Surreal

Acordou de um sobressalto. Olhou o relógio fixado na parede... Já se esvaíam as horas. Era passado o tempo. E não havia solução a não ser correr. Uma longa e rápida corrida, pois o encontro era vital ... Rápido!
Tira o pijama...
Calça, camisa, cinto, meia, sapato... Gravata... Um nó no tempo.

Cozinha...
Manteiga, pão, café e leite... Não há tempo... O jeito é engolir da maneira que está... Cof, cof, cof... São Brás, São Brás... Tapinha nas costas... Tapões nas costas, o engasgo foi feio. Ainda assim, persistia a maratona, uma fuga ao encontro de tudo aquilo que se perdeu...

Trancar a casa, pegar a chave, ligar o carro? Cadê a chave?
Retrocesso... Procura: debaixo da almofada, embaixo do sofá, em cima do piano... Jogada dentro da máquina de lavar louças... Achei! Nestes momentos, o tempo é implacável, e corre por entre os nossos dedos, independendo de você estar contra ou a favor dele...

Nova corrida rumo ao carro... Abre a porta, dá a partida... Não há sinal de vida. O carro não poderia ter morrido. Justo hoje!!! Coração nas mãos... Acelera-se a vida, o tempo, o tempo...

Táxi...!
Rumo ao centro da cidade. Rápido, rápido, rápido!!!!!

O relógio ainda corta o tempo, tornando-o menor a cada minuto que se passa... Cada segundo é uma preciosidade... Seriam segundos a mais contemplando aquilo que era o seu maior tesouro. E agora são apenas gotas salgadas ao longo da rua... Suor! Muito suor!

Corre rápido o suficiente para se chegar a lugar nenhum.
Corre mais um pouco a fim de ver o caos à sua frente... Ou ainda para ver o seu tudo que se dissipa nas sombras... Longe...

Os olhos buscam alguma coisa!!! Olhares vãos, pois não há nada. Não foi ainda desta vez. Triste... Inacreditável... Impossível... Onde estaria?... Não há mais esperança... Mais uma vez cheguei atrasado ao encontro comigo mesmo.