quinta-feira, 28 de junho de 2007

Suicídio?

.... e debatia-se em gritos, choro, soluços. Estava muito mal! Os lençóis, os travesseiros e as cobertas, tudo fora jogado ao chão. Tivera mais um sonho ruim... Havia dias que a cena se repetia, e ela não sabia mais o que fazer, a quem recorrer, a quem pedir socorro. Sempre o mesmo sonho, parecia se tratar de um aviso além-mundo, mas fazia anos que parara de acreditar em histórias do além. Agora, no entanto, algo retornava ao seu interior... Uma crença novamente parecia nascer acima da sua descrença.

Depois do susto e tomado o copo de água, tentava trazer à memória aquilo que tanto a assustara nestas últimas semanas. Pequenos flashes vinham tomando forma em sua mente, mas nada muito concreto. Nada ainda fazia sentido. Mas ela se esforçava para compreender, para montar os fragmentos das lembranças. Embora fosse uma tarefa aparentemente fácil, sofria tremendamente em suas tentativas...

Lago... Sim, as coisas aconteciam em uma casa no lago... Uma casa enorme, com um lago quase à porta, com águas aparentemente calmas, mas escuras; de um negrume assustador... Sua cabeça agora doía, tinha a impressão de que lhe cravavam mil cravos na cabeça... Resolveu dar um tempo. Pensar em outras coisas: decoração, moda, música, filhos...

Filhos - por um longo tempo ficou a mentalizar a sua vida com filhos, muito filhos, casa cheia aos domingos, gritaria, risaria, farraria... Já estava zonza. E ao final do pequeno devaneio, teve amaldiçoava a si própria por nunca ter tido os seus rebentos... Ou agora se amaldiçoava por não tê-los deixado nascer. Sempre adiara o desejo de ser mãe; mas tinha uma vida bastante ativa, com inúmeros amantes... Quando se sentia engravidada, dava sempre um jeito de impedir que a questão evoluísse.

Ficou nesse jogo por anos a fio...

Um novo e breve insight... Lembrara-se dos pesadelos. Lembrava-se de tudo e chorava amargamente. Impossível descrever as sensações, o medo se fazia sentir em seus olhos. Houvera feito uma grande dívida no passado e vinham lhe cobrar noite após noite... Lembrava-se de se sentar na grande varanda da casa. Seus pés quase tocavam as águas negras e lamacentas do lago... Ouvia sons. Eram choros agudos e sinistros. Ela sentia que vinha das profundezas do lago. Bem do fundo...

Uma sensação de pavor roubava-lhe o juízo... Agora, junto à triste melodia dos choros vindos lago, ouvia-se um choro mais grave, mais dolorido... Um choro capaz de enternecer o mais duro dos corações. Era o seu próprio choro, implorando por um pouco de paz de espírito. Mas isso não aconteceria mais. A sua dívida era alta e deveria ser paga agora... E sem reação nenhuma se deixara apanhar por um espectro negro que a conduziria por caminhos que ninguém saberia dizer quais.

Um queimor intenso se fazia sentir; sentia ainda o ar faltar-lhe nos pulmões... Nos olhos somente as lágrimas se movimentavam, pois agora já era um corpo inerte no chão. Sem vida, sem sonho, sem filhos... Com um estranho grito, a empregada, em plena segunda-feira, acabava de anunciar que encontrara a patroa, morta, com feições de medo, no chão, enforcada com o seu próprio cobertor.

5 comentários:

Sessyllya ayllysseS disse...

Bão, Rê, quem escreveu isso aí foi o Vassago, né?! Ahahahahahahahahah!!!

Cara, adorei!!! É o meu estilo!!! E até me identifiquei com "ela", uma vez que sinto a vida como um pesadelo constante que sempre me deixa com um peso nos ombros e uma vontade imensa de, simplesmente, não acordar mais...

Mas já que não dá, né?! Fico aqui, me deliciando com textos como esse: complexos, incômodos, desesperadamente verdadeiros...

Bjão!!!

Ciro disse...

Também acho que quem escreveu esse texto excelente foi o Vassago, viu? Reginaldo, nesse pouco tempo em que está aqui, com certeza esse pra mim foi seu melhor texto. A mistura de suspense + agonia + alguns jogos de palavras + final surpreendente foi perfeita, cara. Sério mesmo! Gostei de verdade. Quando vi, já tinha lido tudo. Depois de "Confusões na Terra de Ávalon", com certeza, esse pra mim é seu melhor texto!

Grande abraço!

Flavio Carvalho disse...

Muito bom Vassago,

Uma tragédia que vai de encontro
a emoções que estão em todos nós!

abraços,

Carlos Filho disse...

Putz, nesse Blog morre muita gente! O loco!!! heheheheh
Regis, bom texto.
Mas não vá fazer nnhuma besteira...hihihihi
Abraassssss

Felipe Carvalho disse...

Interessante o modo até poético como foi narrada a trajetória dessa infeliz!

Gosto da profundidade que percebo em alguns momentos dos seus textos! É um pouco que na verdade está dizendo MUITO se soubermos sentir cada palavra! E daí eu fico viajando nessas teias literárias...

Excelente, rapaz! Parabéns!!