sexta-feira, 25 de maio de 2007

A visita de Samyra

Por Ciro M. Costa

Ouça 'The Lonely Shepherd':

Não fora muito difícil para Samyra Hatso deduzir que seu pai havia estado naquela pequena cabana há algum tempo. Havia se tornado uma ótima caçadora e já estava ficando boa em seguir rastros. Principalmente o rastro de seu pai, que já estava mais do que familiar.
Embainhou sua espada e bateu à porta.
- Pois não? – um velho atendeu.
- Necessito abrigo por meia hora. – disse Samyra.
Naquelas redondezas, quando um visitante solicitava abrigo, o morador não podia recusar. No entanto, ao ver a espada de Samyra, o velho hesitou por alguns segundos. Depois, pediu para que ela entrasse e lhe serviu um café.
- Há quanto tempo meu pai saiu desta cabana? – perguntou Samyra, sem cerimônias.
- Quem é seu pai, bela guerreira? – perguntou o velho.
- O guerreiro que esteve aqui há pouco tempo. Matso Hatso.
- Como sabe que...
- Senhor, por favor, poupe-me de palavras desperdiçadas. Responda logo o que lhe foi perguntado.
O velho não gostou do tom de voz de Samyra, e sentiu que poderia ter problemas com sua visitante.
- Faz algumas horas. – ele respondeu. – Umas 4 ou 5.
- Que ótimo. Ainda tenho tempo para mais uma xícara de café. Se importa?
- Claro que não. – disse o velho, servindo Samyra. – Você se perdeu de seu pai?
- Não exatamente.
- Vejo que é uma guerreira como ele.
- Sim, sou uma guerreira. Mas não como ele.
- E que tipo de guerreira você é?
- Sou uma assassina, velho.
Um calafrio subiu a espinha do homem. Não sabia se sentia medo, ou surpresa ao ver aquela jovem de cabelos ruivos (que aparentava ter uns 17 anos) dizer que era uma assassina. Não poderia ser filha daquele guerreiro calado e retraído que o visitara anteriormente.
- Não precisa ter medo. – disse Samyra. – Não vou machucá-lo. Não sou do tipo de assassina que mata qualquer um. No momento, só quero o meu pai.
- O q-quê?? Vai matar seu próprio pai?
- Claro. Vim de longe pra isso.
- M-Meu Deus...
- Hum. Acho tão engraçado quando vocês, seres tão covardes, chamam pelo seu Deus quando estão apavorados ou surpresos com algo ruim. Até parece que Ele vai lhes ajudar.
- Ele sempre me ajuda, senhorita.
- Tem certeza disso? Já olhou ao redor? Soube das notícias? Sabia que muitos homens como o senhor estão sendo expulsos de seus vilarejos por aí, cedendo lugar a outros mais fortes? Acha que Deus está do lado de vocês?
- Eu...
- Não comece com esse assunto de velho acomodado com a Justiça Divina! É difícil perceber que o seu Deus está pouco se importando? Que Ele os colocou aqui para vê-los lutar uns contra os outros? Pois assim é o mundo: aqui nós lutamos, nós matamos... e nós morremos! E é só!
- Você está enganada. Eu nunca matei ninguém.
- Ah não? Vi algumas ratoeiras armadas pelos cantos. E, desde que cheguei, o senhor já esmagou 7 pernilongos com suas mãos. Tem certeza de que nunca matou?
- Estou me referindo à pessoas. Matar pragas é diferente.
- Sempre é diferente quando nos convém, não é mesmo, velho? “Pragas”. Chamamos os pequenos seres de “pragas”, só porque somos maiores e nos julgamos mais inteligentes que eles. Mas nunca percebemos que nós chegamos depois deles e invadimos seu território. E agora os matamos, chamando-os de “pragas”. É engraçado, não? Imagine se você fosse um pernilongo, e visse seu companheiro sendo esmagado e chamado de “praga” por algo maior do que você. As coisas não parecem muito normais e corriqueiras vistas por esse ângulo, não é mesmo?
- Você não pode comparar assassinato de ratos e insetos com assassinato de seres humanos!
- Ah é? E por que não? Qual a diferença? Insetos e ratos são seres considerados inferiores, convivendo com medo de serem mortos por seres maiores. Ou seja, nós. E você? Não acha que há seres maiores do que nós, que podem acabar conosco quando nos considerarem “pragas”? Bah! O universo não se resume à essa floresta, velho. Somos pontos muito insignificantes para alguns, assim como as moscas são para nós! Mas não se esqueça de que as matamos quando elas nos incomodam.
- Escute, guerreira. Eu também já morei em um vilarejo que foi tomado por esses homens ruins que andam por aí. Sim, fui ferido e expulso por eles, mas em nenhum momento eu os julguei superiores a mim! Sei que vão ter o que merecem algum dia.
- Creio que os ratos e insetos estão pensando a mesma coisa sobre você neste momento.
O velho baixou a cabeça, depois esfregou as mãos em seu rosto. Pensou que jamais vira alguém como Samyra, e desejou também nunca mais ver alguém como ela.
- Senhorita – ele disse, após algum tempo – nada, nada disso justifica uma moça matar o próprio pai.
- Mas eu não estou tentando justificar nada. – respondeu Samyra, levantando-se e indo até a porta. – Se ele é meu pai ou não, não faz diferença. Eu ser sua filha fora apenas um acidente de percurso da vida. – e foi embora.
- A vida vai lhe ensinar muito, senhorita. Vai lhe ensinar da pior maneira, assim como eu também aprendi.
Dito isso, o velho recolheu as ratoeiras pela casa, e as jogou fora.
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7 comentários:

Bruno Carvalho disse...

A saga ainda continua muito boa! Principlamente as filosofias! Está se saindo muito bem hein?

meus sinceros parabéns!

Namastê!

Flavio Carvalho disse...

Ô loco meu,

muito massa essa saga,

as filosofias estão jóia,

e as personagens também,

aliás,

porque você não faz mestrado?

Anônimo disse...

Ciro, parabéns pelo belo texto escrito, abraços

Unknown disse...

Ciroo!
Adoreei primoo!
Se for pra pensar nessas coisas acho q eu fico doidaa. ahsiushauia

Beeijo ;)

Ps: acabo d mataar um pernilongo aquii! aiushiushaiusa

Sessyllya ayllysseS disse...

Cara, adorei a Samyra!!! A mulher só fala verdades!!! rsrsrs... Se fosse um seriado, eu queria ser ela, não pra matar meu pai, mas pra falar essas coisas todas!!! Sério mesmo!!! Ahahahahahahah!!!

Adorei demais esse "capítulo"! Super parabéns!!!

PS: Valeu por ontem, cara, foi muito legal rever você!

Anônimo disse...

Parece q me vi nessa Samyra... [mas soh por ser ruiva...rsrs]Intaum o Sr. Ciro Costa ñ eh soh comédia... bom saber!!! hehehe
Esse blog vicia... Parabéns!!!

Anônimo disse...

haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!! A samira é um travesti!!!