- Olá, amigo! Seja bem vindo de volta!
Aqueles olhos me encaravam de forma estranha. Era como se eles realmente me conhecessem de algum lugar. Mas eu não me lembrava de conhecer nenhum pingüim verde...
- O-onde estou? – perguntei, totalmente confuso.
- Então você não se lembra? – perguntou o pingüim verde, em tom irônico. – Pois é bom se lembrar, amigo, pois você tem muita coisa pra consertar aqui!
Olhei ao redor e vi um cenário de coisas estranhas. Tudo muito colorido, e ao mesmo tempo não. Era como se todo o lixo do mundo fosse recolhido, lavado, e depois colocado ali, organizadamente. Eu não fazia a mínima idéia de como havia parado ali, só sei que tudo me era estranhamente familiar.
- Vamos lá, cara! – disse um outro pingüim, de um verde mais escuro. – Levante-se e venha consertar a sua sujeira! – e me deu uma bofetada.
Aquilo só podia ser um sonho. Engraçado, pois há meses eu não conseguia sonhar com nada. Sempre fora bom em sonhar com coisas estranhas... mas por um bom tempo o lado do meu cérebro que cuidava desse setor parecia estar de férias. Pelo visto, voltou com força total. O jeito era fazer o “jogo” deles, até acordar.
- Não pense que será assim tão fácil! – me disse o primeiro pingüim, como se lesse meus pensamentos.
- O que foi que disse?
- É isso aí, cara! Dessa vez a coisa é diferente. Sou o prefeito dessa joça aqui e não vou mais deixar que vocês continuem fazendo isso. Durante muito tempo, vocês apareceram aqui, fizeram suas “gracinhas”... e depois desapareciam do nada! Mas pelo visto alguém lá em cima nos escutou, e trouxe pelo menos um de volta. Agora você vai consertar tudo! A sua m**** e a dos outros! Ah, se vai!
- Do que diabos você está falando?
- Vamos refrescar sua memória.
Fui levado por diversos e compridos corredores. Quanto mais andava, mais desconfiava de que já havia estado ali antes. Mas como? Isso só seria possível se houvesse sido um sonho, e sonhos não se repetem. Repetem?
- Isso não é nenhum sonho, amigo. – disse o prefeito, sempre com aquele olhar irônico e satisfeitíssimo com algo. Ele já estava me irritando com aquilo.
- Claro que não é sonho! – respondi. – Um bando de pingüins verdes falantes me seqüestram e me trazem para um lugar esquisito desses, e não é sonho. Tudo bem! – agora eu estava sendo irônico.
- Okey! Então aproveite bem o seu sonho!
Dois pingüins abriram uma porta enorme. Naquele momento, consegui me lembrar de tudo. Sim, eu já havia estado ali antes. Nunca pensei que fosse possível, mas estava tendo um sonho repetido. Como se fosse uma espécie de continuação da última vez em que eu...
- Esteve aqui e acabou com centenas de famílias! – disse o prefeito, dessa vez zangado.
- E-eu... eu estava me defendendo! – respondi. - Vocês me atacaram sem motivo algum!
- Nós não te machucamos, humano! Você que se sentiu ameaçado e saiu matando um por um, como se fosse um maldito jogo de vídeo-game! Não precisava disso! Estávamos apavorados e só íamos te expulsar daqui. Ninguém pretendia te machucar!
- Ah, é? E aquele pingüim que me atacou por trás...
- Aquilo foi um incidente. Mas repito: você não precisava matar ninguém! Aqueles pingüins tinham família!
- E o que você quer que eu faça?
- Quero que conserte as coisas! Você está vendo aqui um refúgio daquelas famílias, onde fêmeas ficaram viúvas e filhotes ficaram órfãos. Construímos esse lugar para dar tratamento especial a eles, desde que você e sua raça começaram a invadir nossa terra e nos prejudicar. Agora que você voltou, vai compensar tudo.
- Como??
- Eu não sei! Apenas ajude-os! Você deve isso a eles!!
Eu deveria estar preocupado, mas não estava. Apenas um pouco impaciente para acordar logo na minha cama.
- Hahahahahaha!! – riu o prefeito. – Dessa vez não vai ser assim!
E não foi mesmo. De certa forma, aquele sonho foi mais demorado do que o normal. Fiquei preso ali durante meses, e me vi obrigado a ajudar aquelas famílias de alguma forma. Seja lá o que tivesse acontecido comigo, estava pagando uma dívida de um sonho anterior, e pelo visto não escaparia até que conseguisse quitar tudo.
