quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Pedido de Perdão!

(Por Fernandha Zechinatto)

Acordei assim, com vontade de pedir perdão. Não por aquele vestido que eu, muito descuidada, encostei na mão de um fumante. Sabe que isso aumentou a raiva que tenho por aquele objeto fálico roliço que me deixava toda fedorenta cada vez que eu insistia em freqüentar ambientes fechados, sejam bares, boates, festas, não tinha como voltar para casa com aquele delicioso aroma de Dolce & Gabana.

Os objetos não são difíceis de se repor ou recuperar já nossos sentimentos... Então, desculpe-me por seu vestido, mas o que eu preciso dizer é que me perdoa pelos sentimentos, pensamentos, desajustes, emoções, conceitos e preconceitos que fui alimentando em minha mente.

Nossa, não sabia que eu poderia criar tantas estórias, histórias, com tramas de dar inveja a muitos novelistas. Primeiro na infância articulei uma estória onde sempre precisava ser boazinha, obediente, agradando a todos para que pudesse ser aceita ilimitadamente. Doce engano!!! Foi aí que comecei o meu declínio, a minha derrocada. Na adolescência o meu plano infalível já não funcionava, você tinha que ser o melhor, ser “doido”, ter algum atrativo, menos ser CDF, para fazer parte da “galera”. E eu cresci, agora só os bons, os melhores, que se dão bem. Mas quando digo isso incluo ser bom em tudo, mas tudo mesmo. Como é difícil ser bom em tudo, mas ainda assim queria chegar lá. E não cheguei, e é por isso que hoje estou aqui pedindo perdão. Perdoa-me.

Não pense que aqui lamento um fracasso, aqui comemoro uma vitória, porque acabo de exterminar aquela que aos poucos queria me ver destruída. Com o pretexto de que queria o meu bem foi me aliciando, e engambelando, passando a conversa mesmo, dizendo que eu não era nada, que eu precisava da suas idéias mirabolante para ser gente. E eu, ingênua, com medo, e sem estima alguma por mim mesma, acreditei nesse papo furado.

Eu sou a alma de um indivíduo prestes a se entregar por completo às armadilhas da mente e assim ser mais um derrotado que não acredita em si mesmo, nem em mim. Não sou científica, por isso desperto a ira de muitos desafetos, que mesmo não acreditando em minha existência, em algum momento precisaram de mim também para não deixar que suas mentes repletas de conhecimentos, informações, padrões falidos e por falir, também o dominassem. No entanto, meus triunfos são raros, como esse de hoje, que consegue destruir por completo uma mente falida e alcancei a iluminação, como Buda pregava. Pasmem, mesmo sendo alma, não acreditava que um dia pudesse triunfar sobre a mente e deixar que todo o caos mundano fosse apenas uma luz imensa que mal algum me causaria.

Um brinde ao triunfo da alma sobre a mente, do simples sobre o complexo, do nada sobre o tudo!
Perdão mente amiga, mas tinha que te destruir para ser eu mesma sem me preocupar com seus conceitos toscos a respeito de felicidade, amor e prosperidade! Assinado: Sua Alma!

5 comentários:

Ciro disse...

O loko! Muito bom, Fernandha! Profundo até!
Estou gostando desse blog, viu? Todo mundo aqui é bom mesmo (o piorzinho sou eu)! Dá até pra gente publicar um livro em breve!

Grande abraço!

Rosana Agreli Melo disse...

Tô falando... vamos fundar um novo movimento literário! Perfeito, Fernandha! Em belas palavras foi expressa a eterna dicotomia da mente e da alma.Beijo.

Flavio Carvalho disse...

O simples sobre o complexo,
nada mais
que tudo isso!
(retirado do texto da Rosana, mas caiu como uma luva, rs)

Bruno Carvalho disse...

O mais impressionante de ler esse seu texto foi perceber as fases dos pensamentos. O de bonzinho na infância e o de ser doido na adolescência. Me identifiquei muito com isso.
Valeu Fernadha!

Sessyllya ayllysseS disse...

Representamos tantos papéis e nos tornamos tão profissionais neles, que fica até difícil descobrir quem é o ator, ou seja, quem somos de verdade. Texto muito bom! Parabéns!