Vale a pena ler de novo: “Conversas de bêbado”

Bebido por Ciro M. Costa em 25/06/2004

Era uma sexta-feira à noite. Comprei 5 garrafinhas de Skol Long Neck e um pacote de Ruffles sabor churrasco. Sentei-me na área de casa e fiquei a beber e a contemplar a paisagem. A paisagem era o quintal de minha casa, onde havia um cercado cheio de plantas e três cachorras pulando e latindo incessantemente por causa de meu gato, Chompsky. Aquelas cachorras pulavam tão alto que às vezes eu ficava na dúvida se eram cachorras mesmo ou se eram “cangaroas” (feminino de canguru, hihihihi!!). Chompsky estava ao meu lado e nem ligava para os latidos. Apenas estava preocupado em esvaziar um prato cheio de leite Longa Vida.
“Podem latir à vontade suas loucas! Vocês estão presas e não podem fazer nada! Hahahahahah!!! Aproveitem sua estadia no ‘Cãorandirú’!!! Hahahahahah!!! Entenderam? ‘Cãorandirú’!! ‘Carandirú de cães’! Hahahahahah!!! Essa foi boa, hein? Eu sou mesmo um gato muito criativo!”.
Aquilo foi uma terapia pra mim. O barulho dos latidos e das batatinhas fritas se quebrando dentro de minha boca fizeram me sentir mais tranqüilo.
- Sabe Chompsky, eu estava pensando...
“Xiiii... lá vem ‘sessão de filosofia barata’!!! Sujeito quando começa a beber ninguém agüenta!!”
- O que é a vida? Por que estamos aqui? De onde eu vim?
“Não falei?”
- Você nunca parou pra pensar nisso?
- Miau! Miau!, respondeu o gato. Traduzindo: “Não! Eu tenho preocupações em minha cabeça!”
- É claro que não! Você é um gato e gatos não pensam.
“Isso é o que você PENSA!”
- Engraçado... você, sendo um gato, não precisa se preocupar com certas coisas. Por exemplo, se você vê um conhecido na rua, não tem que se preocupar em cumprimentá-lo, principalmente se for alguém que você não vê há muito tempo.
“Do que é que esse cara está falando?”.
- Hoje mesmo eu vi um conhecido na rua que eu não via há muito tempo. Fiquei sem saber se eu o cumprimentava ou não. Sei lá! Vai que o cara nem se lembra mais de mim!
“Do jeito que você é chato, ele já fez questão de se esquecer há muito tempo!”.
- Por outro lado, pensei se ele não estava pensando a mesma coisa. E se ele estava querendo me cumprimentar, mas teve medo de que eu não respondesse? Não sei se você sabe, mas quando cumprimentamos alguém na rua e esse alguém não responde, ficamos numa situação bem desagradável!
“Ai, meu São Francisco! Ajude essa pobre alma felina! Eu não preciso ficar aqui escutando isso!”.
Tomei outro gole de cerveja e continuei conversando com o gato que, mesmo não entendendo nada, parecia estar bem interessado no assunto:
- Fico pensando se não é isso o que as pessoas querem dizer quando dizem: “Não me conhece mais não?”. Será que existe isso? Desconhecer alguém só porque não temos mais contato? Um amigo íntimo de infância pode vir a se tornar um desconhecido somente por um mero capricho do tempo? O tempo é mesmo tão cruel assim?? Putz! Meu amigo Chompsky, agradeça por não ter que se preocupar com isso!
“Todos os dias, pode ter certeza!”.
- As pessoas são mesmo muito complicadas. Se bem que as mulheres são um pouquinho mais, mas os homens também têm suas manias. Humpf! Nem sei porque estou falando tudo isso pra você! É apenas um gato e não entende nada do que digo! Provavelmente sua única preocupação é terminar de beber essa vasilha de leite e ir para a cama dormir!
“Que bom que você percebeu! Assim pode calar a boca um pouco. Toda vez que você bebe, fica aí filosofando asneira sem nexo. Vai procurar serviço, rapaz! Vocês humanos são muito... EI! O que está fazendo? Por que está com os olhos fechados? Pare aí! Você vai cair em cima de mim! Acorda!! Nã...”

SE CONVERSAR COM ANIMAIS, NÃO BEBA.
SE BEBER, NÃO CONVERSE COM ANIMAIS.

Uma campanha do Blog do Boneco Verde.

Em breve: Uma nova novidade, um novo modo de ler crônicas! Aqui no Boneco Verde e no blog Estourou!!! Não perca...