Ruas, caminhos, trilhos... Tudo isso nos leva a algum lugar em nossas vidas.
Caminhei por trilhos, pequenos, simples, ladeados por relva e cheios de pedras no percurso. E, ainda, por trilhos pequeninos, que provavelmente não me levariam muito longe. Mas ainda assim caminhei... orgulhoso, altivo, convicto do destino ao qual pretendi chegar. Fui calcado em dois pés, às vezes fortes, às vezes fracos, mas que nunca se cansaram durante a trajetória. Um dia eu cansei e percebi que trilhos eram pouco para mim e quis coisas maiores... Pássaros maiores pedem por vôos mais altos. E com os pés no chão procurei por caminhos mais largos e mais longos.
Os caminhos, no entanto, não eram muito diferentes daqueles trilhos. Percebi que, embora fossem maiores, os desafios ainda não eram suficientes frente à minha ambição e frente à força que eu julgava possuir. Decide-me por buscar as ruas urbanas, ágeis, repletas de outros seres em toda a sua extensão. Não sabia o que estaria à minha espera, pois acostumara-me a andar sozinho, fazendo os meus próprios trilhos, os meus próprios caminhos. Independente e absoluto em certeza.
Ao iniciar a caminhada rumo aos novos horizontes, vi as ruas próximas, juntas, largas, sábias e às vezes insanas... Além disso, ainda havia milhares e milhares de encruzilhadas; histórias, tragédias e sonhos que se embaraçavam em um mesmo nó. Os pavimentos destas ruas eram negros, compostos pelas sombras de cada um que algum dia trafegou ou que ainda trafega por estes fantásticos, mas não menos perigosos, caminhos urbanos; tão lúdicos e ao mesmo tempo tão severos; tão cheio de almas e tão vazios em calor. As ruas – em suas substâncias - são grandes palcos, onde são apresentados diferentes espetáculos: crianças brincam com suas bolas; pessoas são atropeladas, são assaltadas; pessoas morrem o tempo todo.
Enquanto caminhava pensava na infinidade das ruas, pois elas levam e trazem vidas a todo o momento. Brincam, inadvertidamente com as nossas verdades, com as nossas vistas, com as nossas esperanças. Por elas, sem perceber, percorremos espaços longos e espaços breves. E mesmo quando parados, vivemos na rua a intensidade de uma vida inteira.
Ah! As ruas! Tão vastas! Tão plenas! Tão cheias e paradoxalmente tão vazias. Minhas ruas. Quais foram as ruas por que trilhei por todos estes anos? São minhas ruas? Não, eu não as possuo. Ando e corro por ruas que ainda não me pertencem, ruas alheias, impregnadas de histórias de outrem. Se esta rua fosse minha mandava simplesmente que permanecesse rua, para que outros pudessem viver suas vidas e suas histórias sobre ela.
Ruelas, ruas, avenidas, rodovias... Todas possuem o fantástico mistério de permanecerem no mesmo lugar; e, assim como o rio não é o mesmo na segunda travessia, as ruas também não são as mesmas. Elas levam-nos onde queremos e, às vezes, conduzem-nos erroneamente. Elas não são culpadas, apenas cumprem as suas funções. Nós é que devemos saber qual a direção iremos tomar e, assim, cumprir o nosso destino de "caminheiros".
2 comentários:
Belíssimo texto, Rê!
O único caminho está dentro de nós mesmos... Nosso caminhar é apenas reflexo disso... Assim como nossa única e verdadeira companhia somos nós mesmos e os outros não existem se não existimos em nós... Qualquer tentativa de busca externa é uma ilusão, porque tudo de que precisamos está no fundo do nosso próprio eu...
Estranho... e infinitamente lindo! Parabéns!!!
Os caminhos estão lá, fazendo o papel deles, mas nóis é que escolhemos!
Boa Régis! Um convite à reflexão (no bom sentido, se é que você me entende)
Grande abraço!
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