Um salto brusco, um rápido despertar

Guilhermino estava esperando o sinal para ir embora, o supermercado já havia esvaziado porém o gerente sempre dava o sinal verde para debandar.
_Já podem ir, disse o Adeir, o gerente, ainda com os olhos na prancheta.
As pessoas todas saíram, ele tirou a chave do bolso, assinou a folha na prancheta e foi se dirigindo para a porta para fechá-la e ir embora quando notou um ligeiro vulto perto da sessão de enlatados, virou-se assustado, Guilhermino continuava parado olhando para ele.
_Pode ir meu filho, já vou fechar já.
_Estranha essa expressão "meu filho" demonstra uma perspectiva diferente, falou Guilhermino pegando uma lata de milho em conserva.
_Que que isso!! Vamo, vamo, se você quiser alguma coisa pede amanhã, hoje já era.
_O assalto do acaso não espera hora marcada, Guilhermino dizia chegando perto, e jogando a lata para cima e apanhando de volta, oportunidades não esperam um espaço na agenda meu caro.
_Do que que cê ta falando?
_Na hora do acerto de contas, não existe espaço para os afazeres diários, a virtude não dá espaço para a conveniência, já assistiu aquele filme, eu, pessoalmente achei fantástico, mas... voltando ao seu caso...
Guilhermino atirou a lata em direção a Adeir que foi atingido na região abaixo do nariz, caindo logo em seguida.
_AAAaghh, que que isso!? Murmurou Adeir caído no chão.
_Aiaiai, sempre sem entender nada, na hora que a coisa aperta parece que a ignorância fica mais aguçada não é? Guilhermino ao dizer isso derrubou uma pilha de latas em cima dele.
_Ahhhhh!
Sempre que as conseqüências aparecem, tudo fica confuso não é? Não dá pra entender. Guilhermino chutou de leve algumas latas abrindo espaço para se agachar próximo ao rosto de Adeir, este levantou as mãos para proteger o rosto ensangüentado.
_Shhh, ei , ei, pshh, seja homem, encare as conseqüências... meu filho, perspectivas mudam.
_Não, nãão.
_Shhhh, Guilhermino pegou a fita adesiva que estava no bolso de Adeir e enrolou juntando seus dois pés, segurou por entre os dois e começou a caminhar o arrastando.
_O que que cê vai fazer? Pra onde cê ta me levando?
_Pro depósito, antes que o guarda noturno chegue e escute você chorar, ele já está de idade e é melhor poupá-lo de certas emoções não é?
_Como assim chorar? Não estou chorando!
_Mas vai começar daqui a pouco, ninguém gosta de ficar sem pinto.
_O quê!? AAAaHhhh, socorroooo, socorrooooo, Adeir saculeja tanto, que chega a levantar do chão.
_ÔÔ, pshhhh, ÔÔ, calma, calma, só uma piadinha pra descontrair.
_Nãooo, ahhhhhh! Adeir começa a chorar com a mão no rosto.
_Viu só, até que foi rápido.

_Por favor...

_ Adeir, Adeir, tão poderoso no dia a dia, atrás desse seu cargo de gerente, mas agora tão vulnerável, sabe eu cheguei na hora certa, amanhã de manhã você vai estar bem melhor.
Guilhermino, apanha um gancho no açougue, prende na fita enrolada nos pés de Adeir, abre a porta do depósito e prende o gancho na base do elevador de carga.
_Vou pegar a chave emprestado, tá.
_Deixa eu ir embora por favor...
_Relaxe, respire, vou só fechar o supermercado, e recolher aquelas latas, pra que o vigia não atrapalhe nossa conversa, respire fundo, é o melhor remédio contra o ataque de ansiedade, logo estarei voltando.
Guilhermino, ligou o elevador que passou a subir arrastando Adeir até que este ficou de cabeça pra baixo subindo.
_AAAAAHHHHHH, nãoaoaoao, socooorooooooo, AAAAAAHHHHHHH, AAAHHHHHHH.
_Aiai, porque ninguém ouve bons conselhos nessas horas.

Guilhermino pára o elevador e fecha as portas deixando os gritos de Adeir abafados por detrás da porta.