quarta-feira, 2 de maio de 2007

Sinceridades

Queria juntar em um único enunciado tudo aquilo que um dia quis dizer e não disse. Tudo o que ficou engasgado em minha garganta e que se desfez com o passar do tempo. Mas nunca ficou esquecido. Memórias presas às minhas memórias. Meu sonho, em âmbitos gerais é, hoje, desdizer a maioria das coisas que um dia eu disse; porque não foram falas sinceras, saídas de uma boca que um dia jurou somente proferir a verdade.

Ah, mas como queria poder olhar em seus olhos e dizer o que realmente penso de você. Todas as sacanagens que acho que cometeu e todos os crimes praticados com as suas doces - porém vis - mãos. Queria dizer em altos brados que não me importo contigo. Seus sonhos são meros nadas, insignificantes... Incapazes de construir um ser melhor.

Engraçado como desejo dizer com a boca bem cheia que esta roupa ficou horrorosa em você. Que o seu corte de cabelo foi o pior em anos e, sim, você beija muito mal. Detesto a sua família. Não gosto de cães... Quando me chama de “amor” tenho vontade de vomitar... Não, nunca gostei de você. E por horas, dias a fio, derramaria o meu veneno...

Estas são as verdades que eu expressaria se me houvessem dado oportunidades. Pronunciá-las-ia se tivesse a certeza de que os surdos me ouviriam e se colocariam a meu serviço. Tudo eu faria se uma única oportunidade me houvessem dado... Mas algo em mim pesa: é a minha mente... Sempre em constante balanço... Para frente, para trás... Para frente, para trás... Em sinal de concórdia. Em sinal de servidão, em sinal de serviço... O mais amargo e triste dos serviços.

Sinto queimar em mim a vontade de ver a verdade vertendo vertiginosamente dos meus lábios, como se fossem chamas ardentes ou punhais de aço que provocam chagas profundas e inomináveis. Como se eu fosse, assim como sou, o símbolo das verdades absolutas...

E assim vagueio, e assim “vassagueio”, com a plena certeza das verdades em mim... Mas descubro o porquê de não as pronunciar, ao menos não em todo momento... As verdades, assim como a luz, refletem no espelho e acabam se voltando contra nós.

4 comentários:

Felipe Carvalho disse...

Reginaldo,
gostei da sincerdidade no texto! Aliás, sinceridades são sempre bem-vindas (ou quase sempre) :D

...vontade de ver a verdade vertendo vertiginosamente dos meus lábios... Bela musicalidade!

Deixo duas frases para reflexão que têm tudo a ver com o que escreveste:

"O segredo de aborrecer é dizer tudo."
(Voltaire)

"O favor gera amigos; a verdade, ódio."
(Terêncio)


Parabéns pelas "vassaguices"!
Abraços

:D

Ciro disse...

Vc é mau mesmo, hein cara? Heheheheh!! As frases que o Felipe citou caem como luvas nesse texto realmente.
De vez em quando dá vontade mesmo de vassaguear um pouco... mas quem tem coragem hoje em dia? O jacaré do Lago James? Hã? Acho que não.
Grande abraço!

Sessyllya ayllysseS disse...

Concordo com os meninos, mas eu também achei incrível a sinceridade no seu texto, sob um outro aspecto: muitas vezes, as verdades que queremos derramar para os OUTROS revelam apenas uma tentativa desesperada (embora talvez inconsciente) de escondermos, de nós mesmos, algumas verdades sobre nós mesmos...
Texto brilhante!!!!!

Bruno Carvalho disse...

O loco meu!!! Sem palavras Reginaldo!!

Seu texto me prendeu do início até o fim. Adorei o modo com que vc colocou as idéias!

Para mim, o seu melhor texto aqui no blog!!

Meu sincero parabéns!! Abraço!