No começo foi meio difícil. Muitas famílias de pingüins verdes ainda guardavam certo rancor, e por muitas vezes fui até agredido. Senti vontade de matar no começo, mas não queria contrair mais dívidas. Com o tempo eles foram me conhecendo melhor, e tive a oportunidade de me redimir. Eram muito fracos, então pude ser muito útil no serviço pesado e fiz até alguns reparos em suas casas. Durante muitas noites, lhes ensinei várias coisas como engenharia e arquitetura. Não sabia o que ensinar, então resolvi passar o que eu já sabia e fazia no mundo real.
“Mundo real”... depois de tudo aquilo, será que meu mundo era o real?
- Muito bem, creio que sua parte está feita! – me disse o prefeito, depois de pouco mais de um ano.
- O que vai acontecer agora? – perguntei. – Vou acordar?
- Não sei como chamam isso no seu mundo, humano. Mas aqui chamamos de “desaparecimento”. Só que dessa vez, você vai desaparecer sem nenhuma dívida. Boa sorte!
No mesmo instante, acordei em minha cama. Olhei no calendário, e era apenas o dia seguinte. Era como se meses e meses tivessem acontecido em uma só noite. Então... nada havia sido real?
Duvido. Aquilo havia sido real. E muito.
Passei o dia pensando sobre minha estadia no mundo dos pingüins verdes. Contei à minha mulher, e ela simplesmente riu, como se fosse um sonho bobo. Como e porquê aquilo havia acontecido comigo? Será que os sonhos na verdade são reais? Quando sonhamos, estamos em outro mundo? Quando acordamos, desaparecemos do outro mundo, deixando os habitantes de lá confusos?
Mas estava tudo acabado, felizmente. À noite, fui pra cama, consciente de que teria mais um sonho tranqüilo, ou simplesmente conseguiria não sonhar com nada, como havia sido algumas (algumas???) noites atrás...
- Olá, amigo!
- Hein? – perguntei.
- Lembra de mim?
- Como? – estava confuso novamente. Quem era aquele cara? Seria outro sonho?
- Eu sou o dono desse armazém. Você explodiu ele da última vez, lembra? Explodiu, saiu voando e desapareceu. Fico feliz que tenha voltado. – e sorriu ironicamente...
Aqueles olhos me encaravam de forma estranha. Era como se eles realmente me conhecessem de algum lugar. Mas eu não me lembrava de conhecer nenhum pingüim verde...
- O-onde estou? – perguntei, totalmente confuso.
- Então você não se lembra? – perguntou o pingüim verde, em tom irônico. – Pois é bom se lembrar, amigo, pois você tem muita coisa pra consertar aqui!
Olhei ao redor e vi um cenário de coisas estranhas. Tudo muito colorido, e ao mesmo tempo não. Era como se todo o lixo do mundo fosse recolhido, lavado, e depois colocado ali, organizadamente. Eu não fazia a mínima idéia de como havia parado ali, só sei que tudo me era estranhamente familiar.
- Vamos lá, cara! – disse um outro pingüim, de um verde mais escuro. – Levante-se e venha consertar a sua sujeira! – e me deu uma bofetada.
Aquilo só podia ser um sonho. Engraçado, pois há meses eu não conseguia sonhar com nada. Sempre fora bom em sonhar com coisas estranhas... mas por um bom tempo o lado do meu cérebro que cuidava desse setor parecia estar de férias. Pelo visto, voltou com força total. O jeito era fazer o “jogo” deles, até acordar.
- Não pense que será assim tão fácil! – me disse o primeiro pingüim, como se lesse meus pensamentos.
- O que foi que disse?
- É isso aí, cara! Dessa vez a coisa é diferente. Sou o prefeito dessa joça aqui e não vou mais deixar que vocês continuem fazendo isso. Durante muito tempo, vocês apareceram aqui, fizeram suas “gracinhas”... e depois desapareciam do nada! Mas pelo visto alguém lá em cima nos escutou, e trouxe pelo menos um de volta. Agora você vai consertar tudo! A sua m**** e a dos outros! Ah, se vai!
- Do que diabos você está falando?
- Vamos refrescar sua memória.
Fui levado por diversos e compridos corredores. Quanto mais andava, mais desconfiava de que já havia estado ali antes. Mas como? Isso só seria possível se houvesse sido um sonho, e sonhos não se repetem. Repetem?
- Isso não é nenhum sonho, amigo. – disse o prefeito, sempre com aquele olhar irônico e satisfeitíssimo com algo. Ele já estava me irritando com aquilo.
- Claro que não é sonho! – respondi. – Um bando de pingüins verdes falantes me seqüestram e me trazem para um lugar esquisito desses, e não é sonho. Tudo bem! – agora eu estava sendo irônico.
