Por Giovanni Oliveira
Não é novidade pra ninguém, ou quase ninguém, que estamos na era das novas tecnologias, e, portanto, sujeitos às delícias que essas tecnologias podem nos dar. E se na noite podem surgir fadas e bruxas, também o podem surgir na vida que levamos na internet. A web é uma maravilha, fantástico conseguirmos encontrar amigos de toda parte, alguns que inclusive seria quase impossível revê-los devido à distância que nos separa. Eu, por exemplo, tenho dois amigos que moram em Portugal, e sinceramente não sei se os veria se não fosse a internet. Essa é uma das boas razões para sustentar uma conexão banda larga em casa. Mas a web também esconde algo estranho, pra não outro termo, e parece que quando o assunto é relacionamento, a coisa se complica. Sei que há uma infinidade de problemas decorrentes do mau uso da internet, mas nem é meu objetivo escrever sobre isso agora.
Hoje quero escrever especificamente sobre as salas de bate-papo da web, que possuem a função social de levar as pessoas a se relacionarem, mas podemos ver que elas se tornaram, na maioria das vezes, uma espécie de feira gratuita. Explico melhor. Uma feira é um lugar onde temos muitas opções de frutas, verduras, roupas, e muitas outras coisas. Em uma feira eu escolho o abacaxi que quero, o chuchu que me agrada e aquilo que não se enquadra exatamente nos meus padrões do que é um chuchu perfeito, ou um abacaxi perfeito, eu simplesmente não ponho na sacola. E se acontece de escolher alguma coisa por engano, é só jogar fora quando chega em casa. Pois bem, os chats da web se transformaram em algo parecido. Dia desses fiz uma experiência. Primeiro escolhi uma sala dentro da cidade onde moro, inventei um apelido entrei na primeira das oito salas disponíveis de Uberaba. Assim que entrei, perguntei com toda educação: “boa tarde, alguém gostaria de conversar?”. A primeira pessoa que respondeu minha pergunta foi alguém com o nome de Gatão HxH, com a frase “oi, o que procura?”. Então respondi que procurava amizade, ao que o cara respondeu perguntando a minha idade. Respondi “33 anos, e você?”, e fiquei aguardando a resposta dele, mas ela não veio. Diante disso, cheguei à conclusão de que ele, o Gatão HxH não procurava alguém pra iniciar uma amizade, e sim alguém com quem transar naquele dia.
Na verdade, só pelo apelido já é possível fazer inferências, porque uma pessoa que esteja interessada apenas em amizade não entra em um chat com esse tipo de apelido. Muitos, inclusive, chegam a dizer que só querem curtir um sexo naquele exato momento. Então a gente vê, por exemplo, internautas identificados como “flex procura namorado”, “Grande e Grosso”, “negradesacramento”, “Coroa discreto”, e por aí a lista vai só aumentando.
Quando a conversa no bate-papo desperta algum interesse em ambos internautas, o primeiro passo é cada um adicionar o outro no msn e seguir o diálogo mais tranquilamente. E nesta feira “chateana”, a foto que é colocada no perfil pode se tornar determinante de todo o futuro daquela relação, pois assim que um vê a foto do outro, quase sempre um exclui o outro, simplesmente porque não foi com a cara, ou porque simplesmente não encontrou o deus grego que esperava. Esse é o lado “feiresco” da web, porque o “produto” é escolhido pela foto e a descrição. Muito poucas pessoas marcam um encontro ao vivo e a cores para conhecer a pessoa de perto, senti-la, ouvi-la, perceber suas intenções, conhecer sua experiência, em outras palavras, começar um relacionamento, seja amoroso ou de amizade.
Acho muito estranho esse tipo de comportamento, porque é tão bom conhecer pessoas, fazer amizade com elas, trocar experiências, e tantas outras coisas! Mas a web, nesse caso, parece, sim, uma grande feira, onde cada um escolhe e joga fora o não o que poderia ser uma grande amizade, e sim o que pode apenas lhe satisfazer os instintos sexuais daquele dia.
Um comentário:
Postar um comentário