sexta-feira, 6 de julho de 2007

A herança de Potenróber

Herdado por Ciro M. Costa

Ouça a música pra dar um clima especial na história:

Todo mundo sabia que o velho Potenróber não tinha absolutamente nada. Seu filho mais velho, Guíbisson, bem sabia disso, e imaginou que por esse motivo seus irmãos não apareceram no dia da leitura do testamento. Só ele mesmo.
- Bem, Sr Guíbisson, creio que seus irmãos não virão hoje. – disse o advogado, ajeitando seus óculos de aro bem negro. – Creio que já podemos começar.
- Hein? – perguntou Guíbisson, de jeito abobado.
- Testamento, Sr. Guíbisson! Começar, leitura! Entende?
- Ah, tá! Entendi. Massa.
- Posso começar?
- Começar o que?
- A leitura do testamento, Sr. Guíbisson!!!
- Que testamento, afinal?
- O TESTAMENTO DE SEU PAI, SR. GUÍBISSON!!!!
- Ah, é. Meu pai morreu, né? Legal.
- Humpf! Vamos lá!
- Vamos aonde?
Sem dar importância para o bisonho Guíbisson, o advogado abriu um papel, que parecia ter uma espécie de poema. Leiam-no na íntegra:


Ormezinda, Let´s go!

Vamos, vamos meus amigos!
Vamos comer pizza de frango
para jogar fora o “ossinho”
Vamos pedir um sundae
e deixar cair a cereja
(quem mandou não comer logo?)
Vamos ligar a TV no domingo de manhã
para assistir programa de pesca
Vamos catar dinheiro fácil do chão
para depois devolver

Vamos, vamos meus amigos
Vamos ao shopping
para ver os outros gastarem
Vamos à praia
e engolir a água do mar pra ver se é salgada mesmo
Vamos parar de fumar
e continuar bebendo
Vamos fazer exercício
e ler revistas em quadrinhos de frente à TV
Vamos trabalhar, fazer hora extra
e comprar um relógio novo

Vamos, vamos meus amigos
Vamos escrever coisas inúteis
como isso que acabo de escrever!
(eu fiz minha parte)


Após a leitura, o advogado entregou o papel à Guíbisson. E perguntou:
- Então, o que achou disso?
- Disso o quê?
- Do poema de seu pai que acabo de ler, Sr. Guíbisson.
- Ué!? Bacana, né?
- “Bacana”? É só o que tem a dizer?
- Hein?
- Seu pai não deixou nada! Somente dívidas e esse poema cretino! É só o que tem a dizer?
- Como assim?
Impaciente, o advogado falou um nome muito, muito feio e saiu da sala.
Guíbisson, por sua vez, guardou o papel e foi embora.

