Parágrafo único

por Felipe Carvalho

Felicidades condicionadas. Felicidade sem amor. Será? Uma piadinha dando conotação sexual à supostamente ambígua frase. Quanta originalidade! O mundo, tão somente isso de instintos, animalidades, reações químicas e irracionalidade. Ligando o computador. Sala de bate-papo. Pessoas cheias de vazios, apelidos esdrúxulos, auto-afirmações, vaidades, erros de ortografia... Saindoooo... (com eco) Espera! ‘Garota cabeça entra na sala’. Hum... Convite para colóquio privado. “Fala-me de tu, moça”. ‘Garota cabeça – por onde for quero ser seu par’ diz: “Gostu di ser direta... as vesis so meia curiosa rsrsrsrs... kual o tamanho do seu...”. Mudança de apelido. ‘Perdendo a cabeça - por onde fores, quero estar ‘so far’’ diz: “Se mata!”. Missão abortada. Computador desligado. Indo pôr a poltrona na varanda para contemplar o céu à noitinha. Revés! Céu rosa-gris. Tempo literalmente fechado. Filme em DVD sobre a mesa. Lembrança oportuna: “Esse é o que o cara morre no final?”. Cretina! Brochada absoluta. Tevê, que tal um pouco de tevê? Descontrole. Tevê? Lábio mordido. Faz favor, tu não te vês? Sangue. “Não” – pronunciado com gosto ferroso. Murrinho de despreparo na mesa. Escovando os dentes. Espuma no espelho. Ajeitadinha no cabelo, ‘uno nunca sabe’. Sorrisinho ladino de canto de boca. Voltinha pelo quarteirão. Isso! “Vai sair?”. “É” – sensações lancinantes na boca do estômago. Por que perguntas? Que cousa chata, ora! Tsc tsc com a cabeça. Vontadezinha de morrer, só isso. Porta. Rua. Querendo chuva. “Chove, caramba!”. Chover é regular, mas é intransitivo. Turbilhão de idéias! Cadê papel? “Cadê papel, ananás?”. “Volta pro berço, cara!”. Nada de chuva... Buzina alta! Quase-colisão. Coração disparado. Abaixando o volume do mp3. Que tal lhe parece uma abdução súbita? Cadarço desamarrado. Caramba, “cadarço”... Nem nunca escrevera isso! E tampouco ‘cerzir’, ‘chocalhar’, ‘estripulia’, ‘revestrés’, “que dia maravilhoso”, “nunca me decepcionaste”... Sem mais vocábulos novos por ora. De volta. Porta adentro. “É aqui mesmo? Diz que não, diz que não!”. Infelizmente, é! Põe a sunga. Hora de mergulhar na mecanicidade. Uhuuuu!!! Sublimando. Relevando. Aparelho de som. “Me and my big ideas – Tears For Fears”. Risadinha desesperada. Tiro no ouvido.