Por Fernanda Zechinatto
Aqui ouso dizer aquilo que me esforço para ocultar. Já é tarde para isso! A realidade é que eu desconfiava que tudo isso que me invade se escondia em algum beco marginal de minh’alma e se fazia surgir sem que eu pudesse ao menos ter o legítimo direito de argumentar e pedir a retirrada de todos os que me invadiam sem a devida autorização.
Jovem classe média, vinte e poucos anos (bem poucos mesmo!!!), solteiro, vivendo a angustiante escolha profissional. Ultimamente vinha me perguntando:
- Por que nesses anos que os hormônios saltam pelos poros escancarados da minha pele, só vejo balada e mulher, meu pai diz que sou um nada, um vagabundo irresponsável, tenho que ter a responsabilidade e obrigação de me decidir sobre o que vou ser quando crescer?
Foi aí, nesse momento de reflexão, que os marginais que me invadem se exaltaram e começaram a me povoar, e como se multiplicavam rapidamente não tive como conter a invasão. Era todo tipo de voz que me infestava a mente. A que eu mais gostava tinha um tom firme parecia meio sarcástico, mas com um certo humor, quase me fazia saltar dos lábios uma gargalhada incontrolável, sempre me atiçava quando estava em momentos inoportunos. Insistia com aquele tom grave quase rindo:
- Vai meu velho!!! É hora do show... Você é uma estrela, tem que brilhar. Pouco importa se o banco está lotado... Vamos, tire essa roupa e comece o show.
Um sorriso sarcástico me brotava, todo o rosto tinha aquele rubor tímido, mas uma gargalhada embutida que faltava pouco para sair daquele estupor que me assolava a face.
No começo pensei que estava ficando louco. Não dei conversa para a tal voz e segui intacto, embora aquele humor maroto me fizesse pensar na possibilidade de atender sua voz. Só que eu tinha o domínio, nada me afetava, era eu o dono do pedaço.
Ninguém notou a angústia nessa briga. Minha mãe se preocupou, quis conversar, mas ficou na sua passividade atendendo a voz da sabedoria, aquele machão burro que se achava o chefe da casa, mas não tinha coragem para trocar uma lâmpada sequer. Era o macho a bradar:
- Esse moleque não tem nada não, Diana. Tá precisando de surra e de mulher. Vê se não fica paparicando esse menino, senão vira moça.
Minha mãe chorava pelos cantos, era tão forte para dar conta de uma casa, marido, filhos, trabalho, mas tão fraca para mostrar sua força. Não queria briga!
Eu também não queria mais briga, já tinha gente demais falando comigo, dentro de mim. Resolvi seguir a vida. Saía muito, bebia muito, dançava muito... só que nem sempre estava com vontade de sair, passear, aprontar, passava os dias no meu quarto ouvindo música com a luz apagada. O escuro me trazia paz.
E a dúvida do vestibular persistia. Mas a vida continuava e eu estava entrando no banco quando aquela voz eletrônica começou a dizer que eu não podia entrar. É, aquela porta conversou comigo, eu tenho certeza! Dizia:
- Você não pode entrar seu fracote, seu nada, seu vagabundo. Nem sua profissão consegue escolher!!! Deixe o que você é do lado de fora se quiser entrar.
E os marginais da alma começaram a responder e eu aceitei as vozes e fiz tudo direitinho. Não matei ninguém, não machuquei ninguém, senão um corte em minha própria mão e um pé quebrado. Tirei a roupa e comecei o show de pancadaria... Tudo como os meus marginais ordenavam, nada partia de mim mesmo, só os vidros quebrados, os caixas revirados e tudo que precisasse de força física. Nossa como fiquei forte, não imaginava que fosse tão forte assim. Até que tudo ficou escuro. O escuro me traz paz!
Jovem classe média, vinte e poucos anos (bem poucos mesmo!!!), solteiro, esquizofrênico num hospital psiquiátrico. Ultimamente tenho tido apenas um desejo:
Escolher uma profissão sem surtar!
Aqui ouso dizer aquilo que me esforço para ocultar. Já é tarde para isso! A realidade é que eu desconfiava que tudo isso que me invade se escondia em algum beco marginal de minh’alma e se fazia surgir sem que eu pudesse ao menos ter o legítimo direito de argumentar e pedir a retirrada de todos os que me invadiam sem a devida autorização.
Jovem classe média, vinte e poucos anos (bem poucos mesmo!!!), solteiro, vivendo a angustiante escolha profissional. Ultimamente vinha me perguntando:
- Por que nesses anos que os hormônios saltam pelos poros escancarados da minha pele, só vejo balada e mulher, meu pai diz que sou um nada, um vagabundo irresponsável, tenho que ter a responsabilidade e obrigação de me decidir sobre o que vou ser quando crescer?