Alguns anos se passaram. Durante todo esse tempo, Guíbisson estava sempre com poema em suas mãos. Sempre. Podia estar fazendo o que fosse, e ele nunca largava aquele papel. Algumas pessoas perguntavam: “Guíbisson, o que você tem aí? Guíbisson, por que está sempre segurando esse papel? Guíbisson, o que você anda pensando?”.
E ele sempre respondia:
- Hein?
Guíbisson conseguiu arrumar emprego em um posto de gasolina. Era um bom serviço para ele, só tinha que abastecer os carros, colocar ar nos pneus e cheirar gasolina de vez em quando. Ele gostava daquele emprego. De certa forma, sentia-se realizado.
Mas o papel, este ele nunca largava.
Um belo dia, uma moça, bonita, baixinha, de cabelos curtos e óculos escuros apareceu dirigindo um belo carro para abastecer. Guíbisson foi atendê-la:
- Sim, madama?
- Olá, rapaz! – disse a moça, encarando-o atrás dos óculos escuros. – Creio que quis dizer “madame”, não?
- Como assim?
- “Madame”, ao invés de “madama”.
- É?
- Sim. Escute, quero que complete o tanque, sim?
- Sim senhora, madama. Eu...
- Hum... que papel é esse na sua mão?
- Hein?
- Esse papel aí! O que é? Essa letra me parece familiar...
- Letra de quê?
Impaciente, a mulher tomou o papel de Guíbisson. Assim que começou a ler, ela quase teve um ataque de ansiedade.
- M-minha nossa!!! Eu não acredito!!!
- Hein?
- Rapaz, onde conseguiu isso???
- Isso o que?
- Esse papel! Céus! Nunca pensei que fosse encontrá-lo! Por acaso você sabe quem eu sou?
- Eu quem?
- Eu, rapaz! Meu nome é Ormezinda!! Eu sou a garota do poema!!
- Que poema?
- Eu não posso acreditar! A única coisa que restou de meu único e verdadeiro amor! Potenróber! E é dele mesmo! Eu conheço essa letra!
- Que letra?
- Diga-me, rapaz! Quanto quer por este poema?
- Que poema?
- Vamos lá! Eu sou uma mulher muito rica! Posso pagar qualquer preço!Você pode pedir qualquer quantia que quiser, e será rico também! Vamos, diga!
- Dizer o que?
- QUANTO QUER POR ISSO!!!!
- Isso o que???
- AAAAAARGH!!!!!
Zangada, a mulher acelerou o carro e foi embora, levando o poema de Potenróber.
- O que houve, Guíbisson? – perguntou um frentista.- Parece que aquela mulher roubou o seu papelzinho de estimação! Por que? Afinal, por que ele era tão importante? Por que você estava sempre com ele?
- Hein?


Em homenagem a todos os escritores que escrevem textos sem finais decentes, encerro aqui esta pequena história. Tenham um bom fim de semana.

11 comentários:

Anônimo disse...

Ahhhhhhhh que raiva desse Guibisson!!! Cara mais passado impossível (hehehe). Difícil é parar de rir. Pior que sempre encontramos um Guibisson por ai. E sempre quando a gente está mais sem paciência.
Bem bolada essa crônica Cirão...
Um abraço...

Pietro disse...

Putz...

Cara bobo!

shuahsuauhshuahus

Imagina ele com uma garota

_ Qual o seu nome gatinho?
_ Hein?
_ Seu nome?
_ Hein?
_ Não vai falar?
_ Ahn?


saijsjaisa

Carlos Filho disse...

Hahahahahahahahhaha...]
É um fanfarrão esse ai!

Carlos Filho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Heim?

Anônimo disse...

irmããããããããão!!!!

Noé Sobrinho disse...

Que poema, não?
Por iss que anos depois foi lembrado, era queima de arquivo.
Muito divertido o texto, parabéns!

Flavio Carvalho disse...

Certo, certo!

Felipe Carvalho disse...

Hahahahahahahahahaha Também não sou o "Rei dos Finais decentes", portanto agradeço pela homenagem! hahahahahaha

"Ormezinda, Let´s go!" foi a coisa mais louca que li nessa semana ao lado do cavalo "Wellington do Tidin"! Hahahahahahaha Sinceramente, esse nome me lembrou até de algumas musiquinhas mais lúdicas que a Leila ensinava a gente a cantar em suas aulas! London's burning, Hockey Pockey, Ormezinda Let's go! e por aí vai... risos

Bravo, irmão! BRAVO!!!

Sessyllya ayllysseS disse...

Ahahahahahahahahah!!!

Crítica ferrenha (embora superengraçada), hein, cara?! Pai cretino, cínico; filho lesado, por que motivo? O reencontro das vidas dos que ficaram... E essa homenagem foi desnecessária, uma vez que esse tipo de final é simplesmente o melhor tipo.

Muito bom mesmo!!! Parabéns!!! E bjos!!!

Bruno Carvalho disse...

Cara! Não sei se estou louco, mas eu achei fantástico! Esses nomes me matam de rir!
"A herança de Potenróber!" ahahahahahahahahh!
A história te prende do início ao fim!

Que step que nada gordão, isso´é relíquia isso sim!

Balula!