sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Diário de Ciro – Página 1.509 – A ‘chinela’ cantora

Da auto-biografia não autorizada de Ciro M. Costa




Depois que comecei a morar sozinho, percebi (depois de um certo tempo) que se não comprasse ou fizesse minha própria comida, passaria fome. Engraçado que antigamente não tinha que fazer isso, e a comida simplesmente aparecia na mesa! E, pasmem: pronta, com pratos e garfos!! É ou não é algo incrível? Pois é. Mas agora as coisas eram diferentes. Agora, se não tomo providência, apanho da vida.
Interessante como algumas palavras nos remetem certas imagens. A palavra APANHAR por exemplo, me lembra uma mulher zangada gritando e me dando chineladas a torto e a direito. Bons tempos aqueles, em que só apanhava de minha mãe (jamais pensei que fosse dizer isso)! Como diziam, a “chinela cantava bonito”! Hits como “por favor!”, “não fui eu!”, “socorro, ai, ai, ai!” e “prometo que não faço mais isso!” faziam parte do repertório de sucessos da tal chinela cantante.
E a coisa não era só comigo. César e Caio (meus irmãos mais novos) também adoravam entrar nessa dança. Revezávamos sempre: em um dia, apanhava Ciro. No outro, apanhavam Caio e César. No outro, Ciro e César. No outro, só Caio. No outro, Ciro e Caio... e assim por diante. Éramos bastante organizados.
Mas teve um dia em especial, há muito tempo atrás, em que apanhamos OS TRÊS. Sinceramente, não me lembro o que aprontamos, mas deve ter sido algo MUITO grave! Os três apanharem no mesmo dia, pelo mesmo motivo? Por Deus, espero que não tenhamos matado alguém! Não me lembro mesmo! Em minha mente a coisa começa com nós 3 correndo para o quintal. De repente sai da casa minha mãe e, vendo que não conseguiria nos alcançar e boa estrategista que era, gritou:
- Podem ficar aí! Uma hora vocês vão ter que entrar pra dentro! – (mães adoram redundâncias como “entra pra dentro!”, “sai pra fora” ou “vai apanhar pra doer!”.
Pois é, caros leitores. Assim começou um dos dias mais longos de minha vida. Passamos o dia inteiro do lado de fora, passando fome, sede e vontade de fazer necessidades... tudo para não ter que apanhar. Aqueles três irmãos amigos inimigos e fighteadores entre si, agora estavam unidos por uma única causa. E a dúvida cruel era: quem entraria primeiro, e quando?
Nem adiantava pensar que a mãe mudaria de idéia, ou que algum arrependimento surgisse de repente. A idéia de que só ficar do lado de fora esperando já era um castigo, então... esta já era descartada de cara. Afinal de contas, era preciso cumprir o prometido. E pobre de meus irmãos! Tive pena deles! Eu já estava acostumado com tais surras (pois sou o mais velho), mas e eles? Como ficaria o seu psicológico? Tive vontade de ir à frente e pedir para apanhar pelos dois.
Está bem! É mentira! Se um apanhasse, era justo que os outros dois também entrassem na dança! E ali ficamos do lado de fora, tentando decidir quando o pesadelo acabaria. Volta e meia minha mãe saía da casa, e já estávamos longe.
- Podem correr à vontade. Já disse que é inevitável!
Não desejo tal pressão psicológica nem pro meu pior inimigo. Estávamos tão abalados com aquilo, que ficamos bonzinhos uns com os outros, sempre com gentilezas, talvez pensando que aquilo amenizasse a situação.
Mas depois de 67 horas de sofrimento, o dia estava finalmente chegando ao fim. O sol começava a se pôr no horizonte, livre e de consciência tranqüila para ir onde quisesse, sem se preocupar em levar chineladas... enquanto estávamos lá, os três, tentando ainda decidir.
- Não adianta! Vamos acabar logo com isso!
- Então vai na frente!
