata quanto a minha!
- Agora, vá tomar um banho e procurar um emprego! – Disse Edna, depois que terminei de limpar o quintal.
- Engraçado... – Eu disse. – Se eu não te conhecesse, diria que está tentando me dar ordens.
- Ei cara! Não devia ver as coisas por esse lado! Devia perceber que você é o meu dono e quero somente o seu bem. Eu gosto de você e quero vê-lo feliz!
- Bem, se é assim, eu...
- Além do mais, você é muito devagar e precisa levar uns “empurrões”, senão você vai continuar na merda!!! Hahahahhahahahahahah!!!!
- Eu devia jogá-la no lixo de novo!
- De que adianta? Você sabe que eu volto!
- Eu sei. Mas pelo menos fico algumas horas sem ter que ouvir sua voz!
- Ora, vamos! Vá se aprontar!
Tomei um banho bem tomado e me preparei. Apesar de tudo, Edna tinha razão. Eu morava sozinho e precisava de um emprego pra me sustentar, antes que meu seguro-desemprego acabasse.
Estava no quarto, separando alguns currículos, quando...
- VAMOS LOGO, CARA!!!!!
- Por que tem sempre que gritar, vassoura cretina???
- Pra ver se você acorda pra vida! Hahahahaha!! O que está fazendo?
- Estou separando esses currículos.
- Deixe-me ver... hum... Minha Nossa Senhora das Piaçavas!!!! O que é isso??
- Eu já disse que são currículos!
- Eu sei, mas sua única experiência é como professor de datilografia???
- Sim. E precisa mais?
- Céus!!! E o cara ainda pergunta! O que foi que eu falei no início dessa crônica? Putz! Eu vou lhe falar uma coisa, você está perdido, cara!! Sinto muito, mas está completamente perdido! E digo mais! Você está mal pago! Você está na pior! Você está na merda! Você está fodido! Você está...
Edna não pôde dizer mais nada. Eu a joguei no lixo. E, antes que ela volte, eu pergunto a vocês: alguém está precisando de um professor de datilografia? Ou de uma vassoura palpiteira???