Foi aí, nesse momento de reflexão, que os marginais que me invadem se exaltaram e começaram a me povoar, e como se multiplicavam rapidamente não tive como conter a invasão. Era todo tipo de voz que me infestava a mente. A que eu mais gostava tinha um tom firme parecia meio sarcástico, mas com um certo humor, quase me fazia saltar dos lábios uma gargalhada incontrolável, sempre me atiçava quando estava em momentos inoportunos. Insistia com aquele tom grave quase rindo:
- Vai meu velho!!! É hora do show... Você é uma estrela, tem que brilhar. Pouco importa se o banco está lotado... Vamos, tire essa roupa e comece o show.
Um sorriso sarcástico me brotava, todo o rosto tinha aquele rubor tímido, mas uma gargalhada embutida que faltava pouco para sair daquele estupor que me assolava a face.
No começo pensei que estava ficando louco. Não dei conversa para a tal voz e segui intacto, embora aquele humor maroto me fizesse pensar na possibilidade de atender sua voz. Só que eu tinha o domínio, nada me afetava, era eu o dono do pedaço.
Ninguém notou a angústia nessa briga. Minha mãe se preocupou, quis conversar, mas ficou na sua passividade atendendo a voz da sabedoria, aquele machão burro que se achava o chefe da casa, mas não tinha coragem para trocar uma lâmpada sequer. Era o macho a bradar:
- Esse moleque não tem nada não, Diana. Tá precisando de surra e de mulher. Vê se não fica paparicando esse menino, senão vira moça.
Minha mãe chorava pelos cantos, era tão forte para dar conta de uma casa, marido, filhos, trabalho, mas tão fraca para mostrar sua força. Não queria briga!
Eu também não queria mais briga, já tinha gente demais falando comigo, dentro de mim. Resolvi seguir a vida. Saía muito, bebia muito, dançava muito... só que nem sempre estava com vontade de sair, passear, aprontar, passava os dias no meu quarto ouvindo música com a luz apagada. O escuro me trazia paz.
E a dúvida do vestibular persistia. Mas a vida continuava e eu estava entrando no banco quando aquela voz eletrônica começou a dizer que eu não podia entrar. É, aquela porta conversou comigo, eu tenho certeza! Dizia:
- Você não pode entrar seu fracote, seu nada, seu vagabundo. Nem sua profissão consegue escolher!!! Deixe o que você é do lado de fora se quiser entrar.
E os marginais da alma começaram a responder e eu aceitei as vozes e fiz tudo direitinho. Não matei ninguém, não machuquei ninguém, senão um corte em minha própria mão e um pé quebrado. Tirei a roupa e comecei o show de pancadaria... Tudo como os meus marginais ordenavam, nada partia de mim mesmo, só os vidros quebrados, os caixas revirados e tudo que precisasse de força física. Nossa como fiquei forte, não imaginava que fosse tão forte assim. Até que tudo ficou escuro. O escuro me traz paz!
Jovem classe média, vinte e poucos anos (bem poucos mesmo!!!), solteiro, esquizofrênico num hospital psiquiátrico. Ultimamente tenho tido apenas um desejo:
Escolher uma profissão sem surtar!
6 comentários:
Bom 2007 a todos!!!
Retorno com força total e com muitas histórias e estórias para contar. Não percam!
O loco Fernandha!
Ainda não tive a oportunidade de ler textos seus com esse estilo de narrativa. Está diferente, faz com que a gente se envolca com o texto!
Parabéns, muito bom!!
Ps. Que bom que gostou do meu texto! Pois é, eu tb não acredito em coincidência!
Obrigado por comentar! E por falar em Porciúncula, nem eu sei onde fica ahahahaha!
Abraço!!
que tal melhorar a redação?
;)
Eu tenho a coragem de mostrar-me, mesmo com uma redação ruim... pq o anônimo não tem a coragem de criticar mostrando a cara?
Não sei o que é pior, ter uma escrita ruim, ou ser um crítico covarde!!!!
Olá, Fernandha, tudo jóia???
Senti saudade dos seus textos e, para falar a verdade, o seu retorno não poderia ter sido melhor. Eu também não conhecia essa faceta do seu estilo e adorei!!! O bom escritor é assim mesmo, cria sob vários gêneros diferentes.
Gostei da visão que o personagem tem do pai (que é O forte mas não troca a lâmpada) e da mãe (que "sacrifica" sua força para manter a paz doméstica).
Super parabéns!!! Bjos!!!
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