- Já sei, vamos entrar os três juntos, assim ela fica indecisa!
- Não! Vamos entrar em grupos de dois.
- Mas se um grupo entrar de dois, sobra só um grupo de um!
- Então vamos um de cada vez.
- Não! Vamos tirar na sorte!
- Ah, quer saber? Eu vou acabar logo com isso!
E lá foi o mais corajoso dos três, Caio, o caçula. Na época o mais franzino, pensei que não iria sobreviver. Mas ele conseguiu. Confesso que não lembro se fiquei admirado ou com dó, quando ele entrou humildemente na sala (minha mãe deveria estar assistindo “A Gata Comeu”) e disse: “estou aqui!”.
Eu e César observamos por uma janela qualquer, mas sem ver nada. Só ouvimos que a coisa começou com vários “PLAFTS”, depois passou para os “AI, AI, AI”, e, por fim, acabou no choro. César que parecia estar concentrado em algo, de repente olhou para mim com os olhos aterrorizados, e disse:
- O Caio levou catorze chineladas!
Éééé... catorze! Ele contou, podem acreditar! Se ele pensou que todos levariam a mesma quantidade, ou se queria fazer uma média de chineladas dividida entre os três, ou se adorava matemática... não faço a mínima idéia! Aquilo não me interessava! Só temia que minha hora estava chegando!
E quando o dia finalmente estava sob penumbra, César decidiu ir também.
- Fazer o quê? – ele disse. – Não tem outro jeito!
Corajoso em segundo lugar. Não é a toa que é o ‘do meio’. Então ele entrou e pensei que fosse a última vez que o veria. Do lado de fora, também pude ouvi-lo se entregar:
- Mãe, estou aqui.
E mais “PLAFTS”, “AI, AI, AI” foram ouvidos. Mas César, bravo que era, não chorou. Simplesmente saiu da casa para me dizer:
- Levei sete!
Foi aí que comecei a me interessar pelos números. Pela lógica, se Caio levou 14 chineladas e César somente 7, então eu, com certeza, levaria somente uma! Não é assim que deveria funcionar?
Bom, devo dizer que mesmo assim, não queria me entregar. Fossem 1 ou 1000 chineladas, a coisa ia doer, pois minha mãe não era das que andavam com pantufas. A “chinela” era de uma borracha diferente... um material raríssimo que fazia barulho, esquentava e deixava marcas na pele.
É importante dizer que demorei mais que os outros, resisti bravamente até limite... mas também sucumbi. A mulher tinha razão, não havia escapatória. Era preciso entrar e fazer com que a vida continuasse, doe a quem doer. Entrei pela cozinha já escura, apareci na porta e, como um último soldado em terreno inimigo, me entreguei.
Segundo César, levei 3 chineladas.
Moral da história: Mães são mulheres muito fortes, violentas, cumprem o que falam. Mas são péssimas em Português e Matemática.

8 comentários:

Rubens Salomão disse...

Esse diário rende, não é? Se isso foi verídico, foi bem hilário. rs

Salomão disse...

cococorajosa ennnnnn!

Giovanni disse...

Ciro, Ciro...

Maravilha de texto. No meu tempo as mães falavam que iam bater na gente com uma tal chinela de "arnica" pra meter medo.

Sessyllya ayllysseS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
César disse...

exagerou nas horas em que ficamos esperando. Pareciam 67 horas, mas acho que foram umas 05, talvez as mais longas de nossas vidas.
hilário, muito engraçado. parabéns. só esqueceu de falar da gloriosa goiabeira que foi testemunha de nossas 05 horas de sofrimento.

caio costa disse...

67 horas realmente vc exagerou. Ja no nº de chineladas tb acho que nao foi tao discrepante assim...porem o resto é muito verdade e engraçado!!! uahuehauehae

Carlos Filho disse...

Hahahahahahahahahaha... Ciro, a forma como vc passa o ocorrido para a escrita, dá um certo realce... Ou sei lá... Mas, muito bom o texto!

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