Se olhar bem de perto, ainda perceberá que sou eu...
Além da escuridão que cerra meus olhos, além da nuvem negra que ronda o meu coração, ainda perceberá que sou eu. O mesmo eu... Aquele garotinho frágil, de olhar dócil, de voz mansa e com estrelas nos olhos. Mas para isso, deve-se olhar bem de perto. Bem de perto mesmo. Mantendo coração próximo ao coração. Mantendo boca próxima à boca e os olhos na mesma altura, refletindo-se.
Se olhar bem de perto, perceberá o quanto mudei ao longo dos anos. Não há mais sorrisos fáceis; agora, eles demoram e nem sempre são sinceros. Agora, meus olhos mostram o meu interior, que às vezes não é tão belo nem interessante quanto deveria ser. Ainda há um mundo imenso pra ser descoberto. Um mundo que ninguém conhece ou que ninguém se importa em desvendar, em trazer à tona aquilo que realmente importa. No fundo, ainda sou eu, mas o medo é que eu fique no fundo, e acabe me afundando, perdendo-me a mim mesmo.
Olhando bem de perto, bem mais de perto, alguém perceberá uma marca eterna próxima aos olhos. Marcas do caminho de lágrimas acostumadas a verter em momentos sinceros de tristezas ou de pura angústia. Ainda assim, marcas, cicatrizes, que devem fazer parte de cada um de nós. Sendo, pois, lágrimas doces, que limpam a alma e que nos refazem, preparando-nos para sofrer e chorar novamente.
Queria não sentir... Queria simplesmente dormir e não sonhar e não chorar e não sofrer. Queria ter a certeza de uma vida em plenitude em lugar nenhum. Longe dos olhos, dos meus olhos. Longe do coração, do meu coração... Sentiria que não sofro além da quantidade necessária de sofrimento e nem minhas lamentações seriam inconcretas ou infundadas. Sei, no entanto, que não sou dono de nada. Que não sou rei absoluto nem nos meus reinos interiores. Que não sou dono de mim, nem quando deveria ou queria ser. Vivo de mim, vivo em mim, mas não para mim. Sou mais VASto, mais SÁbio, mais sôfreGO. E devo viver assim, permanecer assim até que eu me torne um em mim mesmo.
Ao olhar para o lado, vejo que nada mais terei além dos meus próprios sonhos, além das minhas verdades, além das minhas realidades interiores. E permanecerei em mim, até que eu mesmo não possa me abrigar. Mas ao sair, trancarei todas as portas... Ninguém deve habitar onde nem eu mesmo consegui me manter.
3 comentários:
Texto reflexivo hein cara! Uma angústia muito bem descrita pelas suas palavras (pelo menos foi isso que eu entendi). Deveras interessante.
Valeu!
grande abraço!
"Sou mais VASto, mais SÁbio, mais sôfreGO." Que outras palavras poderiam caracterizar o brilhante e penetrante VASSAGO???
O texto é carregado daquela angústia que nos toma quando descobrimos que não somos exatamente o que somos... ou melhor, que somos tão maravilhosamente complexos que não nos conhecemos plenamente, que não suportamos certas vertentes de nós mesmos, que nem sempre conseguimos controlar o que há por dentro de nós, etc, etc, etc...
Angústia de existir, mas a mesma que nos toca pra frente, sempre em busca... De quê? Não sei... Depende... Cada um sabe da sua...
E, além de tudo, somos únicos, por isso temos que trancar as portas quando nos vamos de nós...
Perfeito, Rê!!! Esse é o tipo de texto que eu gostaria de ter escrito... Parabéns sinceros!!!
Bjus!!!
Assino embaixo do que a Cecília disse!
Identifiquei-me bastante, amigo!
Muito bom!!
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