sexta-feira, 22 de junho de 2007

Belas histórias da vida: “A Balada de Carolina”

Bala dada por Ciro M. Costa
Ouça “The Ballad of Carol Lynn”:


Antes que você comece a ler essa história, é preciso avisar que se trata de uma bela história. Sim, pois nem todas as histórias são belas como deveriam ser, e nem todas as pessoas gostam de ler belas histórias como deveriam gostar. Portanto, esteja avisado(a) desde já, pois uma bela história da vida irá começar... (isso rimou?)
Hoje vamos falar da bela Carolina. Carolina, que era formada em Biologia e entendia tudo de plantas. Carolina, que conseguiu montar seu próprio laboratório. Carolina, que procurava ser a pessoa mais original do mundo. Carolina, que era um belo ser humano como eu e você. Sim, é claro que somos belos! Todos somos belos nesse mundo! Pode apostar sua espinha dorsal nisso!
Voltando à Carolina, esta estava engajada em um novo projeto: pretendia criar uma semente de alguma planta que ainda não tivesse sido criada. Nada parecido com flores ou árvores... Carolina queria algo original. Algo que ela descobrisse sozinha e pudesse batizar com seu nome, assim como aquele homem que batizou aquela doença de Mal de Parkinson.
Para tal feito, Carolina dedicou-se totalmente às suas pesquisas. Esqueceu sua família, esqueceu seus amigos, esqueceu seu namorado, esqueceu sua religião, esqueceu de ir ao banheiro e, de vez em quando, esquecia até seu próprio nome.
- Carolina? – as pessoas chamavam. E Carolina nada respondia.
Bom, com tanto esforço e dedicação, Carolina conseguiu sim, criar uma nova semente. Semente esta, que Carolina julgava ser algo original, como sempre quis. Por isso, Carolina plantou-a em seu jardim e a cultivaria, para ver no que ela se tornaria (ei, isso rimou!).
Mas não demorou muito. No dia seguinte, Carolina levantou-se e, ao olhar seu jardim pela janela, viu que a tal semente já havia gerado algo: um enorme pé-de-feijão que ia até o céu. Carolina então correu até o jardim, pegou um machado e derrubou o pé-de-feijão o mais rápido possível.
- Quero algo original! – ela disse.
Com isso, Carolina recomeçou seus projetos. Após alguns dias, criou uma nova semente e a plantou. Depois de cultivá-la por alguns meses, Carolina percebeu que havia criado um pé de laranja-lima falante, e o derrubou também.
Após algumas alterações genéticas em seu projeto, Carolina criou novamente uma semente. Desta vez, não nasceu árvore ou flor alguma... e sim um homem! Um homem estranho, coberto de plantas por todo o corpo.
- Quem é você? – perguntou Carolina, assustada.
- Eu sou o monstro do pântano!
- Ah tá. – disse Carolina, e deu um tiro no tal monstro. – Será que nunca conseguirei criar nada original?
Sim, Carolina conseguiu sim, após várias tentativas e projetos voltados para a célula do tal monstro do pântano que havia criado. Depois de tanto tentar e matar suas criaturas não-originais, finalmente, em uma bela manhã, uma das muitas sementes criadas por Carolina gerou algo incrível! Algo espetaculoso! Algo fantascular! Da semente criada por Carolina nasceu... uma mulher. Uma mulher verde.
- Olá, Carolina – disse a mulher verde, após alguns meses de cultivo.
- Minha nossa! Eu criei uma forma humana a partir de uma célula de planta! Eu criei uma mulher-planta! Será que isso já foi inventado antes?
- Não sei, minha criadora. Mas duvido que uma mulher-planta inventada antes fosse capaz disso...
Dito isso, várias plantas e flores apareceram no jardim de Carolina, como se tivessem sido convocadas pela mulher-planta. Então, a um comando dela, as plantas começaram a emitir um som, cada uma a sua maneira, dando impressão à Carolina que estavam tocando uma bela canção. Sim, uma belíssima canção, composta pela mulher-planta e batizada de “A Balada de Carolina”.
O tempo se passou. Carolina deu o nome de Hera à sua nova amiga e ambas ficaram muito íntimas. Íntimas até demais, eu diria. O caso, é que Carolina esqueceu tanto de seus namorados, que acabou se apaixonando por Hera. E vice-versa. E versa-vice. Daí, o resto vocês já sabem. Ou não. Bem, esse detalhe da história não é importante. Isso lá é problema das duas. Gosto é gosto e não se discute. E eu não sou um narrador preconceituoso. Somente gosto de contar belas histórias.
O caso, é que Carolina tentou registrar Hera como uma descoberta sua. Colocaria o nome nela de Hera Carolina e pensava até em comercializar sua semente.
Então Carolina foi até o cartório mais próximo (acompanhada de Hera, claro) para registrá-la. O escrivão que a atendeu achou aquilo meio estranho no começo, mas depois de conferir os papéis e fazer algumas consultas, ele se dirigiu à Carolina e disse:
- Sinto muito, mas não posso registrar sua descoberta.
- Não? Por quê? – perguntou Carolina.
- Porque ela não é original.
- Como “não é original”?? Por acaso já existe por aí uma mulher-planta com o nome de Hera?
O escrivão não disse nada. Simplesmente tirou da gaveta uma revista do Batman e jogou sobre a mesa. Carolina, ainda sem entender nada, pegou a revista... e teve uma desagradável surpresa. Na capa, o herói travava uma luta contra uma mulher toda de verde, que tinha o nome de...
- Hera... Hera Venenosa... – disse Carolina, e olhou para Hera.
- Sinto muito. – disse a mulher-planta.
Sim, algo assim já havia sido criado. E o que Carolina não esperava, é que a semelhança de sua criação com a das histórias em quadrinhos era tanta, que sua Hera também era venenosa. Com o tempo, Carolina havia sido envenenada pelos beijos dela, sem que ambas soubessem.
E um belo dia, Carolina acabou morrendo.
Hera, como uma pequena homenagem à criadora, pegou seu corpo e a plantou no jardim, vindo a desaparecer logo depois.
No lugar onde Carolina fora enterrada, nasceu uma planta. Uma planta chamada Carolina. Uma planta totalmente original...

