Por Bruno C. O. Carvalho
Hoje João vive na tranqüilidade de um cortiço em São Paulo. À noite, ouve uma quase infinita variedade de sons e ritmos, que vão desde o funk até o tiroteio de traficantes. Ele aprecia a variedade de elementos que só a pobreza pode lhe oferecer.
Não tem nenhum veículo motorizado. Vai a pé ao trabalho, exercitando a paciência na curta caminhada de quatro quilômetros até o açougue onde trabalha. Não fuma, pois não tem dinheiro para frescura de cigarros. Não bebe, pelo mesmo motivo. Ele agradece por trabalhar em um lugar onde tem de fartura o que ele tem em falta em sua casa: “Carne”.
Lá João é empregado, e dá graças a Deus por todos os dias poder lavar a privada do banheiro, cortar a carne para os clientes, e ainda receber um salário mínimo por isso. Hoje, neste momento, João é feliz... mas ele já foi triste.
João já foi um grande empresário, morou em uma casa muito grande (dessas que a gente tem que se preocupar com piscina, sauna, empregada, jardins, etc). Tinha uma mulher bonita, e enquanto a fortuna assim o quisesse, ela seria também boa de coração. Nesta época, João acumulou muito dinheiro. Seus sonhos financeiros foram realizados em pouquíssimo tempo, o que o deixou bastante chateado.
O mês estava prestes a terminar, e ele ainda tinha muito, mas muito dinheiro. Tanto que chateava os amigos roubando-lhes as contas e pagando-as no outro dia. Implorava seus parentes para que dessem seus respectivos números de conta bancária, para que ele pudesse depositar algum dinheiro. Pedia, pelo amor do bom Deus, que aceitassem pelo menos uma “pensãozinha” de Dez mil reais por mês. Os amigos e parentes, a contragosto aceitavam aquilo. Os mais chegados davam conselhos mais enfáticos, do tipo: - Sai com esse dinheiro pra lá, cara! Eu não quero essa merda não!
Eles estavam certos! Que ser humano em sã consciência aceitaria uma coisa dessas calado!
Uma luta diária, um sofrimento que persistia em sua rica e desprezível vida, rodeada de novidades, conforto e viagens intermináveis. Para piorar a situação, artistas nacionais e internacionais roubavam seu tempo, proferindo seu bom nome em shows, canções, filmes e telenovelas. Como nenhuma fortuna vem só, o prestígio, neste momento já acompanhava o sucesso. Eram momentos de crises de riso quase intermináveis devido ao excesso do bom vinho, e dos luxos obtidos a cada momento.
João sofria. Declarava que já não agüentava mais trabalhar tão pouco e ganhar tanto dinheiro. Ele queria era sentir o que era fome, claro, não passar fome, e sim, sentir aquela fomezinha de vez em quando, assim como sentimos ao passar por uma lanchonete. Queria pagar aluguel, viver de pouco, trabalhar e não ser reconhecido, ser enganado pelos bancos, etc. Sabe, essas coisas que faz com que o ser humano viva melhor e mais saudável.
Mas vocês sabem, dinheiro é algo complicado. Quando menos se quer, mais se tem. E foi justamente nisso que ele se inspirou:
Passou a trabalhar, assim como muitos brasileiros o fazem. Trabalhou tanto, mas tanto, que não tinha mais tempo para ganhar dinheiro. Fez amizade com políticos corruptos e banqueiros, que se prontificaram generosamente a ficar com seu dinheiro. Finalmente as tempestades (de vinho Romanée-Conti) estavam por cessar. João não titubeou para se tornar pobre. Fez de tudo para tal. Tanto fez que prosperou.
É tão bom exercitar o poder de persuasão, tendo que vender o almoço para comprar a janta, ficar em filas para ser atendido, não ter direito a praticamente nada nessa vida! Ver que a casa onde mora precisa urgentemente de reforma, mas reformar o quê! Não tem dinheiro!
João, sempre que pode dá conselhos. Não aceita dar palestras, pois tem medo dos altos cachês pagos por grandes empresas. Ficar rico, nunca mais! Aqui vão alguns conceitos primordiais para evitar ser rico:
Trabalhe muito;
Seja honesto com as pessoas;
Não seja egoísta;
Procure trabalhar com algo que envolva cultura;
E, por fim, evite ter alguma forma de poder! (política, por exemplo).
Caso o leitor esteja lendo este texto no trabalho ou em casa, parabéns! Está no caminho certo!
5 comentários:
xiii amor então eu to no caminho certinho kkkk
Muito bom Texto amor
bjkas amo vc.
by: Vanessa Melo
Que peleja, hein??? Hahahahahhaha!!! Dá gosto vir aqui na terça-feira e ver seus textos, filhão.
Jurava que achei que a história ia terminar diferente. Não sei como, mas diferente, heheheheh!!!
Creio que também estou no caminho certo (será?)
Das ist wunderschönen! Nem tenho palavras, que exemplo de texto!!! Gostaria de saber o que o Pecheaux e o Bakhtin diriam sobre o discurso.
Até agora não consegui me desviar do caminho, a luta continua!
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