Os benefícios do ciúme (e da ignorância também)...

Por Bruno Carvalho (É... se ele tirar todas as palavras do texto e substituir por outras, talvez fique bom...)

Antônio estava ainda mais apressado após seu aniversário de vinte e dois anos. Até então, sequer um beijo ele conseguira. Desesperado por uma namorada, Antônio passou a freqüentar todos os lugares. “Quem acredita sempre alcança” – Dizia ele para si mesmo. Nessa época, namorava a ansiedade.
Certo dia, enquanto caminhava, encontrou uma menina muito gorda, mas muito gorda mesmo! Porém Antônio estava deveras apressado, e sequer se ateve a esse detalhe. Tanto, que prestou atenção apenas no rosto da garota. “Que rosto bonito ela tem” – pensou Antônio. “Se ela emagrecer, vai ficar muito bonita!” – pensou ele novamente. “E ela já está fazendo caminhada! Isso é um bom sinal” – pensou ele mais uma vez novamente. Desde então, passou a caminhar diariamente, até conseguir se casar com Esmeralda (esse era o nome da garota). Enfim, casou-se com a esperança.
O tempo se passou, e aquele lindo rostinho se perdia a cada ano na imensidão dos quilos de Esmeralda. Nada contra as gordinhas, mas Esmeralda, digamos, possuía uma quantidade absurda de peso, era muito louca, e ainda por cima mal educada. Falava alto e esbravejava por qualquer coisa que Antônio fizesse. Este último, vivia agora com o conformismo.
Antônio com certeza não amava Esmeralda. O fato era que ele desconhecia outro modo de conquistar outra garota. Além do mais, era do tipo “ciumentão ignorantão”. E é justamente aí, exatamente aí caro leitor, que conhecemos a maravilha da natureza humana. O “ciúme cego” fez com que Antônio ficasse casado com Esmeralda até o fim de sua vida. A insegurança, juntamente com a ignorância, formando o forte laço do ciúme, fazia Antônio não perceber o erro que havia cometido. Se o ciúme o cegava por um lado, este mesmo o fazia (soou estranho esse “o fazia” né?) enxergar milhares de outras coisas por outro. Olhares suspeitos aqui, pensamentos obscuros acolá... Não podemos negar que o ciúme intenso de Antônio era a "corda de aço que sustentava a relação". Então, ele (mesmo sem querer) sustentou a relação através do ciúme.
E também esses papos de que “Foi coisa do destino”, “Não podia ser de outra forma”, “O que é do homem, ninguém toma”, e “Ah! Já tá tudo danado mesmo!”, colaboraram um pouco.
Antônio era tão fraco psicologicamente (pra não dizer burro), que não conseguia entender que não se casara por amor. Não apenas pela aparência de Esmeralda, mas por um ato apressado, insensato, e por que não dizer: dissimulado. “Se deixar levar pela maré”, talvez seria essa a filosofia de nosso protagonista. Nem é preciso dizer que as caminhadas de Esmeralda não passaram de “fogo-de-palha”, e que a medida em que o tempo passava, Antônio também engordava, e cada vez mais se entregava ao "mundo do trabalho, zorra total no sábado à noite e ao futebol (pela televisão, é claro!) nas tardes de Domingo". Enfim, Antônio se entregava à fraqueza.
Porém, muitos anos depois, no auge de sua aposentadoria, Antônio refletia sobre tudo o que acontecera em sua vida. E se lembrou de sua ansiedade por um amor, da esperança que não se concretizara, de seu conformismo... Teve medo de olhar Esmeralda novamente...
Por fim olhou, e desta vez "realmente enxergou" o que havia por trás de toda aquela relação. O ciúme havia acabado, os pensamentos agitados, agora estavam em ordem. A figura de Esmeralda lavando louça e cantando “A música da boquinha-da-garrafa” fora suficiente para "acordá-lo". Já não havia mais nada o que fazer... E foi tentando esboçar um sorriso irônico para a sua futura ex-esposa, que Antônio faleceu.

Os amigos da família alegaram que a morte teria sido por problemas de coração. Já nós: Eu, você, e mais dois ou três que lerão esta história, sabemos que Antônio deixou este mundo pela depressão.