domingo, 3 de abril de 2011

Os três - parte 1




         O primeiro que chegou era como uma explosão dupla, com seus dotes de rei e aconchegante como verde solar. Este primeiro momento crucial na sobrevivência do dia-a-dia é que faz aqueles que amam dançarem sem desconfianças perenes, sem nenhum motivo para ter vida, porque um pedaço de suas vidas já se foi, como quem perde uma parte de tudo. O primeiro chegou trazendo consigo uma música que tinha algo de céu e algo de trevas. Liberdade sem fantasia e prisão sem motivo. Algo como madrugada fria e rua em noite de chuva.
         Chegou trazendo a vida que lavra o espaço da selva e ergue as mais antigas árvores onde não há céu de estrelas. Sonhou-me com uma voracidade tão maravilhosa que nem eu mesmo acordei-me do sonho. Era um misto de paz e pavor, garantia de felicidade mórbida. Mas aconteceu. E nos músculos que haviam em seu corpo pude perceber a sutileza da relva que corria dentro de todas as florestas, com cheiro de mato e saúde solar. O primeiro que chegou veio no meio de uma tempestade. Esse foi o primeiro beijo, o primeiro sonho e o primeiro tudo.

Um comentário:

Sessyllya ayllysseS disse...
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