segunda-feira, 2 de julho de 2007

A volta dos marmitas

_Eu sou Potiguar.
_Cuméquié?
_Do Rio Grande do Norte.
_Haaaaaaaa, seja bem vindo Miltom.
_Obrigado.
Logo depois de receber seu uniforme e acessórios, Miltom se dirigiu ao salão de manutenção.
_Ou, ce é que é o novato? Perguntou um sujeito magro, cabelos bem grisalhos e em uma cadeira de rodas.
_Erh, eh, sim.
_Sabe mexe com plaina?
_Sei.
_Fresa?
_Sei.
_Beleza, ce vai fica nas duas por enquanto, pega as peça com o João e pau na máquina, dito isso o senhor deu meia volta e saiu andando(na cadeira).
-Bom dia.
_Bom dia.
_O senhor é o João?
_Senhor tá no céu, o que precisa.
_Eu vô fica na plaina.
_A tá, ce é o novato, ta ali no canto, as de alumínio dexa queto que eu faço, já falo com o Sérgio?
_Sérgio?
_O encarregado, um de cadeira de rodas.
_Ah sim ele que me mandou.
_Beleza.
Miltom pegou a bandeja com as peças, e se dirigiu ao equipamento, aonde iria ficar o resto do dia, toda aquela situação o remeteu a uma profunda saudade de casa, a primeira lágrima desceu sem dificuldade se misturando ao pó de ferro que se amontoava ali embaixo. Disfarçando Miltom olhou para baixo e procurou ficar com o rosto escondido atrás do equipamento, e ao ligá-lo uma nova pontada sentiu em seu peito, o choro veio seco, fazendo os músculos de sua mandíbula se contraírem fortemente, devido ao esforço para não produzir ruído algum além do estridente motor de quatro pólos.

7 comentários:

Carlos Filho disse...

Cara,
Longe de casa, vida nova, trabalho diferente. Longe de tudo que acostumou, cama, comida, familia...tudo aquilo que queremos excluir do cotidiano!
O que sobra são lembranças e arrependimento.

Bom irmo!
Senti a emoção de quando arrumei meu primeiro trampo...foda véi! heheh

Ciro disse...

Flavão, vc faz excelentes textos, quando aborda esse tema de empregados em indústrias, etc. Deveria fazer mais desses!

Excelente mesmo. Bem "a la Flávio"!

Abraço!!!!

Anônimo disse...

É uma lástima textos como essa não ser repercutido como se deve!

Bruno Carvalho disse...

Ahahahah, não posso negar que já passei por isso. Senti a emoção do choro, mas não chorei!
Bem bolado!
Muito bom!

Valeu!

Anônimo disse...

Pobre Milton...

Um dia ele volta

Noé Sobrinho disse...

Simplesmente demais!
Fiquei desnorteado com a quietude do personagem diante da obrigação trabalhista.
Rumou minha idade áurea onde fossei e escavei terras secas por calcares duros! Relembrei das duras épocas que era um jovem trabalhador...
Certíssimo meu caro, parebéns!

Felipe Carvalho disse...

Caramba! Como sofrem esses trabalhadores braçais! A parte das lágrimas em meio ao pó de ferro me deu até uma pontada no peito!

Show de bola!!!