- Okey! Então aproveite bem o seu sonho!
Dois pingüins abriram uma porta enorme. Naquele momento, consegui me lembrar de tudo. Sim, eu já havia estado ali antes. Nunca pensei que fosse possível, mas estava tendo um sonho repetido. Como se fosse uma espécie de continuação da última vez em que eu...
- Esteve aqui e acabou com centenas de famílias! – disse o prefeito, dessa vez zangado.
- E-eu... eu estava me defendendo! – respondi. - Vocês me atacaram sem motivo algum!
- Nós não te machucamos, humano! Você que se sentiu ameaçado e saiu matando um por um, como se fosse um maldito jogo de vídeo-game! Não precisava disso! Estávamos apavorados e só íamos te expulsar daqui. Ninguém pretendia te machucar!
- Ah, é? E aquele pingüim que me atacou por trás...
- Aquilo foi um incidente. Mas repito: você não precisava matar ninguém! Aqueles pingüins tinham família!
- E o que você quer que eu faça?
- Quero que conserte as coisas! Você está vendo aqui um refúgio daquelas famílias, onde fêmeas ficaram viúvas e filhotes ficaram órfãos. Construímos esse lugar para dar tratamento especial a eles, desde que você e sua raça começaram a invadir nossa terra e nos prejudicar. Agora que você voltou, vai compensar tudo.
- Como??
- Eu não sei! Apenas ajude-os! Você deve isso a eles!!
Eu deveria estar preocupado, mas não estava. Apenas um pouco impaciente para acordar logo na minha cama.
- Hahahahahaha!! – riu o prefeito. – Dessa vez não vai ser assim!
E não foi mesmo. De certa forma, aquele sonho foi mais demorado do que o normal. Fiquei preso ali durante meses, e me vi obrigado a ajudar aquelas famílias de alguma forma. Seja lá o que tivesse acontecido comigo, estava pagando uma dívida de um sonho anterior, e pelo visto não escaparia até que conseguisse quitar tudo.
No começo foi meio difícil. Muitas famílias de pingüins verdes ainda guardavam certo rancor, e por muitas vezes fui até agredido. Senti vontade de matar no começo, mas não queria contrair mais dívidas. Com o tempo eles foram me conhecendo melhor, e tive a oportunidade de me redimir. Eram muito fracos, então pude ser muito útil no serviço pesado e fiz até alguns reparos em suas casas. Durante muitas noites, lhes ensinei várias coisas como engenharia e arquitetura. Não sabia o que ensinar, então resolvi passar o que eu já sabia e fazia no mundo real.
“Mundo real”... depois de tudo aquilo, será que meu mundo era o real?
- Muito bem, creio que sua parte está feita! – me disse o prefeito, depois de pouco mais de um ano.
- O que vai acontecer agora? – perguntei. – Vou acordar?
- Não sei como chamam isso no seu mundo, humano. Mas aqui chamamos de “desaparecimento”. Só que dessa vez, você vai desaparecer sem nenhuma dívida. Boa sorte!
No mesmo instante, acordei em minha cama. Olhei no calendário, e era apenas o dia seguinte. Era como se meses e meses tivessem acontecido em uma só noite. Então... nada havia sido real?
Duvido. Aquilo havia sido real. E muito.
Passei o dia pensando sobre minha estadia no mundo dos pingüins verdes. Contei à minha mulher, e ela simplesmente riu, como se fosse um sonho bobo. Como e porquê aquilo havia acontecido comigo? Será que os sonhos na verdade são reais? Quando sonhamos, estamos em outro mundo? Quando acordamos, desaparecemos do outro mundo, deixando os habitantes de lá confusos?
Mas estava tudo acabado, felizmente. À noite, fui pra cama, consciente de que teria mais um sonho tranqüilo, ou simplesmente conseguiria não sonhar com nada, como havia sido algumas (algumas???) noites atrás...
- Olá, amigo!
- Hein? – perguntei.
- Lembra de mim?
- Como? – estava confuso novamente. Quem era aquele cara? Seria outro sonho?
- Eu sou o dono desse armazém. Você explodiu ele da última vez, lembra? Explodiu, saiu voando e desapareceu. Fico feliz que tenha voltado. – e sorriu ironicamente...
3 comentários:
Ahahahahahah! E eu JURAVA que você iria terminar o texto com um pinguin vermelho!
Muito bom Cirão!
Não sonsegui desgrudar os olhos da tela do começo ao fim do texto!
Parabéns!
Abraaaaççço!
Ei Ciro! Que loucura, heim! Adorei o texto, mas agora eu é que fiquei na dúvida de qual mundo será o real ou não kkk. Parabéns!
Postar um comentário