7 comentários:

Vassago disse...

É amigo, algo original, idéias originais, textos geniais são o que não lhe faltam (graças a Deus)... Qdo comecei a ler a parte, eu pensei na Hera Venenosa e tava até pensando em colocar no coment que já havia uma... Mas deveria saber que não se deixaria pegar tão facilmente...
A questão é que vc arrasou na história, no contexto e no conhecimento de mundo (pra variar)... Totalmente demais (não é original... é de uma música...)
Mas expressa bem o que quero dizer... Parabéns como sempre

Bruno Carvalho disse...

Cara!
Você me surpreendeu agora!! Em todos os quesitos da história! Simplesmente genial! E olha que eu nem cheguei a pensar na Hera venenosa ahahahahahahahah! E mesmo se tivesse pensado, o cara do cartório mostrando a resvistinha do Batman foi demais!
Começo, meio e fim! Tudo em cima, sem tirar nem por!
Excelente!

"Pode apostar sua espinha dorsal nisso!" Aahhahahahahahahah! Quase morri de rir aqui!!

Muito bom Cirão! Mais uma vez genial!!

Grande abraço!

Unknown disse...

Bem...
Um dia eu disse que vc deveria arquivar suas redações e posteriormente publicar um livro.
Vocâ ainda não publica livros, mas jé tem um blog.
Adorei a Carolina. Sensacional!
Li alguns comentários de pessoas que leram seus artigos e pensei:
"Tudo o que eles escreveram eu já disse anos atrás."
Continuo dizendo: sua criatividade é fenomenal.
Continue!

Sessyllya ayllysseS disse...

Putz, Ciro! Não sei essa história é pra rir ou pra chorar... É engraçada, mas comovente também... Por via das dúvidas, vou chorar de rir...

Ciro é seu nome. Originalidade é seu sobrenome!!!

Parabéns!!! Beijos!!!

Carlos Filho disse...

Hahahahahahaahaha...
Depois da onça morta, né? Agora todo mundo é caçador!
Essa Carolina então, não passa de uma carentona sem eira nem beira!
Agora é uma plantinha feliz e ORIGINALMENTE original, como aquela cerveja! Estonteante, cara, de me dar nauseas...vou ao banheiro! Ah sim, começou engraçado e ficou BELO!

Anônimo disse...

Ciro, antes de começar a ler essa história eu pensei nos textos que eu lia para os meninos da Acolhida Marista antes de iniciar as assembléias, para fazê-los pensasr, acalmar, refletir, entender, viajar na história......
Se hoje eu estivesse trabalhando lá, esse seria o próximo texto a ser lido, eu adorei, achei original, redondinho e cheio de mensagens, dá pra dar uma bela aula em cima desse texto.
Parabéns!!!!!

Felipe Carvalho disse...

E não é que a Carolina conseguiu ser original apesar de tudo!? Nunca imaginaria uma planta lésbica... ahuahuahuahuahua

Não me canso de repetir que sou fã dessas baladas! E essa não deixa a desejar em nada!

Mas que a foto da Carolina 'plantada' dá medo, isso dá...

Meus parabéns!!